A Pedra do Reino.
Ariano Suassuna no palco do Sesc Consolação, sob direção de Antunes Filho.
Por Éder de Araújo
A partir dos romances "A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-volta" e "Histórias do Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: Ao Sol da Onça Caetana", do escritor paraibano, novamente Antunes Filho deixa impressa sua marca de grande diretor-encenador da atualidade ao adaptar para a dramaturgia uma literatura concebida originalmente no gênero narrativo – A Pedra do Reino.
Partindo do palco nu, o público inicia sua jornada ao sertão paraibano diante de um mosaico eletrizante formado pelos vários personagens e fragmentos que povoarão todo o espetáculo – quase uma xilogravura animada.
Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, uma espécie de jogral sertanejo, rei saltimbanco, “descendente direto da realeza portuguesa” e personagem central da história, nos narra, de forma cômico-fantástica, a saga épica de “seus ancestrais” naquele cantão agreste do Brasil. Em seu memorial, instrumento a servir de modelo a todas as nações do mundo como sociedade exemplar - governada pelo povo – desfilam nobres, descamisados, doutores, lendas e crendices do imaginário popular, visagens, anunciações, bolas-de-fogo, danças e canções folclóricas, festas populares, folias-de-reis, além de velhos mitos regionais como Antônio Conselheiro, tudo colorindo o enredo que levará o protagonista a julgamento e prisão por subversão ao Estado Novo e, por fim, ao destino comum de todo ser visionário.
A opção do palco limpo permitiu um cenário itinerante apoiado no uso de adereços e figurino minuciosamente pesquisado.
Com iluminação adequada e trilha sonora toda ela baseada também na obra do autor – executada em cena pelo elenco - o espetáculo ganha um ritmo dinâmico e alegórico nas marcações precisas de coreografia adotadas pela direção.
Vale a pena atentar para os trabalhos corporal e vocal dos atores, em especial, Lee Thalor, que faz o protagonista, e Marcello Villas Boas, o iracundo corregedor, brilhantes em suas interpretações.
O mundo mágico de Ariano Suassuna ilustrado no palco pelo competente elenco do CPT e Macunaíma, sob a batuta sensível de Antunes Filho – imperdível para os amantes da literatura regionalista e do bom teatro.