Impressões - A Farra do Boi Bumbá

Impressões

A Farra do Boi Bumbá - Os Ciclomáticos

Teatro Glauce Rocha

Eita farra boa do boi bumbá! Que essa foi uma das peças –espetáculos – musicais – festas das mais lindas que já assisti. Coisa feita pra criança que é pra adulto nem um perder. Os Ciclomáticos, essa trupe de teatro boa veio levantar a poeira do meu brasilzão bem no chão do meu coração. Uma terra encantada se abriu bem no meio do palco lá no teatro Glauce Rocha. Peça dirigida por Ribeiro Ribamar, trazendo temas como a seca e a fome, trabalho rural e reforma agrária. Figurino sensacional. Nem me contive quando comecei a ouvir aquelas cantigas todas com tudo que é instrumento que parece o corpo da gente falando de onde a gente veio e com tanto colorido de dar água nos olhos! Meu peito era o tambor na mão do cantador das coisas da vida do boi. Eu voltei criança pra vida. E senti que a menina que um dia fui ainda é dentro de mim feito corredeira de chuva que chove. E chovia naquele instrumento que a moça do vestido rendado mexia. Ah, a vida é toda folclore e minhas origens saltavam do chão ali na minha frente – uma gente portuguesa, indígena e africana toda cirandando dentro de mim. Um encontro maravilhoso e foi isso que me deu saudade e que mareou meus olhos de riso, minha boca cantava os encantamentos das festanças por esse mundo de meu deus. A história “Catarina e a língua do boi” recontada por esse grupo teatral me deixou de boca aberta, olhão arregalado, língua pra fora!

Nem conto que essa história foi uma confusão danada quando Catarina, grávida, tem desejo de comer língua de boi, mas não pensei que fosse pra tanto! Ela queria comer a língua do boi mais arretado e mais bonito da fazenda onde Chico trabalhava. E era aquele boi ali ó! Aquele ali do fazendeiro rico da região e o pai Chico vai lá e páh! Corta a língua do boi preferido do fazendeiro e leva pra buchuda da Catarina. Pronto, nem eu me aguentei de tanto rir! Catarina aponta pro alvo e foi um deus a sacudir todo mundo de rir. Chicão vai até o público e dana de encrencar com o suposto boi lá da plateia. Estava do meu ladinho o pai de uma menina, que acabou ficando sem a língua!!

Daí que o fazendeiro manda um mundaréu de gente procurar o boi e esses personagens são igualmente encantadores e cantadores e põe todo mundo a saltear emoção. A vida é uma festa folgueada. E... encontram o boi doente, sem língua, claro! Daí, são chamados curandeiros e aparece então a bruxa, meio pajé meio curandeira, xamânica, índia, bruxa, médica, é uma personagem linda que traz em seu feitio a figura da mulher e do amor por todas as criaturas do mundo! O bailado e as cantigas são ainda mais emocionantes, com a utilização de caxixis, zabumba, maraca, cordas, tambores, chocalho, flautim, pandeiros, apitos e tantos outros instrumentos que chamam a alegria na gente. Foi um espetáculo pralém de folclórico, reunindo as maravilhas das regiões do país – norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sul, intermediado de contos-cantos, eu tinha era vontade de entrar na roda e cirandar. Palmas não faltavam...Ê boi! E, no final de tudo, o fazendeiro perdoa o Pai Chico e Catarina pelo roubo do boi. A farra foi é boa! História popular cheia de hibridismo, humor e beleza! Cada região tem um nome pra essa história do bumbá. A peça trouxe as regiões brasileiras do bumba meu boi e até a cultura de outros países que vieram parar aqui constituindo a gente. "Vamos, meu boi!" O sumiço do boizinho deu o que falar e tramar, mas no final depois das encantarias e cantorias ele ressuscita e o povo todo volta a cantar e dançar, festejar a vida do boi, de toda a nossa gente!

Daí ele, o boi, surge no meio palco e foi uma farra só! A farra do boi bumbá ...Ê boi! Bumba meu boi bumbá!! Ah...Me deu foi uma vontade de voltar pro Norte!

Por Alessandra Espínola

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 01/06/2017
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