BULLYING NUNCA MAIS

Dia quatro de setembro, sexta feira chuvosa, teatro do Sesc. Santana, aproximadamente quinze horas e alguns minutos, IV Festival de Sincronia e Linguagens,promovido pela Diretoria de Ensino Norte 2

Faço parte de uma plateia que está no teatro para assistir às apresentações dos alunos, mas estou aqui especificamente, pela relevância do assunto, para assistir à peça “Bullying Nunca mais” apresentada pelos alunos da Escola Estadual professora Veridiana C.C Gomes.

Assim que é anunciada a apresentação da Escola professora Veridiana C.C. Gomes, e com a abertura das cortinas, minha expectativa era de assistir a uma peça convencional, como dezenas encontradas na Internet, de aluno e de profissionais que produzem peças sobre o gênero. Brigas com puxões de cabelos, intimidações, xingamentos etc...Tudo levava para o caminho da mesmice.

À medida em que a peça é iniciada vou me deparando com uma diversidades, uma maneira diferenciada de si abordar o bullying no meio estudantil e neste caso o cenário é em uma sala de aula , retratando a volta às aulas com novos alunos chegando para serem vítimas e com velhos alunos para cometerem esta vergonhosa violência chamada bullying.

Reparo de início que, embora muito pouco abordado pelos meios de comunicação, o texto introduz o viés de que bullying não é só praticado entre alunos. Às vezes parte do aluno para com o professor e vice versa e ainda deixa latente a questão da omissão por do docente, quando se alia aos líderes negativos de uma sala de aula. A fala da professora quando adentra à sala de aula já deixa bem claro o propósito do texto: criar clima para que ocorra os exemplos do bullying em cena neste caso específico.

Assim que as falas e cenas vão se desenrolando, percebo algumas sutilezas na composição das falas e dos personagens da peça e deparo-me com uma riqueza imensa de detalhes e a variedades de assuntos, digo, tipos de bullying que são praticados dentro de uma sala de aula que talvez não percebemos no dia a dia.

Algumas questões físicas foram demonstradas com um ator representando a obesidade, um outro representando a gagueira, uma atriz representando uma manca, outra atriz representando uma aluna com tratamento de flatos, uma outra representando uma aluna que estava fazendo tratamento de câncer, usando peruca em razão de perder os cabelos por causa da quimioterapia sendo esta última vitima do bullying em sala de aula e ao mesmo tempo no cyber bullynig por parte dos colegas líderes negativos.

Um dado que me chama muita atenção é a maneira pedagógica na abordagem de assuntos envolvendo o bullying ultrapassa o além dos muros da escola e assolam a nossa sociedade. Um angolano, uma boliviana, um baiano soteropolitano, uma gaúcha e uma homossexual, são personagens que trazem à tona uma questão de grande relevância sobre as questões muito relevantes na nossa sociedade:

- O angolano representando simbolicamente a questão dos nossos afros descendentes e que também pode se estender às questões dos imigrantes negros vindos da África, como Angola por exemplo ou do Haiti aqui na América central que sofrem uma discriminação imensa.

- A boliviana, interpretada por uma boliviana de fato, e que retrata realmente parte da violência com que os bolivianos são tratados em sala de aulas pelos alunos brasileiros e, segundo a professora supervisora do texto, há pelo menos algumas dezenas de tipos de bullying praticados em salas de aulas e fora delas contra esta nova leva de imigrantes sul americanos, neste caso da Bolívia e o seu tipo étnico.

- O baiano soteropolitano representando o nordestino que ainda, em salas de aulas sofre bullying por conta dos sotaques, e até mesmo da cor.

- A gaúcha que apesar de ser branca, também sofre bullying racista por conta da sua cor e sotaque gaúcho, demonstrando que racismo não é só praticado contra a cor negra mas também com outras cores, embora a cor negra sofra muito mais do preconceito em sua maioria, somada ao preconceito contra o nordestino.

- A homossexualidade na escola é talvez seja o maior tabu encontrado pelos alunos e alunas e que se tem tornado um fardo muito mais pesado para as meninas que são descobertas e ou acabam sendo abertas de mais e confessam as suas opções. Há uma rejeição muito grande por partes das meninas, ou seja: a homofobia entre as alunas, é um fato já constatado em várias escolas.

Há um dado muito importante que só passei a perceber que a partir do terceiro aluno que sofre bullying na peça. Um a um vai para o fundo do palco e se vira de costas. É a mensagem principal na questão do bullying: É a simbolização de que o aluno que sofre bullying, naturalmente se isola dos demais alunos da sala e o ficar de costas é a materialização desta simbologia e a plateia entendeu bem esta mensagem e a prova cabal disso é agora nesta cena em que a mediadora admoesta os líderes negativos e a professora, fazendo um "bullying" com eles e a cena deles de irem para o fundo do palco ficando de costas com os demais alunos, fez a plateia vibrar, afinal de contas ninguém estava suportando os personagens que cometiam o bullying e a omissão professora.

Esta interação da plateia com a peça deixou bem límpido de que a mensagem fora entendida em sua plenitude e passar um assunto ,que merece no mínimo, um milhão de páginas para ser discorrido, e, em apenas quatorze minutos é algo extraordinário e fantástico! Os alunos, cada um deles soube passar a sua mensagem com apenas um gesto, palavras, ou com gestos e palavras poucas ou muitas, cumprindo divinamente com a missão mostrar o problema do bullying nas escolas.

Os professores, como produtores e alunos, como atores, parceiros nesta empreitada, em pouco mais de quatorze minutos, discorreram sobre, racismo, etnias, regionalismo, questões físicas, bullying cibernético( o da internet), homofobia, religião, omissão, deixando bem claro que o bullying não é só uma questão da escola e que ele vai muito além, disto. Ele vem da rua para casa, da casa para escola, da sociedade para casa, para escola, para as ruas, enfim, um assunto que deveria ser tratado com mais atenção, emanando do poder maior para os menores e não só deixar nas mãos da educação que acaba por ter uma área de limite muito exíguo.

Louvo os professores e os alunos da Escola Estadual Professora Veridiana C.C. Gomes por esta apresentação e, notadamente pela matéria abordada que é de grande relevância e deveria ser levada mais a sério pelos legisladores.

A peça acabou sendo finalizada com a música do Paul Mccartney cantada em dueto com Stivie Wander “Ebony and Ivory” com a plateia batendo palmas ao ritmo da musica, cuja tradução declino abaixo:

Ébano e marfim vivem juntos

Em perfeita harmonia

Lado a lado no teclado do meu piano,

Oh senhor, por que não nós?

Nós todos sabemos

Que as pessoas são iguais

Onde quer que você vá

Há boas e más em todos,

Nós aprendemos a viver,

Aprendemos a dar

Cada um dos outros

O que precisamos para sobreviver,

Juntos, vivos.

Ébano e marfim vivem juntos

Em perfeita harmonia

Lado a lado no teclado do meu piano,

Oh senhor por que não nós?

Ébano, Marfim, vivendo em perfeita harmonia

Ébano, marfim, ooh

Nós todos sabemos

Que as pessoas são iguais

Onde quer que você vá

Há boas e más em todos,

Nós aprendemos a viver,

Aprendemos a dar

Cada um dos outros

O que precisamos para sobreviver,

Juntos, vivos.

Ébano e marfim vivem juntos

Em perfeita harmonia

Lado a lado no teclado do meu piano,

Oh senhor por que não nós?

Ébano, Marfim,

Vivendo em perfeita harmonia

Deífico
Enviado por Jota Kameral em 07/09/2015
Reeditado em 07/10/2023
Código do texto: T5374291
Classificação de conteúdo: seguro
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