Síndrome da Sociedade (Monólogo)

Síndrome da Sociedade - Monólogo

Personagens:

Ego – Personagem despreocupado com as coisas sócias e prefere as mundanas

Ide – Personagem preocupado com a sociedade atual e com as coisas morais e espirituais.

Eu – Pessoa dividida tentando seguir o melhor caminho. Está sempre se contradizendo.

Conflito – O conflito interno onde o ego tenta levá-lo por um caminho errado e dá bons argumentos para isso, mas o Ide sempre a alertar e explicar coerentemente onde está o erro.

Clímax – Quando o Eu finalmente supera o Ego.

(SENTADO EM UMA CADEIRA DE RODAS E MEIO AMARRADO. TEM UM ESPELHO EM SUAS PERNAS)

EU – Hoje... que dias são hoje? Alguém pode me dizer? Se meus cálculos estiverem certos, hoje faz um ano que tentei me matar pela 3ª vez. Burrice? Talvez... não com certeza foi uma burrice. Depois da 2ª vez deveria ter tido arrumado um método alternativo, ou talvez mais eficaz.

IDE – Mas eu fui o culpado. Sempre trabalhando demais, ocupado demais, sempre sem tempo de relaxar. Todos os problemas que via tentava resolver, tentava ajudar aos outros nos seus problemas sem ser humilde o suficiente para assumir que quem precisava de ajuda era eu.

EGO – (OLHAR COM FOCO NO ESPELHO) Claro que não. Nunca precisei de ajuda de ninguém. Ajudava aos outros porque eram todos fracos e sempre esperava um benefício em troca. Fazer algo de graça? Jamais! É contra os meus princípios.

EU – Princípios? Quais? Nunca fui religioso e nem me lembro da ultima vez que fui a missa. Nem me lembro a qual religião pertencia.

EGO – Religião? Isso é ma idiotice. (EGO E IDE) Você não se torna melhor só por ouvi um sermão ditado por um padre ou por um pastor, ou pagar dízimo. O céu não se compra, não sabia? Você não está salvo só por se confessar a um homem terreno tão imperfeito quanto os outros. E salvo de que? De quem? Por quê? Para que?

EU – Quantas perguntas. Assim eu me confundo.

IDE – Mas é tudo tão simples. Veja o grande exemplo que nos foi deixado, Jesus. Basta que sigamos os seus ensinamentos.

EU – Mas veja como sou. Tão mesquinho, orgulhosos, preguiçoso... tão imperfeito.

IDE – Imperfeito, mas perfectível. Buscas se melhorar.

EGO – Será? Gostava tanto de ver alguém sofrer, seja pela perda de emprego, familiares, não me interessava os motivos. Só me interessava ver e sentir e gostar de ver o sofrimento alheio.

EU – Não, não pode ser. Eu não sou assim, eu não sou assim... (COMEÇANDO A CHORAR). Sou? (PARA REPENTINAMENTE)

EGO – (BEM EGOCENTRICO)Mas claro que sou. Olhava ao meu redor, mas o ângulo em que me via era de cima. No caminho para o meu trabalho havia garotos de ruas e alguns mendigos que vez ou outra me pediam esmolas. Tudo que tenho foi à custa do meu suor, porque havia de dar a um bando de preguiçosos que queriam ganhar no mole? Longe de mim. Sentia, as vezes, vontade de passar por ali e chutá-los bem forte no estômago para que passasse o vazio que eles sentiam. Nunca o fiz. Mas pude presenciar uma cena dessas. Como gostei, senti um prazer imenso de ver aquilo.

EU – (COMEÇA A SE DEBATER EM UM CONFRONTO INTERNO)... CHEGA! Eu não sou assim. Eles eram pessoas honestas, que mesmo podendo serem bandidos, trombadinhas ou prostituirem-se, eles não seguiram por esse caminho. (CHOROSO) Preferiram serem humilhados, xingados, cuspidos, desprezados, e chutados. Seu suor de cada dia servia para um prato de comer ao anoitecer, sabe-se lá para dividir em quantas partes.

IDE – (IRÔNICO)Ganha no melo é trabalho do governo, que vez ou outra, perto da campanha eleitoral, fazem algo pelo povo. O ruim nem é aquele que rouba, mas faz alguma coisa, e aquele que desvia tudo para o próprio bolso e nem se lembra de quem o colocou e o confiou o cargo? Esses são bem piores. Poderiam ter uma cidade limpa, gerar empregos e ainda proteger a natureza, tudo ao mesmo tempo. E o que eles fazem? Produzem cada vez mais lixo até o que a cidade conseguir aguentar, destrói a natureza nativa de certas região, sem falar na contaminação, e ainda aumentam o número de moradores de ruas. E essa parte de destruir a natureza não é só os governantes não, mas a população como um todo.

EU – (PENSATIVO) Mas e eu? E você? E nós? O que fazemos para mudar essa situação? Se somos o futuro da nação, ô nação sem futuro. Mas não é assim que devemos pensar, e nem focalizar os nossos pensamentos. (FORÇANDO A LEMBRANÇA) Eu... eu sempre quis ajudar, mas porque tinha que ser eu? Tantas pessoas com mais posses e mais riquezas, por que eu? Essa desigualdade social não é minha culpa.

EGO – É. Mesmo que eu quisesse, sozinho nada posso.

IDE – Será? Onde está a moralidade? A Cristandade? Já que se dizem todos cristãos e vivem em prol do dinheiro.

EU – (DEPOIS DE ALGUM TEMPO EM SILENCIO COMO A PENSAR O PRÓXIMO ASSUNTO) E o aborto? Eu era a favor...

EGO – (BEM CONVENCIDO) E por que não? Uma mulher jovem e bonita, com um futuro brilhante pela frente, assim como o rapaz que a engravidou, não precisa nenhum dos dois, perder tudo isso por causa de um filho, que só dará despesas e problemas no futuro.

EU – Não seria sensato uma mulher dona de si e de seu corpo escolher ter ou não um filho?

IDE – (REFLETINDO) Mas há tantas maneiras para se evitar uma gravidez indesejada. Melhor do que tirar a vida de um ser inocente. Há tantos crimes hediondos sem punição contra pessoas adultas, que ainda podem se defender. E contra um ser indefeso? Se não se quer ter um filho nem engravide. Assim como matar uma pessoa adulta é um crime, tirar a vida de quem não pode nem se defender é um crime mais hediondo ainda. E vai contra ao maior direito, o da VIDA que Deus nos deu.

EU – Deus? Será que ele existe? Os cientistas dizem que viemos de uma grande explosão que veio do nada.

IDE – Mas se do nada veio o algo, então o nada pode fazer alguma coisa, e deixa de ser nada para ser alguma coisa. O que?

EGO – (DEPOIS DE UMA RISADA SARCÁSTICA) Besteira.

EU – (OLHANDO-SE NO ESPELHO) Sabem, nunca reparei como eu era.

EGO – Claro que por fora eu sou bonito, esbelto e sempre fiz o que pude para poder aparecer bem.

EU – Mas esse espelho parece que mostra meu espírito. E como ele é feio. Cheio de arrogância e rancor, e parece que ele é cego, surdo e mudo.

IDE – Cego, porque nunca quis ver ao meu redor, só a mim mesmo. Surdo, porque nunca me interessei ouvir o que falava o rádio e a televisão. Morte, estupro, assassinato, corrupção, poluição, desmatamento, tráfico de drogas, de animais, de pessoas... para que se eu não ia mudar nada? Mas se eu tentasse, ao menos tentasse, teria um chance. Mudo porque nunca abri minha boca para dizer o que vi e ouvi, nunca reivindicar meus direitos e nem o dos outros.

EU – Em meu ofício, que antes exercia, sempre dava o melhor de mim. Era muito esforçado.

EGO – Sempre fui melhor do que os outros, e não minto para ser humilde, falsa modesta é uma coisa que nunca tive. Adorava me exibir pelas coisas boas que fazia, se ninguém olhava eu também passava direto. Recebia prêmios e mais prêmios, troféus, medalhas. Isso tudo para ser reconhecido. De que adianta você faze algo sem ninguém saber ou lhe parabenizar por isso.

EU – (NOVAMENTE SE OLHANDO NO ESPLEHO E REFLETINDO) Sabia que não era perfeito. E me vejo a enumerar os pecados que possuo. Orgulho, Ganância, Soberba, Preguiça, Ira, Gula e Inveja. Sei que aprendi isso, só não me lembro como. Sempre me liguei no que tinha de ruim, nunca no que tinha de bom. Como aquelas pessoas que dizem “Ah, se eu ganhasse um salário”, e quando ganha ainda dizem “Meu dinheiro não dá para nada”, mas e antes? Alguém aí sabe quais são as sete virtudes que se contrapões aos sete pecados? (SE SIM, IDE – QUE BOM, EGO – MAS QUANTO DENTRE OS QUE AQUI ESTÃO?)

IDE – Que pena. E, sabem, não devemos nos concentrar só no que é ruim, temos que saber no que estamos acertando, e não se achar por isso, se não deixa de ser algo positivo quando é ostentado. A Ponderação, virtude que se contrapõe a gula, faz com que tenhamos consciência das medidas das coisas queridas por nós para não se tornar exagero, tudo o que é consumido em exagero é gula, seja comida ou roupas. A Paciência, que se contrapõe a Ira, e de que tanto o professores se utilizam dela. A humildade contra a soberba, entre outros.

EU – Sabe, por isso tentei tirar minha vida, não queria ser desgosto para Deus, e esperava cessar meus problemas.

IDE – Mas, há muito tempo atrás fiquei sabendo que o nosso pensamento funciona como uma estação de rádio, com suas onde de propagação referentes aos pensamentos que se tem e pode sintonizar com aqueles que tenham pensamentos da mesma natureza. Tentei prestar atenção no tipo de pensamento que tinha, todo eles eram maléficos, quer dizer, alguns. O pensamento é tão forte que existem doenças que nós mesmos arrumamos. Não queremos fazer uma consulta por achar estar com isso ou com aquilo, e pensa tanto, dia e noite, que nosso próprio organismo se encarrega de adquirir aquilo.

EU – E isso é ruim. Por isso se não se podes dar uma resolução para os problemas que existem na sociedade, não a critique.

EGO – (BEM MALICIOSOS) Mas julgar é uma coisa tão boa, e quem não gosta de meter nariz onde na vida dos outros.

IDE – E sabem onde está a solução? Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Nos foi deixado o exemplo a mais de 2000 anos e as normas para melhor convivência antes disso. A sociedade está longe de mudar porque não está nem um pouco perto de entender Deus. “Ah, não é preciso!” Se não fosse, porque ele teria nos dado a razão? Se ele é Onipresente para que gritar aos quatros cantos do mundo? Se ele é Onisciente por que ter que dizer à alguém tão imperfeito quanto qualquer um o que você fez, ele lhe conhece muito bem, você pode enganar os outros e até a si mesmo, mas a ele jamais. Todo Bondade, Amor e Justo. E ainda há quem lhe roguem blasfêmias. Mas se pensarmos onde Deus foi justo fazendo com que houvesse pobres e ricos, saudáveis e doentes? Castigo? Não, Deus é todo Amor e Bondade não vingativo e perverso. Isso é desculpa dos seres humanos que não querem ser inferior a ninguém, não admitem existir uma potencia que rege o universo desse jeito, e assim o cobrem de paixões mundanas. Como acreditar, para quem acredita em vida após a morte do corpo físico, que Deus irá nos julgar e nos sentenciar ao fogo ou às nuvens? Que privilégio é esse? Por que não uma outra chance?

EU – Chance é isso que a sociedade pode proporcionar àqueles que se desviaram do caminho certo.

EGO – E o que fazem quando um presidiário sai da cadeia? O condenam novamente, como se já não bastasse o julgamento do regimento. Quase não arruma emprego e sofre muito preconceito. Onde está a nova chance de reconstruir a sua vida?

EU – O ideal era que cada um fizesse sua parte para tornar o mundo um lugar melhor de se viver, se não para nós, mas para os que ainda hão de vir, os nossos descendentes. Minha parte eu fiz, me isolei do mundo, da sociedade, os médicos denominaram isso de Síndrome da Sociedade. Se não posso ajudar a sociedade com seus problemas não irei julgá-la ou criticá-la. Todos aqui temos tudo para sermos felizes: A família que pedimos. Os amigos que se nos afinizam, uma casa boa, comida na mesa todo dia, saúde. Gente, como eu, daria tudo para poder andar outra vez, outros para ver novamente, poder falar, poder entender... Somos felizes, mas não damos valor a isso. Até agora eu estava representando a sociedade, e ela é paralitica, mas diferente de mim, ela é paralitica da cabeça aos pés, desde a base com a população, o povo, até o ápice, com os governantes.

DOUTORA – Vamos!

EU – (COM CARA EMBURRADA) Já? (ANTES DE SAIR VOLTA-SE PARA A DOUTORA E DIZ) Doutora, dança comigo para descontrair (ELA OLHA ESTRANHA PARA A CADEIRA DE RODAS) Não se preocupe com a cadeira, na imaginação tudo é possível, até mesmo um mundo melhor.!

DANÇA BOLERO

PASSOS:

BÁSICO

SAÍDA E ENTRADA

BATE E VOLTA

GIRO DELA

LAÇO

B12

TROCADILHO COM UM GIRO

LEQUE

PESCOÇO

ENFRENTADA

INFINITO

Luis Kenedy
Enviado por Luis Kenedy em 05/01/2012
Reeditado em 05/01/2012
Código do texto: T3423201