Resenha - Ninguém Dirá Que É Tarde Demais
Assisti ao espetáculo Ninguém Dirá Que É Tarde Demais na última sexta-feira (21.02.25) no Salão de Atos da PUCRS. Envolvente do início ao fim. Uma peça que aborda questões psicológicas e filosóficas com atenção especial à fase da terceira idade. Temas como solidão, inadequação e saudade são abordados de forma extremamente sensível e tocante, sem perder a atmosfera leve e sua comicidade que percorre por todo espetáculo. A história se passa durante o período de lockdown estabelecido durante a pandemia da COVID-19 e, ainda não estou certa sobre a razão para escolher tal cenário, mas funciona muito bem com a dinâmica da peça e reforça ainda mais os pensamentos introspectivos durante este período. O elenco composto por Arlete Salles (Luiza), Edwin Luisi (Felipe), Pedro Medina - também autor (Márcio) e Alexandre Barbalho (Mauro) possui uma harmonia ímpar e, juntos, transformam o palco num cativante conjunto de apartamentos onde Felipe e Luiza são vizinhos de parede. Das partes mais significativas desse espetáculo, na minha opinião, a fala “ainda não me adequei” dita algumas vezes por Felipe ainda ecoa na minha mente. O sentimento de adequação e pertencimento alguma vez será pleno? O que leva um senhor septuagenário a pensar que ainda há obrigação em se adequar? Outra fala, também proferida pelo personagem, diz que “a vida me perguntava o que eu esperava dela, e eu não sabia o que responder. Certo dia, tornou a me perguntar o que esperava e simplesmente disse: não espero nada”. Há o que esperar? E ela, o que espera de nós? Reflexões durante a peça são feitas de forma simples e orgânica porém, assim que se percebe a isca que acabou de ser jogada à plateia, a cabeça começa a fervilhar em busca de respostas mais profundas e, se não policiar o fluxo de pensamentos, pode acabar perdendo as próximas cenas. Um espetáculo com duas horas de duração que se beneficia esplendorosamente do tempo para trilhar uma jornada íntima e emocionante junto ao espectador. Uma carinhosa menção ao incrível Edwin Luisi que conquista o público cada segundo que está em cena, extraordinário. Belo trabalho a todo elenco e produção, o Teatro Brasileiro vive fervorosamente.