E os meus planos?
E os meus planos?
O que será dos meus planos para amanhã?
Hoje estou aqui, neste quarto de hospital pensando, sozinho, sem as pessoas que amo e sem aqueles que não amo também, estou aqui, olhando pela janela o mundo lá fora. O que será de minhas coisas, minha vida passa como um filme, todas as coisas que abri mão para alcançar meus objetivos e agora estou aqui, lutando contra um inimigo invisível, pior de tudo é que eu não acreditei, achei que era uma coisa passageira, que minha mãe estava dando chilique a toa, quando ela me pediu para não sair, ou quando inúmeras vezes me pedia para usar a máscara, passar o álcool, não abraçar, não beijar, quando ela me pediu para manter distancia dos meus amigos, meus amigos que vi cada um perder a batalha para esse inimigo invisível, que dor avassaladora sinto neste momento por não acreditar que isso poderia acontecer e aconteceu.
O pior é saber que no quarto ao lado está as mulheres que mais amei na vida, minha mãe e minha namorada, saber que por minha causa elas podem partir, não aguentarei viver com essa certeza, que conscientemente matei as mulheres da minha vida e quantas outras pessoas devo ter contaminado por não acreditar que isso poderia acontecer.
Sei que não tem mais tempo para mim, tudo que construir, casa, carro, profissão, dinheiro no banco, investimento de uma vida, tudo ficará para trás, os planos da viagem para as próximas férias, nada mais faz sentido. Meu coração acelera, minhas vistas nubladas, minha respiração descompassada, estou partindo e nem ao menos posso segurar a mão de minha namorada, meu amor, minha parceira, companheira, ela já está inconsciente, mas sei que nosso amor será eterno, nossos filhos, nosso cachorro, a casa no campo, o casamento de seus sonhos, tudo isso ficou para trás e só porque não acreditei, porque achei que era fake, achei que era política, acreditei que isso tudo passaria, que era apenas uma gripezinha, minha ignorância acabou com minha vida e com a vida das pessoas que eu amo, das pessoas mais importantes para mim.
O que me resta é agora apenas aceitar, aceitar que tudo terminou. Tudo chegou ao fim.
Simone Bezerra Souza, 17 de maio de 2020.