O TEMPO

Vem o tempo e faz banca em minha porta,

eu saio ele perscruta, eu entro, espreita.

Comigo se levanta, e senta, e deita.

enquanto durmo as faces me recorta.

Leva os cabelos ou de branco enfeita,

as pernas endurece, a espinha entorta.

Encurta o ouvido e a vista, não lhe importa

que indo na rua eu sofra uma desfeita.

Dono de tudo é tempo, a tudo vence,

tudo gasta e destrui do que se pense,

no seu poder total de eternidade.

Só uma coisa conheço com vitória

sobre a erosão do tempo - essa é a História,

que se constrói acumulando a idade.

(Do livro Sonetos de Amor e Passatempo)