Tumor, na roça e na cidade...

Estou esmagado e tenho cinzas

Procurando me solucionar

Estou como do cigarro as guimbas

Já não há o que desabrochar

Os tumores estragam vidas

Na cidade e no sertão

Lá no campo embolam o paiero

Na cidade tudo embola o pulmão

Mas se é tão prazeroso

E mais cedo ou mais tarde

Lá se vai a minha vida

Desse mundo tão covarde

Não fumo para ser homem

Nem para cuspir amargo

Mais amarga que essa vida

Sabor de jiló tostado

Na roça os passarinhos

Perdendo suas moradas

Na cidade as gaiolas

São as prisões dos coitados

Já vi ladrão de galinha

Com foro privilegiado

No plenário em Brasília

Esmolando o seu salário

Plano real de hoje em dia

Que plano valorizado

Aqueceu a economia

Do Brasil endividado

No boteco da esquina

Descendo o fel pendurado

Ponho a culpa na maldita

Sendo só mais um culpado

Culpado que nada fiz

Nem por mim, nem por ninguém

Não quis cheirar pó de giz

Fiz curso de Zé também

Porém tenho uns amigos

Que tentaram ser letrados

Mas lá na escola deles

Só tinha professor cansado

Uns cansados pela vida

Outros pelo baixo salário

Uns dando aula por amor

Outros contando o horário

E como que o mundo gira

Pra ficarmos tontos assim

Meu amigo estudou

Pra ser pião igual a mim

As vezes vem um Deputado

Em época de eleição

Eles vêm dão um churrasco

E pra nós até que é bão

Foi um desses camarada

Que me levou pra cidade grande

Fui trabaia numa empreteira

E morar perto dos traficante

Na favela adonde eu moro

Tem uns menino pequeno

Que começa soltando fogos

e terminam alí memo

Quando eu vim pra essa terra

Minha mãe como chorava

Imagino aquela mãe

Que o filho morreu na escada

E não vai ter mais degrau

Nem pra cima, nem pra baixo

Lágrima de mãe com sangue

Vendo o filho a tiro perfurado

E até quem não nasceu

Já tem conta pra pagar

Pior é pagar aquilo

Que eles nem poderão gastar

Pois as matas já se vão

Com os olhos desses grande

Que se juntam pra decidir

Como ir mais adiante

Sem abrir mão de vender

Nem de tudo consumir

Criaram a Rio mais vinte

Pra tapiar o povo daqui...

Lopes Neto
Enviado por Lopes Neto em 17/06/2012
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