A Geografia da Coragem

...há vezes em que a vida é ingrata.

Por : Martinho Bangula Katúmua e Walter Scorpion.

Sinopse.

A geografia da coragem retrata a vida de um jovem angolano anónimo que como muitos outros, tenta com o seu trabalho e humildade conquistar uma vida melhor. Zito o protagonista, é o mais velho de quatro irmãos que muito cedo deixa de estudar para ajudar na economia da família. De taxista a padeiro o jovem é duas vezes burlado. Uma pelo seu único amigo e outra pelo seu próprio patrão. Apesar de muita luta a vida não sorri para ele acabando por morrer pobre e junto da sua família.

Parte I

Numa sala de aula a professora de língua portuguesa está terminado a lição:

“ Hoje ficamos por aqui, vão procurar no livro de leituras da 8ª Classe, na página 17 o texto a “ a geografia da coragem” do escritor Martinho Bangula e tragam-me o resumo na próxima aula”.

- Os alunos abandonam a sala de aula. Zito dirige-se à casa e na caminhada monologa:” Zito rapaz você é barra! Estuda vais conseguir ajudar a tua família a sair desta miséria. Tu vais conseguir nada cai do céu oh, oh, Tu vais conseguir nada cai do céu oh, oh, acredite oh.

-Chegando a casa, a família de Zito reunida recebe-o em apoteose:

“ A sito mó firio, ndesde manhã katé acora memo tua mãe so pensa, sito memo no vem. Há!? – “os nbtitos ti panharam no caminho né fará mo filho tu pai vai dari uma carca de purata naqueres mbatitos” _ interferiu o Pai.

- “ Não pai, não é nada. E só a prof. de Português que se demorou com a aula.” – Replicou Zito. (Neste mesmo momento Helena leva a mão a cabeça repetidas vezes em sinal de aflição).

Oh! Esse kota Zito também nó cresce mais. Toda hora Zito, Zito. Um gajo ontem quase que baicava lá na esquina do kadonpe, e ninguém falou nada. – Retorquiu Chico.

Cala mboca você também. No quer estudar, no trabalha, vida é só sentar no muro com aqueles mbatitos, cala mboca pá. A família janta e deita-se.

No dia seguinte.

Zito despede-se dos pais (dando dois beijos no rosto de cada um) e segue para escola.

Posto na escola:

“Boa noite rapazes, espero que tenham todos feito a tarefa que pedi. Então quem quer responder?” – Pergunta a professora Elsa.

“Eu professora” – intervêm Zito. – o texto foi escrito por Martinho Bangula escritor de Benguela e retrata a vida de um jovem... Zito é interrompido.

- Por favor professora Elsa, a Sr.ª. Directora Dr.ª. Assunção orientou – me a leitura deste comunicado para os alunos. – Pede Félix funcionário da Secretaria. Hum, hum, num esforço desesperado de se concentrar ao mesmo tempo em ajusta a calça larga que vestiu. Hum:

“Comunicado: De acordo o comunicado do Ministério da Defesa Nacional chegado a nossa escola, deverão todos os cidadãos do sexo masculino nascidos entre 1 de Fevereiro a 25 de Dezembro de 1979, apresentarem-se ao distrito de recrutamento para o cumprimento do serviço militar. A todos os cidadãos abrangidos neste comunicado e que não apresentarem o devido adiamento não deverá ser permitida a frequência ás aulas”. – Mal Félix termina a leitura a turma entra em rebuliço:

- “Epá isso assim não pode ser”, “Isso está mal um gajo fica parado sem estudar todo estes anos por acusa de uma guerra que nem é minha, agora não pode estudar porque tem que ir a tropa?” o que é isso afinal – Os cadernos são jogados ao chão, a turma é abandonada.

A professora Elsa e o Sr. Félix retiram-se da sala lamentado o sucedido, gesticulando.

De volta à casa:

“Boa noite mãe” – Saúda Zito a mamã Teté que fuma o seu cachimbo no quintal sentada na esteira.

“O Zito mó firio você hossi no ndá massi mbesso na tua mãe? Que si passa há Zito” – Indaga a mamã Teté com um de perocupada.

“Onde está o pai” – Pergunta Zito

“O Domingo está ndurmir, começou mais s ndores de cabença, scostas, pernas tudo tá lhi ndoer” – Responde a mamã tentando erguer-se da esteira com a ajuda de Zito e ambos se dirigem para o interior da casa.

No dia seguinte.

Reunidos em família, mama Teté pede a Zito para explicar a razão da sua tristeza:

“Eu chamo tónda família aqui pra saber porque Zito está triste” – explica mamã Teté

“Fala meu firio Zito, fala” - intervém o pai Hilário apoiando a sua esposa que tosse alto em sinal de fragilidade da idade.

Ó kota Zito fala então um gajo quer bazar dar um giro” – desesperado reclama Chico.

“ Pronto, não é preciso fazer muita confusão, está bem? eu explico.” – Zito tenta ganhar coragem para comunicar a sua decisão.

A família fica apreensiva a olhar apara Zito, esperando que ele comunique decisão que pode mudar o rumo de suas vidas.

“ Eu parar de estudar” – Berra Zito.

“O qué? você vai que?” – Pergunta sua mãe arreliada.

“Ou para de estudar” – Confima Zito, agora mais confiante.

“Porque já então, meu filho?” – indaga o pai

“Porque na escola disseram que temos que ir a tropa” – Justifica-se Zito

“Então agora o que vais fazer” – pergunta a mãe já meio conformada.

“Vou para Luanda trabalhar, ver se consigo mudar esta nossa vida de miséria e ganhar muito dinheiro para cuidar da saúde do pai” – Assegura Zito num incontido esforço de convencer a sua família que pasma fica a olhar para si como que admirados com a sua coragem e determinação.

Zito parte para Luanda.

“ Mutamba, Mutamba, São Paulo, São Paulo, Zamba Dois, Zamba Dois” - Zito pisa pela primeira vez o solo de Luanda ouvindo estas vozes que se confundem com o dar e o cansaço de suas pernas depois de oito horas viagem agachada num candongueiro Hiace.

Sem o que fazer nem para onde ir, decide entrar numa barraca para matar a fome que fala tão alto quanto a sua vontade de vencer.

Dentro da barraca, Zito pede um prato de arroz com feijão e peixe frito que faz questão de acompanhar com um litro de quissangua fresca.

“ Venha o que vier eu não vou parar, não vou parar....” – canta Zito entre uma colherada e outra.

Enquanto isto, um estranho observa-o do canto da barraca, ele parece faminto.

“Vem, queres um pouco?” – Solidário Zito convida o estranho, que bruscamente se possa de seu prato e devora o alimento que há no prato.

Depois de certificar-se que não há mais nada no prato: “Então és da província né?” – Pergunta o estranho mais alegre agora.

“Sim, sou porque?” – Intervém Zito, um pouco intrigado.

“Vieste tentar a vida aqui, não é?” – Prossegue o estranho com o seu interrogatório.

“Yá vim aqui a tropa lá em Benguela está apertar muito e também não há emprego nenhum” – Lamenta –se Zito ao seu desconhecido amigo.

“Eu só o Nelas Sofromuito, também tó aqui a tentar a minha sorte, e você?”

“Eu sou Zito” – Apresentam – se dando palmadas fortes em ambas costas a que se segue um abraço demorado, com se já tivessem visto anteriormente.

“Então, o que sabes fazer, meu” – Inquere Nelas com um ar curioso.

“Um pouco de tudo” – Replica Zito muito inseguro.

“Opá, opa meu, esta lata aqui de um pouco de tudo não pega, aqui é na capita, tem que mostra papel, se não, não há salu, meu avilo” – Nelas chata atenção.

“ Epá eu tenho Cartas, não sei consigo um vago como motorista de qualquer cosia” – Revela Zito

“Ya, boas meu amanhã mesmo vamos na Marshal , num mó kota tem que tem um Hiace, mostrar a tua carta e fico to cobrador, fixe?” – Pergunta Nelas.

“Yá, não tem makas” – Responde Zito, tímido e inseguro.

“Vamos bumbar bwé até completar uma boa massa para bazar em Benguela” –Diz Nelas sorridente enquanto conta um volume de dinheiro sentando na bauca do táxi a caminho do Rocha.

Enquanto Zito concentrado dirige o azul e branco até o destino.

“Ok, tá fixe, sábado e domingo e para vocês” – Diz o patrão.

Depois de trabalho estes dias dividem harmoniosamente o dinheiro, compram roupas novas, e alugam um quarto para viverem.

Termina assim a primeira semana de trabalho desta nova dupla que parece imbatível.

Cinco meses mais tarde...

“Seus bandidos, vocês pensam que são qué afinal? sempre a trazer a massa incompleta, querem me burlar? Pensam que sou xoné?, passa ca porra da chaves do meu carro, seus ... Não fazem só falar aquilo que eu não quero”

Estas palavras, secas, objectivas marcam a explosão da dupla que volta para o desemprego.

Desesperados e sem rumo decidem partir para o Huambo onde levam peixe e sal, para tal alugam uma camioneta frigorífica. As vendas são bem sucedidas e ambos lucram muito. Nelas compra uma motorizada de marca Delop torna-se num namorador sem precedentes, enquanto que Zito envia parte da sua economia para a sua família em Benguela por intermédio de um tal motorista conhecido apenas por Mano Inácio. Numa bela manhã Zito acorda e....” hum! Meu Deus, onde está a minha mochila” – Assustado berra e corre ao encontro do amigo Nelas, que não mais se encontra nos aposentos.

Nelas aplica o velho golpe do sono ao seu amigo, leva consigo todo o dinheiro do amigo deixando na mais completa angústia.

Zito vê-se outra vez sem dinheiro, sem emprego e agora sem amigo. O arrendamento está próximo a vencer o prazo. Pistas de emprego nenhuma, até que num certo depois de pedir ajuda ao vizinho para poder comprar alimento este último lhe fala de uma vaga na padaria da baixa onde passou a trabalhar como forneiro.

Trabalhador dedicado que é, cedo conquista a confiança do gerente da padaria que decide lhe mandar controlar o caixa numa sexto feira porque ele tem um casamento. Na manhã seguinte:

“Seu sacana, malandro andou ali a fazer-se de bom só para conquistar a minha confiança, bastou ter uma oportunidade que aplicar logo o golpe, onde está o dinheiro? – Estas palavras do gerente em fúria acordaram Zito. Ele teve que devolver o valor supostamente furtada por si com a sua pequena poupança.

Mais uma vez este jovem lutador é vigarizado. Depois do amigo, o patrão aplica o seu magistral golpe. Segunda a fama Jorginho tem o hábito de aplicar esse golpe a seus funcionários. Zito finge não perceber o que se passa. Outra vez fica com a responsabilidade de fechar o caixa e desta vez adianta-se ele no golpe. Esvazia o caixa da padaria e guardo o dinheiro na casa de banho para pegar no dia seguinte.

Na madrugada seguinte ao caminho da padaria para o resgate do dinheiro, ele percebe que algo não está bem, aproxima-se vê o gerente a a polícia a investigarem o sumiço do dinheiro e decide logo por –se em fuga a caminho de Benguela.

Sem ter recuperado o dinheiro Zito volta a casa com a consciência pesada pois é o seu primeiro golpe e mal sucedido por sinal.

Em Benguela encontra a sua família ainda mais pobre e fragilizada com a morte do seu pai.

“Oh Zito mo firio, você veio!?” – tu mãe tota ora pensar você no coração ndoer muito” – Recebe o mamã Teté o seu filho.

Todos vêm receber Zito com abraços e beijos. Só o pai não aparece. Zito estranha, mas não pergunta considerando a possibilidade do pai estar a descansar no interior da casa. Confirma e nada. Desata logo aos berros chorando a morte do pai. A família comovida chora de novo a morte de Domingos. Zito fica a saber que o dinheiro que enviará pelo Mano Inácio nunca chegará. Entra em decepção, começa a beber, fica muito doente e morre de tuberculose.

Texto projecto (a ser arranjado)

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