A Severa, peça teatral
Resenha da peça teatral "A Severa", de Julio Dantas. Sociedade-Editora Portugal-Brasil, Lisboa-Portugal, quinta edição, sem data. Peça em quatro atos, representada pela primeira vez no Teatro Dona Amélia (Lisboa) em 25 de janeiro de 1901.
Encontrei esse livro bem desgastado num sebo de rua na Praça Saens Pena. Fala sobre a fadista que se tornou uma lenda em Portugal: a Severa, que morreu aos 26 anos, e morou no célebre bairro da Mouraria, em Lisboa. Segundo a Wikipédia, Severa morreu de tuberculose e apoplexia; na peça ela morreu de angina. No século 19 e mesmo no 20 era comum que artistas e poetas vivessem pouco, levados pela tuberculose e outras consequências da vida boêmia e libertina.
Na peça ela é amante do Conde de Marialva e se dá com outros personagens masculinos como Dom José, Diego, Romão e o simplório Custódia. Severa é muito paparicada como fadista e mulher atraente.e.desabrida, de origem cigana; capaz de valentia com homens, não tem papas na língua e passa grandes descomposturas.
Ao que parece ela ajudava muita gente, mulheres pobres da região. O vocabulário usado, cheio de gírias portuguesas, é até difícil de compreender hoje em dia. Vejam por exemplo essas palavras do personagem Timpanas:
"Encontrei no caminho o Senhor Conde, que já vinha de volta, a cavalo. Ah, rapazes! Cravou num cornante um rojão à tira, que tudo se levantou a gritar: bravo! bravo!"
Ou o Marialva:
"Quinze moedas por um cavalo cego e com queixa dos curvilhões?"
Alguém sabe - sem ir no dicionário - o que são "curvilhões"?
Ou a Severa:
"Olha... traz amaria de lodo e bom cachucho no dedo! É podre de rico, o bandarra!"
E assim pela peça afora. Bem, ela é algo divertida, mas também é triste, como a história real da Severa parece ter sido triste.
Rio de Janeiro, 7 de julho de 2024.
Foto da capa maltratada do livro, bem de propósito coloquei por baixo o dicionário.