CInco Sonetos
Cinco Sonetos...
...De um anjo negro (pág 82)
Que sabes desse anjo negro?
Segue teus passos, espera e guarda,
Vela teu sono e acaricia,
Nada pede, apenas servir...
Um anjo sem asas há tempo na Terra,
Em busca de afeto no teu olhar,
Que olha a esmo, voltando a cabeça,
A gente que passa, cheio de ilusão...
Um anjo estranho que escuta e cala,
Estreita nos braços teu corpo branco,
Senhor e escravo de consentimento...
Quem sabe esse anjo um dia passe,
Mas fique para sempre na memória,
Como oração nunca rezada...
...Do ódio (pág. 84)
É verdade: te odeio hoje,
Gastei todos os Sim que te reservava,
E dos beijos e abraços que negaste,
Um Não se formou como lago de chuva...
Fecho meu coração, outrora hospedeiro,
De tuas vontades e segredos,
Num quarto vazio, triste,
Sem chave cópia para abrir a porta...
Madrugada 4:15 sentencio,
E repito com o canto dos galos:
Te odeio, te odeio, te odeio...
Estou te deixando, grande sentimento!
Agonizante nas últimas palavras:
Meu Deus, como te amei um dia!
...Do verso repetido (pág. 85)
Porta entreaberta, te mostras aos poucos,
O coração, o sangue aceleram,
Num ir e vir a mão se move,
E suor ao corpo umedece.
Furtivamente, em silêncio, observas
A respiração, quase gemido,
E feliz explosão acontece,
Quanto nos pertencemos? Quanto nos amamos?
Sei, não povôo teus sonhos,
Sou prazer real e mundano,
Mas quando despertas me tens ao teu lado...
Porém, tarde descobrirás
Sem querer, em recordação breve, singela,
Quanto nos pertencemos, quanto nos amamos...
...Sem "eu" (pág 86)
Se facho de luz, estrela distante,
Não é mais estrela, é facho de luz,
Que a noite mostrou, há tempo se vê,
Brilhando e vindo até se perder...
Se, se nasceu humano, assim, um dia,
Início de vida e morte aqui,
Terra que tudo não é, fragmento,
Mera passagem circunstancial...
Se, se provém de criatividade, essência,
Ausentes dogmas, religiões, crenças,
Como facho de luz, não mais estrela,
Subsiste-se em força, após morte,
Energia raiando, o novo surgindo
No derradeiro e eterno vir a ser...
...Sem jeito (pág 87)
É esta coisa que me impele e fazemos,
Tu para me agradar, com timidez,
Eu por puro sentimento,
Entrego-me experiente sem medo...
Ah, se quando te percebi,
Indiferente fosse à tua dorida mão,
Surdo à tua sedutora voz,
Não teria vingado, crescido esse amor...
Não te quero só para mim, desejo
Contudo, o encanto e o presente
De cada momento permitido...
Então, regala-me e acolhe-me em teu seio,
Se entranhe em minha pele teu perfume,
Mais uma vez, querido e sem jeito...
Do livro No Lado Obscuro da Lua-1998-
Pablo Ribeiro