OUSADIA PARA SOBREVIVER
Fitava perplexo a vastidão do horizonte,
Admirando tudo diante da minha fronte.
Lá, bem longe, o sol se pondo no infinito,
Anunciando o fim de mais um longo dia
E conseqüente chegada da noite, essa magia
Cheia de suspenses, fenômeno bendito.
Mas quando olho para um lado vejo crianças
Maltrapilhas, famintas, sem esperança.
Seus olhos lânguidos, perdidos, sem fixação,
São o retrato vivo de uma nação, uma sociedade
Injusta, madrasta, recheada de desigualdade,
Que somente com os pobres age com exação.
Nesse mesmo lado vejo proliferar a prostituição
Juvenil, que faz da venda do corpo profissão.
Geraram filhos mas sustentá-los não podem,
Pois não têm emprego definido e abandonadas
Pelos pais e pelos namorados, desamparadas,
Sentem-se vencidas, poucos as acodem.
Ainda nesse mesmo lado vejo o jovem drogado
Que, abandonado pela família, está sempre dopado.
- Que atitude tomar? É ele um criminoso ou doente?
Necessita ele de cadeia ou de assistência médica?
Estamos, será, diante de uma sociedade ética,
Capaz de interferir na conduta de um dependente?
Olho para o outro lado e os “flanelinhas” lá estão,
Agindo como donos da via pública, em plena ação.
Vejo, clamando por punição, vítimas de balas perdidas,
Falando mal da justiça, que soltou os bandidos,
Pois entendem que os marginais devem ser contidos,
Para o que devem ser tomadas sérias e urgentes medidas.
Agora estou olhando para trás. Que grande tristeza!
Vejo um sem número de pessoas vivendo na dureza.
Há os que não têm emprego, não têm moradia,
Vivem disputando restos no lixo com animais,
Dormem ao relento nas vias públicas, nos terminais,
E só conseguem sobreviver pela elogiável ousadia.
Na mídia eu leio sobre a corrupção desenfreada no Congresso,
Mas os políticos não respondem na justiça a processos,
Parecendo que lá existe o instituto da impunidade.
O governo entope a classe média de impostos pesados
Então eu olho para cima com os olhos mareados
E digo:” Senhor, de nós, eu te peço, tenhas piedade”!