"SÃO SEBASTIÃO O MÁRTIR DA FÉ" Texto teatral de Flávio Cavalcante

São Sebastião O Mártir da Fé

Texto teatral de:

Flávio cavalcante

ROLL DOS PESONAGENS

SEBASTIÃO (1)

IRENE (Mulher de Sebastião). (2)

PAI DE SEBASTIÃO (3)

MÃE DE SEBASTIÃO (4)

MOHÁ (Comandante da guarda). (5)

DIOCLECIANO (Imperador de Roma). (6)

CROMÁCIO (Governador de Roma). (7)

TIBÚRCIO (Filho do governador). (8)

NARRADOR (9)

RABINO (10)

SOLDADO 1 (11)

SOLDADO 2 (12)

SOLDADO 3 (13)

SOLDADO 4 (14)

SOLDADO 5 (15)

SOLDADO 6 (16)

SOLDADO 7 (17)

SOLDADO 8 (18)

SOLDADO 9 (19)

SOLDADO 10 (20)

MULHER 1 (21)

HOMEM 1 (22)

PRISIONEIRO 1 (23)

PRISIONEIRO 2 (24)

PRISIONEIRO 3 (25)

PRISIONEIRO 4 (26)

Apresentação e Sinopse

A arte da escrita é realmente algo com dádiva divina. O prazer de colocar em pauta um determinado assunto, transformando o imaginário para o real é indescritível. Cada autor tem o seu mundo independente, mas, cada um tem o mesmo paladar, quando degusta cada letra, saboreia cada palavra e digere as frases que compõem suas obras. Os escribas no passado, já falavam, que a escrita é uma forma de se comunicar com Deus.

No trabalho que apresento, é para mim, uma experiência muito lucrativa culturalmente falando; pois, os subterfúgios encontrados para desenvolver esta obra foram de poucas informações, porém, enriquecidas as minúcias de cada informação encontrada, que se tornou árduo e gostoso ao mesmo tempo, por se tratar de uma história e não uma estória.

Narro aqui um exemplo de luta, amor, fortaleza, dedicação, martírio e morte de um homem que assim como o cristo, morreu em proll do amor que sentia pelos irmãos. É a história da vida e morte de São Sebastião.

O autor

Concepção Cenográfica

É uma grande estrutura para um mega espetáculo, que comportará mais de duzentos figurantes, num espaço cênico composto de oito cenários distribuídos num imenso espaço ao ar livre. Trata-se de uma releitura do império Romano duzentos anos depois de Cristo. Contamos aí, a História do Martírio de São Sebastião. Os cenários distribuídos são. A casa de Irene (01) (Mulher de Sebastião), A Rua principal de Roma (02), (Onde aconteciam as grandes feiras). A floresta (03) (onde o Sebastião é flechado), Esgoto da Cidade (04) (Onde Sebastião é jogado depois de morto e a elevação do espírito sobre a mão de Jesus Cristo no final do espetáculo). Salão principal do palácio do imperador Diocleciano (05) (Salão onde aconteciam os bacanais e as grandes festas do império). Pátio da guarda de Diocleciano (06) (Local onde os soldados ficavam em seus momentos de descontração), Prisão do império (07). (Local onde cristãos eram torturados e trucidados). Salão principal do palácio do Governador de Roma (08) (Local onde Sebastião converte o Governador e seu filho Tibúrcio). Este projeto é para o estádio do Maracanã no Rio de Janeiro. É um espetáculo de cunho religioso recheado de grandiosos efeitos especiais.

Outra boa surpresa na cenografia é a última cena do espetáculo. Onde desce das nuvens uma imensa mão dando a idéia da mão de Jesus Cristo que vem resgatar o espírito de jovem mártir.

O autor

Objetivo

São Sebastião, o mártir da fé, tem como principal intuito resgatar a religiosidade, a fé e o amor a cristo, também, cultura para cidade do Rio de janeiro. Visa a descoberta de talentos, recursos para cidade, boa informação a outros países. Além de passar a ser uma referência de encontros importantes com estado e com o país para o mundo. O maracanã é a referência do nosso espetáculo por ter grande acessibilidade e divulgação em todo planeta. É um grande presente, sem dúvida, que a cidade do Rio de Janeiro irá ganhar, podendo ser apresentado não só dia da comemoração do padroeiro, mas também na semana santa, trazendo emprego e muitas outras vantagens.

É realmente um espetáculo, que sem dúvida alguma, irá emocionar ao mundo com a história e martírio do glorioso São Sebastião, a quem depositamos muita fé e esperança.

BOM ESPETÁCULO PARA TODOS

Flávio Cavalcante.

CENA.1

Cena escura. A sonoplastia libera uma música forte dando idéia de um filme religioso e logo em seguida uma música branda. Uma voz forte como a voz divina anuncia a chegada do espetáculo. Em OFF “O Rio de Janeiro, orgulhosamente apresenta... (Som de trombetas). São Sebastião, o Mártir da fé...” (Música branda).

NARRADOR

Um dia... Por volta do ano 84 depois de cristo, Numa pequena cidadezinha da França, chamada Narvonne, nasceu um jovem de família pobre, chamado Sebastião. Sabe-se pouco a respeito de seus pais. Segundo relatos de alguns documentos, se tratava de uma família cristã. A repressão naquela época àqueles que ousassem pelo menos falar sobre os ensinamentos de cristo, chegava a ponto de serem perseguidos até a boca da serpente ou terem suas cabeças decepadas pelas lâminas cortantes das bigas com a ira impiedosa do imperador Diocleciano, o todo poderoso. Apesar da maioria acatar os ensinamentos do mestre Jesus, permaneciam calados, por que se abrissem a boca pra falar sobre o assunto, sabia que o fim não ia ser muito agradável, assim como o próprio cristo que teve que amargar pregado numa cruz. Sebastião cresceu ouvindo dos seus pais ensinamentos de um Deus vivo e por isso, cresceu com a missão de levar aos encarcerados do império a palavra de Deus. Tentaremos dar uma idéia de como pode ter acontecido... (A sonoplastia libera uma música bem movimenta. A luz clareia em resistência. Toda a cidade está em movimento. Muitos vendedores às ruas. Cavaleiros do império de Diocleciano cavalgam pelas ruas. Todos os cenários funcionam ao mesmo tempo. Na realidade é uma demonstração de tudo. As luzes dos cenários vão se apagando em resistência e somente a cena de rua continua. Cavaleiros invadem as ruas da cidade assustando a todos. Um homem corre, os soldados o cercam e saem puxando ele com uma corda. O povo se desespera e os soldados dão o recado imperador).

MOHÁ

(Em algum monte). Povo de Roma! Eis que trago notícias do grande imperador Diocleciano, a quem devemos reverenciar.

HOMEM 1

(Em tom de revolta). Mas o que está acontecendo? Por acaso se trata de pagar mais imposto? Ninguém tem mais de onde tirar dinheiro, senhor! Será que o imperador não tem piedade? Não vê que somos um povo humilde? Olhe o estado da minha família... O que fez esse homem? (Uma mulher com uma criança no braço se aproxima e tenta proteger o homem, o abraçando).

MOHÁ

São ordens do imperador Diocleciano! E não se trata de impostos! O imperador manda avisar que aquele que contrariar seus conceitos, com ensinamentos cristãos, a ordem é prender e matar...

MULHER 1

(Vem correndo desesperada abrindo alas). Soltem meu irmão... Soltem o meu irmão... Por favor,... Ele é inocente! Peço piedade... Piedade, senhor...

MOHÁ

(Com o soldados). Não dêem ouvidos a ela... Vamos leva-lo daqui... (A mulher se abraça em prantos com o prisioneiro).

MULHER 1

Meu irmão... (Transição com os soldados). Soltem-no... Ele não fez nada...

Eu já disse... Vamos leva-lo daqui... Agora... (Faz menção que vai puxar o cristão).

HOMEM 1

(Em tom alto e de sofrimento). Amenize seu sofrimento, minha adorada irmã! Ore por mim... Cuide bem dos nossos dependentes e diga-lhes que eu os amo... Peça ao mestre Jesus que venha ao meu encontro assim como fez com o bom ladrão ao lado de sua cruz... Ore por mim... Ore por mim...

MOHÁ

Agora chega! Vamos... (Os soldados saem puxando o homem e a mulher cai em prantos. Algumas pessoas vêm a consolar. A cena escurece nesse ponto. A sonoplastia libera uma narração em “EM OFF”).

NARRADOR

E assim, foi consumado o ato criminoso e cruel do imperador. A triste sina daquele homem retratava a mesma sina de todos os cristãos enclausurados nas prisões do império. A ordem de Diocleciano era matar sem piedade. Naquela época, a sede de morte dos grandes imperadores e governadores de Roma, passava de geração por geração. Sebastião com o peito apertado a cada notícia que chegava aos seus ouvidos, sentia cada vez mais necessidade de entrar naquele império para tentar modificar de alguma forma os pensamentos daquele varão cheio de poder.

CENA.2

Casa de Sebastião. Sebastião está com a roupa de soldado e fala que já se alistou como militar nas legiões do imperador Diocleciano.

SEBASTIÃO

(Entra irradiando felicidade). Irene... Irene... Tem alguém em casa? Onde estás, mulher? (Entra Irene meio triste. Transição). Por que a tristeza, Irene? Aconteceu alguma coisa?

IRENE

(Se afasta triste chorando). Nada não...

SEBASTIÃO

Mulher... Eu sei que é difícil aceitar! Mas é grandiosa a minha felicidade! Não há motivo para choro e sim glorificar o senhor, pela oportunidade de levar a palavra de Deus aos irmãos encarcerados no império...

IRENE

Exatamente isso que temo, Sebastião! As notícias ruins chegam aos nossos ouvidos muito rápidas...

SEBASTIÃO

Eu terei os cuidados necessários... Mas sinto que eles estão precisando de mim... Hoje já estou fazendo parte da guarda pretoriana... Tudo na vida é uma conquista... Já dei o primeiro passo... De agora por diante com a ajuda do mestre Jesus chegarei ao objetivo da minha missão...

IRENE

Eu sei que tens que ir! O meu coração fica dilacerado à medida que chega à minha mente a sua partida! Vá em paz... Eu não tenho o direito de tentar lhe impedir! Mas tenha muito cuidado, Sebastião... A serpente está pronta para abocanhar... (Entra o pai e a mãe de Sebastião).

PAI

Salve, salve... Que Deus abençoe a todos...

SEBASTIÃO

(Com ar de feliz). Papai... Mamãe... Por favor, entrem... Como estou com o meu uniforme?

MÃE

(Emocionada). Sempre foste um rapaz muito bonito, Sebastião... O uniforme de soldado, apenas, aumenta ainda mais a sua beleza...

SEBASTIÃO

Mãe... Pai... Escute! Eu sei que estão tentando segurar a emoção... Mas, confie no nosso Deus vivo! Apenas estarei indo cumprir o meu mandado... Penso eu, que lá dentro, diminuirei o sofrimento dos meus irmãos em Cristo...

PAI

(Animado). Irene! Quero que convide todos da nossa família... Vamos fazer uma grande festa para o nosso novo soldado da guarda pretoriana...

SEBASTIÃO

Eu não quero festa, pai...

PAI

Não aceito o não, como resposta! Se o nosso senhor Jesus Cristo lhe deu nessa missão, a primeira vitória... Não se trata de uma festa de despedida... E sim de agradecimento... Saiba o quanto o amamos... O quanto és importante para as nossas vidas, Sebastião... Sei que vai dar tudo certo...

SEBASTIÃO

Não tenho a menor dúvida! E saibam que eu também amo a todos... (Beija a mãe, Beija o pai e abraça forte a Irene. Uma música branda envolve a cena e vai fundindo com a agitação no palácio de Diocleciano. A luz da casa de Irene escurece).

CENA.3

Salão do palácio de Diocleciano. Muita música inunda o ambiente. Várias bailarinas dançam para o imperador e outras o alimentam com frutas. Um bobo da corte faz gracinhas e todos caem em gargalhadas. (Entra o Mohá, comandante de sua guarda pessoal E Diocleciano pára a festa).

DIOCLECIANO

Parem a festa! (Se aproxima do Mohá). Que trazes de novo, Mohá?

MOHÁ

(Se curva diante do imperador). Tudo feito como Vossa Majestade ordenou... Mais um anarquista enclausurado! O cárcere está cheio de cristãos... Cada dia que passa, o número aumenta ainda mais... E não há lugar para mais ninguém... O que devo fazer, majestade?

DIOCLECIANO

(Ri ironicamente). Ora, Mohá... Esvazia o cárcere se o problema é este...

MOHÁ

Esvaziar o cárcere? Mas majestade! Devo libera-los novamente? Não acha que se fizermos tal coisa, estaremos contribuindo para os vândalos cristãos lhe perturbarem mais tarde? Desculpe-me pela intromissão, majestade, mas, como comandante de sua guarda pessoal tenho obrigação de lhe alertar sobre o perigo que ronda sobre sua cabeça...

DIOCLECIANO

(Cheio de ódio). Maldição! Eu não tinha pensado no aumento desesperador destas pragas... Mate-os... Livrem-se deles! Faça o que quiser... Deixe-me em paz! Não quero problemas! Por acaso não vês que estou me divertindo, Mohá? Fora daqui... Desapareçam da minha frente... Vamos... Vamos... Vamos... (Transição com os convidados da festa). Por que estão olhando pra mim? Eu os convidei para se divertirem comigo! Que continuemos a festa... (O soldado sai às pressas. A festa continua no salão do império. A cena escurece. Música de ação de fundo. As luzes acendem no cenário do pátio da guarda).

CENA.4

Pátio da guarda pretoriana. O comandante da guarda pessoal de Diocleciano chega ao pátio e dá a notícia para os outros soldados. Todos ficam felizes. O soldados estão num momento de descontração estão brincando uns com os outros.

MOHÁ

Vamos todos... A festa também vai começar aqui fora... A partir de agora!

SOLDADO 1

Mas nós vamos pra onde, Mohá?

MOHÁ

Esvaziar os cárceres! São ordens do imperador Diocleciano...

SOLDADOS 2

Enlouqueceu de vez o imperador? Esses detentos são perigosos demais para o império... O que deu na cabeça dele?

MOHÁ

A cada dia está aumentando ainda mais adeptos ao tal cristo... E nos cárceres não há lugar para mais ninguém... Vamos cumprir as ordens... Vamos amenizar o sofrimento deles de uma vez por todas...

SOLDADO 3

Quer dizer que a festa que estás falando... É uma festa sangrenta? (Rindo). É isso, comandante?

MOHÁ

(Rindo). Tem alguma dúvida ainda, soldado?

SOLDADOS 2

Agora entendi... Vamos fazer uma limpeza... O que estamos esperando vamos... (Todos saem gritando de felicidade. As luzes clareiam nos cárceres do império e os guardas começam com as espadas à punho o abate dos cristãos inocentes. A música é apropriada para a cena).

PRISIONEIRO 1

(Em desespero). Piedade, senhor... Somos inocentes! Temos família lá fora que precisa de nosso esforço e apoio pra sobreviver... Não cometemos crime algum...

MOHÁ

Calem-se seus vermes imundos... O crime maior é desafiar as regras de Roma... (Transição). Viemos aqui apenas fazer uma visita de cortesia... O cárcere está em lotação máxima e as ordens do imperador é limpar as celas...

PRISIONEIRO 2

(Transição de felicidade). Quer dizer... Ter liberdade? Meu Deus... Vamos ter liberdade... Oh senhor! Obrigado! (Espalhando para os outros. Todos tumultuam de felicidade).

MOHÁ

Vamos amenizar a dor de vocês... Ao ataque... (Os soldados invadem a carceragem e dão golpe de espada no detento. Uma música cobre as vozes enquanto uma narração continua a história).

NARRADOR

A cena sangrenta já se tornara rotina dentro daquele recinto e matar cristão já era uma tarefa normal. Diocleciano pensava que agindo assim, limparia as pragas maléficas que perturbavam e conturbavam a cabeça daquele louco varão. As prisões viviam sempre cheias de adeptos ao cristo, o que naquela época se tornou notícia preocupante em vários lugares. Sebastião ao receber estas notícias constrangedoras, sempre se sentia responsável, pois achava ele, capaz de modificar aquele quadro...

CENA 5

Casa de Irene. Sebastião fica sabendo da cena sangrenta e se revolta.

SEBASTIÃO

(Demonstrando uma profunda tristeza). Pai... Trucidaram todos os encarcerados do império novamente...

PAI

(Triste). O que estás me falando, Sebastião? Que Deus tenha piedade das almas que partiram... Quando será que vamos ter paz aqui em Roma? Senhor tenha piedade do coração do imperador... Ele não sabe o que está fazendo...

SEBASTIÃO

O estado de loucura do imperador está cada vez mais deplorável... Isso tá mexendo comigo, pai... Eu sei que a minha missão aqui na terra, é fazer alguma coisa para mudar esse quadro...

PAI

Tenha calma, Sebastião... Nós vamos tentar mudar o quadro, sim... Afinal de contas somos seguidores do mestre Jesus e ele não vai nos abandonar...

SEBASTIÃO

Eu sei, pai... Disso eu não tenho a menor dúvida... Eu já estou alistado às legiões da guarda pretoriana! Logo mais estarei lá dentro a serviço de Deus! (Entra Irene e a mãe de Sebastião).

IRENE

(Tensa). Estás sabendo o que aconteceu, Sebastião?

SEBASTIÃO

Quem aqui na cidade não está sabendo ainda, Irene?

IRENE

(A mãe de Sebastião o abraça). Meu Deus! Por isso que meu coração aperta quando lembro que vais estar no meio daquela sujeira...

MÃE

E o meu coração, Irene? Agora eu sinto o que Maria mãe do mestre Jesus sentia quando percebia a hora de seu martírio...

PAI

(Repreende). Mulheres! Mulheres! Desse jeito vão acabar deixando Sebastião apavorado...

SEBASTIÃO

Não precisa se preocupar comigo, pai... Não farei parte da imundice... Eu vou ser apenas um enviado de cristo do lado de fora da prisão... Como já falei terei cuidado! Quanto a isto não precisa se preocupar... Vamos orar pelos irmãos que se foram... (Todos se ajoelham e começam a rezar. As luzes vão se apagando em resistência).

NARRADOR

Algum tempo mais tarde. Sebastião se entregou de corpo e alma, servindo com afinco nas legiões do imperador Diocleciano. Cada dia que passava chegava mais notícias maravilhosas ao seu respeito. Diocleciano ficava cada vez mais orgulhoso em ter um soldado de poderia contar e confiar e por recompensa o deu o cargo de comandante de sua guarda pessoal.

CENA 6

Império de Diocleciano. Sebastião recebe patente de comandante da guarda e causa ciúmes em Mohá. A cena clareia com muita música, bailarinas dançam pelo palco todo. Fazem uma coreografia. Uma fileira de soldados romanos se agrupa. Trombetas anunciam a chegada do imperador.

RABINO

Vossa majestade... O imperador Diocleciano... (Diocleciano acena para parar a farra. Tudo pára).

MOHÁ

Mas por que a reunião de todos do império, majestade? Há algum problema que podemos resolver?

DIOCLECIANO

(Passeando pelos guardas). No meio de vós, senhores soldados... Existe um homem exemplo do qual não posso deixar de citar... (Mohá ri, pensando ser com ele). Cada dia que passa chegam excelentes informações a respeito deste jovem...

MOHÁ

Isso me deixa feliz! E quem é este soldado, tão talentoso assim, majestade? Confesso que sendo comandante de sua guarda pessoal não ouvi falar ainda...

DIOCLECIANO

Todo império está falando... E já chegou aos meus ouvidos... (Transição com ironia). E tu que deverias estar muito bem informado, não ouviste falar, Mohá? És tu, o homem a quem dou toda a confiança de guardar a mim e os meus interesses?

MOHÁ

(Sem jeito). Perdoe-me majestade... Mas, na minha equipe não surgiu nenhum comentário a respeito deste exemplo de soldado... Poderia me falar o nome dele, para que eu possa também reverencia-lo? Afinal, tudo que for em proll de seu bem estar merece ser homenageado e promovido por mim também...

DIOCLECIANO

Não o conheço pessoalmente, mas, parece-me que o nome dele é... Sebastião... (Sebastião fica surpreso e o Mohá arregala os olhos, surpreso como quem não gostou).

SEBASTIÃO

(Sem entender). Eu, majestade?

DIOCLECIANO

(Com o Sebastião). És o grande homem que todos comentam? Não se fala em outra aqui no palácio a não ser a sua excelente dedicação ao fazeres da guarda pretoriana...

SEBASTIÃO

(Sem jeito). Quem sou eu pra falar algo ao meu próprio respeito, majestade... É a penas generosidade de todos... Eu só cumpro a minha obrigação...

DIOCLECIANO

Qualidade pra poucos, Sebastião... Tens se demonstrado através de seu trabalho o melhor soldado de minha guarda... E desde já... Quero que seja o comandante da minha guarda pessoal... (Mohá faz expressão de ódio).

MOHÁ

(Embaraçado). Mas majestade... Esqueceu que esse cargo já está preenchido?

DIOCLECIANO

Estava preenchido! A partir de agora eu exijo Sebastião como meu comandante pessoal... Há algum comentário contra, Mohá?

MOHÁ

(Mohá olha para Sebastião com expressão de ódio). Não, majestade... Seja feita a sua vontade! (Sai de cena como quem não gostou).

SEBASTIÃO

(Feliz). Quanta honra, majestade... A felicidade que estou sentindo agora é sem fim... Mas não sou digno de tamanha responsabilidade... O Mohá é muito capaz e ocupa este cargo atualmente...

DIOCLECIANO

Ocupava, Sebastião! Ocupava! Não estou julgando a capacidade do meu soldado Mohá... Mas a excelência de seu trabalho faz-me concluir que com a sua imponência, prudência e bravura, esteja liderando a minha guarda pessoal... (Transição com seus servos. Chama batendo palmas). Vamos! Tragam vinho pra Sebastião... Música... A festa foi marcada para este momento solene... (A música aumenta e todos ficam na maior farra. Bailarinas dançam para o imperador e circulam pelo Sebastião. A as luzes vão se apagando).

CENA 7

Pátio da guarda de Diocleciano. Mohá reúne os guardas e começa a ordenar. Os guardas falam que ele perdeu e só recebem ordens de Sebastião. Ele fala que o reinado dele não vai muito avante.

MOHÁ

(Cheio de ódio). Maldito... Maldito... (Transição). Eu não vou deixar isso de graça... (Todos caem na gargalhada. Transição aos berros). Seja lá quem for este soldado Sebastião! Isto não vai ficar assim... Não vai ficar assim... (Com os outros soldados). Tomem seus postos agora... (Todos riem descontroladamente).

SOLDADO 4

(Irônico). Ora, Mohá... Quem és tu com essa arrogância toda? Parece até o imperador Diocleciano falando... (Transição). Não vês que teu dia de gloria acabou de descer por água a baixo? És, um perdedor, Mohá! És, um perdedor... (Gargalha).

SOLDADO 5

Seus dias de arrogância se acabaram, soldado... Hoje não passas de um derrotado e desempregado... (Todos caem na gargalhada).

MOHÁ

(Aos berros). Por pouco tempo... Por pouco tempo... Vocês vão me pagar também... (Sai Alucinado e se afasta. Um foco de luz cai sobre Mohá. Transição como quem está bolando algum plano diabólico). Espere... Quando não se pode com o inimigo... Alie-se a ele... E por que não? (Sai de cena dando gargalhadas. A cena escurece. As luzes clareiam na casa de Irene).

CENA 8

Casa de Irene. Sebastião chega em casa e é surpreendido com uma grande festa. Muitos convidados. Todos comem, bebem e dançam.

SEBASTIÃO

(Vestido com o uniforme. Transição. Surpreso). O que está acontecendo aqui?

PAI

(Empolgado levanta o copo de vinho). Salve o comandante da guarda pessoal do imperador de Roma... (Todos agitam).

SEBASTIÃO

(Levantam Sebastião). Como souberam? Senhor Jesus... Esse povo é rápido...

IRENE

As notícias chegam rápido demais, Sebastião... Não achas que já é o momento de termos pelo menos uma notícia agradável?

MÃE

(Emocionada). Meu filho... Foi verdade que o imperador ficou orgulhoso com seu trabalho?

SEBASTIÃO

É verdade, sim, mãe... Casou-me surpresa, pois, nunca imaginara que o imperador fosse pessoalmente me homenagear... É uma honra pra qualquer um soldado...

PAI

Honra maior é tê-lo como filho... Não é só o imperador que se orgulha, Sebastião...

SEBASTIÃO

(Sem graça). Ah, pai... (Abraça o pai).

MÃE

Vamos parar com estes elogios e começar a festa...

IRENE

(Com os convidados). Vamos... Tragam o cabrito assado e os barris de vinho... Música pra alegrar o ambiente... (A Música começa. Todos dançam felizes. Algum convidado entra em casa apressado e cochicha no ouvido do pai de Sebastião).

PAI

Parem a festa... Parem a festa... (Todos param). Vieram me falar que os soldados do governador Cromácio estão aqui...

SEBASTIÃO

Mande-os entrar, pai... Não devemos nada ao governador... (Alguém faz menção para os soldados entrarem. Os soldados entram).

SOLDADO

Sebastião?

SEBASTIÃO

Sou eu... Pois não?

SOLDADO

Trago-lhe um recado do Governador de Roma Cromácio e seu filho Tibúrcio... As notícias a seu respeito chegaram aos ouvidos do governador e o mesmo mandou lhe convidar para um almoço amanhã...

IRENE

(Radiante). Que importante... O meu esposo...

SEBASTIÃO

Diga-lhe que irei com prazer... (Os soldados saem. Sebastião é abraçado pelos convidados. A música continua e todos dançam, uns comem e outros bebem).

CENA. 9

Salão do imperador Diocleciano. Mohá tenta recuperar o seu cargo de comandante da guarda pessoal do imperador Diocleciano.

DIOCLECIANO

(Com raiva). Deplorável... Caso encerrado... Não quero mais lhe ver na minha frente, Mohá...

MOHÁ

(Se humilhando). Mas majestade... Eu dei a minha vida pra sempre lhe servir bem... Estou me sentido traído! Fui humilhado perante os guardas do meu comando... O que vossa majestade me diz disso?

DIOCLECIANO

(Friamente). E o que eu tenho a ver com isto, Mohá? Não sei o porquê ainda estou lhe dando trela... Eu sou o imperador da cidade de Roma... Não basta o meu nome para lhe deixar bem claro que és um idiota? Desapareça da minha frente antes que eu mande cortar teu pescoço com uma espada... (Mohá sai indignado. A cena escurece e clareia no palácio do governador Cromácio).

CENA. 10

Sebastião diante do governador de Roma. Sebastião acaba se entregando que é cristão e o governador e o seu filho Tibúrcio, acabam acatando seus ensinamento.

SEBASTIÃO

Governador Cromácio...

CROMÁCIO

Ora... Entre Sebastião... Fique à vontade! Afinal de contas, és um exemplo para a nossa cidade!

SEBASTIÃO

Não me vejo com tanta dignidade para tanta homenagem, excelso, governador! Eu não estou acostumado com isto! Eu sou de família muito humilde para estar diante de homens tão importantes para Roma... (Entra o Tibúrcio).

CROMÁCIO

Tibúrcio... Este é o tão falado Sebastião...

TIBÚRCIO

(Sério). Quanta honra, Sebastião! A cidade inteira comenta ao seu respeito! Não se fala em outra coisa! Pelo que estou vendo, não vejo motivo pra tanto alarde! Certo que é um rapaz de boa aparência, não há como negar, mas, Sebastião é de carne e osso e não passa de um simples soldado, papai...

SEBASTIÃO

(Humilde). E nunca falei o contrário, senhor...

CROMÁCIO

Não ligue para o meu filho, Sebastião! Ele é assim mesmo! Mas eu lhe chamei aqui, também pra lhe prestar uma homenagem... Eu queria lhe conhecer pessoalmente...

SEBASTIÃO

Mas por que esse interesse todo de conhecer-me, governador Cromácio?

CROMÁCIO

Sebastião! Vamos conversar cara a cara de homem pra homem... Ninguém tem o dom da palavra de conquistar outrem sem interesse algum, principalmente dentro de um ninho de serpente naquele lugar que conseguiste...

SEBASTIÃO

Suas palavras são confusas, governador... Onde quer chegar?

CROMÁCIO

Estais me entendendo perfeitamente, Sebastião... Meu nome é Cromácio... Governo Roma, já há um bom tempo... E nunca me enganei com Romanos...

SEBASTIÃO

Mas eu não sou Romano, Governador... Eu sou francês...

TIBÚRCIO

Mas se criou próximo a Roma... E já adquiriu os costumes do povo do lugar... Sabe, Sebastião? Conversei bem com meu pai e chegamos a uma conclusão...

SEBASTIÃO

(Desconfiado). E que conclusão o senhor Tibúrcio chegou?

TIBÚRCIO

Que és também uma dessas pragas que afrontam as leis do Estado! Uma ferida em putrefação que vai comendo a carne até o osso... És um perigo para nós que somos a lei, Sebastião...

SEBASTIÃO

(Quase em revolta). Se achas mesmo que eu sou uma praga, um simples servo que leva aos meus irmãos inocentes, encarcerados, uma palavra de amor e conforto... O que me dizes de um canibal sanguinolento que trucida estes irmãos sem um pingo de amor no coração e o pior... Sem deixar nenhum vestígio de sua ossada? A minha missão... É apenas libertação...

TIBÚRCIO

Tá aí a confirmação, papai... O mesmo pensamento do cristo... (Com o Sebastião).Não tem medo de ser crucificado como o tal falado filho de Davi?

CROMÁCIO

(Amável). Meu jovem! Tens muita coragem! És um guerreiro e mereces o cargo que lhe foi dado!

SEBASTIÃO

Não vão me mandar ser chicoteado?

CROMÁCIO

Claro, que não... Eu não lhe chamei por acaso, Sebastião. Gostaria de saber mais a respeito do homem que mudou a cabeça dos Romanos... Jesus Cristo! O que ele tem de tão especial, que os comandantes de Roma não tem?

SEBASTIÃO

O mestre Jesus, é o filho de Davi, o prometido... O homem que foi pregado na cruz e derramou seu sangue para libertar-nos...

TIBÚRCIO

Mas se ele é o filho do teu Deus e o mesmo é tão poderoso assim, por que o próprio não o libertou da cruz?

SEBASTIÃO

Porque tudo tinha que se cumprir! Hoje... Roma não é mais como era antes... Nós seguidores do prometido, apenas damos continuidade aos seus ensinamentos, que é levar amor aos homens de coração de pedra... Mostrar que ele é o caminho, a verdade e a luz... Não há outra forma de chegar ao pai sem ser por intermédio dele...

CROMÁCIO

A que pai se refere, Sebastião?

SEBASTIÃO

O criador de tudo e de todos... O responsável por me tornar animado e com garra para levar a sua palavra de amor aos homens do mundo... Liberte-se governador em quanto há tempo...

CROMÁCIO

E o que devo eu fazer para chegar ao reino do pai, Sebastião?

SEBASTIÃO

Siga apenas seus ensinamentos... Deus falou para um profeta chamado Moisés! Não terás outros Deuses diante de mim! Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há acima dos céus e faço misericórdia até mil gerações daqueles que amam e guardam os meus mandamentos! Amar a Deus sobre todas as coisas! Ame a teu próximo como a ti mesmo! Honrar pai e mãe! Não furtarás! Não cobiçais a mulher do próximo! Não adulterarás! Não furtarás! Não dirás falso ao testemunho contra o seu próximo! Não tomarás o nome do senhor teu Deus em vão! Não cobiçarás a casa de teu próximo! Se cumprires com afinco os mandamento do pai, ganharás o reino dos céus...

CROMÁCIO

Suas palavras são sábias, Sebastião! Agora é que vejo sentido em tudo...

TIBÚRCIO

Estamos diante de um enviado do senhor, papai...

CROMÁCIO

Faça deste ambiente o local de trabalho do senhor! (Tentam se ajoelhar, mas Sebastião os impede).

SEBASTIÃO

Não precisam se ajoelhar diante de mim! Também estou servindo ao pai! Chegou a hora de me retirar... Pois tenho muitos afazeres em proll da palavra do senhor... Fiquem com Deus... (Cromácio e o Tibúrcio abraçam Sebastião. As luzes se apagam em resistência. A sonoplastia libera uma narração).

NARRAÇÃO

Naquele dia Sebastião saiu com o coração em festa. Pois o que parecia impossível acabara de se tornar realidade. O governador Cromácio e seu filho Tibúrcio ouviu a voz daquele soldado cristão. O que Sebastião não sabia era que aquela alegria a qualquer momento iria se tornar um mar bravio e sua vida estava prestes a mudar completamente... Assim que chegou no império, o soldado de cristo foi diretamente às prisões levar a alegria e entusiasmos para aqueles irmãos que estavam sem esperança de vida e o soldado que se sentiu traído se mostrou um amigo arrependido; mas, cuidado em confiar demais, Sebastião. Esta serpente aparentemente dócil está de boca aberta pronta pra abocanhar... (A cena clareia nas celas do império de Diocleciano).

CENA 11

Sebastião leva a palavra de conforto aos cristãos encarcerados. A luz clareia nas prisões. Sebatião coloca novos presioneiros nas celas juntamente com os outros soldados.

MOHÁ

(Condolente). Peço-Lhe perdão, Sebastião... Agora eu sei o quanto és bravo e guerreiro... Sinto-me envergonhado de ter lhe tratado da forma que tratei... Estou aqui para servir-te... (Se ajoelha).

SEBASTIÃO

Levanta-te, Mohá... Eu confio em ti... Não se sinta menor... Pois só estou recebendo ordens do imperador! Para mim o comando sempre estará em tuas mãos... (Os soldados entram com outros presos e empurram dentro das celas).

MOHÁ

Batam até a morte nestes vermes imundos... (Começam a bater. Sebastião impede).

SEBASTIÃO

(Gritando) Parem com isso... Parem com isso... Eu os ordeno... Parem com isso... (Todos param e ficam abismados olhando para Sebastião). Por que tratam os prisioneiro dessa forma? Não vêem que eles não fizeram absolutamente nada para ter o castigo que estão amargando? (Nervoso). Não tens sentimentos, soldados? Quem são os vermes na realidade? Eles que não cometeram crime algum, ou vocês que são pagãos, que não tem nada na cabeça a não ser semente da ira de um louco, que trata os irmãos como se ele fosse o criador das vidas depositadas dentro destas celas? Não se envergonhas disso? (Gritando). Nunca ouviram falar de um cristo que morreu pregado numa cruz por todos nós? Filho do próprio criador destas almas que vocês insistem em separa-las do corpo? Ora procurem mais o que fazer... Podem deixar que deles, cuido eu... Vamos se retirem... (Todos saem. Mohá fica boquiaberto com a atitude de Sebastião. Faz menção que vai sair e se esconde para ver até onde Sebastião vai).

PRISIONEIRO 3

Vocês não têm coração? (Transição). Meu jovem... Amenize o nosso sofrimento! O nosso grito já não adianta mais... Ninguém quer nos ouvir... Ninguém... Já pedimos piedade a Jesus pelo imperador... E por você também... Acabe de uma vez por todas com esse sofrimento... Dessa forma apenas estás antecipando nossa hora...

SEBASTIÃO

Ninguém tem o poder de tirar a vida que o nosso o nosso Deus, que está nos céus nos deu... (Os prisioneiros se olham sem entender).

PRISIONEIRO 4

(Em tom de revolta). A que Deus estás se referindo? Um Deus de ouro adorado por um homem que não tem escrúpulos e sem coração?

SEBASTIÃO

Não... Eu não faço parte dessa joça! O Deus a quem sirvo é o mesmo de cada um de vocês... Estou aqui apenas para servir! Amenizar os sofrimentos...

PRISIONEIRO 4

Amenizar sofrimentos? Ora por favor! Sabes quantos de nosso povo já não estão entre nós por causa desse louco que está aí no poder? A quem realmente serves e adoras? Talvez seja um Deus feito barro ou de ouro representando riquezas de ambiciosos de Roma... Ou um Deus pai criador que mandou seu filho pra derramar seu sangue numa cruz por todos nós?

SEBASTIÃO

Eu sei que o momento é de revolta... Mas eu já falei! Eu sirvo a Jesus Cristo... E felizes são vocês que guardam no peito o amor de um Deus vivo...

PRISIONEIRO 3

Muito bem... Então prove isso! Solte-nos daqui...

SEBASTIÃO

Não posso no momento... Mas lutarei para tal libertação... Lutarei contra dragões... Desafiarei o imperador se for preciso... Derramarei o meu sangue também... Tudo em proll da libertação dos meus irmãos em cristo...

PRISIONEIRO 3

Suas palavras são sábias demais, mas, não são convincentes... Agora deixe-nos, Soldado... Deixe-nos apodrecer aqui dentro... Curtindo o sofrimento e esperando a hora que vamos todos morrer!

SEBASTIÃO

Não... Não pensem assim... Eu estou aqui... Podem confiar que eu sou um enviado do cristo! Eu também vim trazer a palavra... (Mohá o observa nitidamente). Eu sou um cristão igual a vocês... O fato d’eu estar com roupa de soldado não quer dizer absolutamente nada... É uma forma de ter acesso ao imperador! Peço-lhes que não se desesperem! A esperança é a última que morre... Por mais escuro que esteja o tempo, logo o sol volta brilhar novamente, assim é a nossa vida! Se hoje sofremos, amanhã rimos de todo o sofrimento... Jesus está aqui no meio da gente! Ele mesmo falou... Onde tiver mais de um reunido falando em meu nome, eu estarei no meio...

PRISIONEIRO 4

(Arrependido). Oh filho! Perdoa-me se fui rude demais para contigo! És, um de nós, realmente! Por favor,... O que falta para nos libertar daqui... Já não estamos mais agüentando esse poço de tormentos... Não fizemos nada a não ser servir o mestre Jesus... Peço-lhe por todos, que se não puderes fazer nada... Ore por nós, pois quando chegarmos ao reino do senhor falaremos para ele sobre o seu esforço...

SEBASTIÃO

Ele sabe das minhas intenções... Mas vamos ter fé que vai dar tudo certo e eu vou conseguir tirar a todos daqui... (Transição). Agora eu tenho que ir... Que Deus vos abençoem... (Sai. Os prisioneiros levantam a mão acenando. A luz vai diminuindo em resistência e um foco de luz clareia somente no Mohá com expressão de ironia e sai acompanhando Sebastião).

A CENA 12

Pátio da guarda. Uns soldados comentam da pregação de Sebastião. Mohá se infiltra no meio. Sebastião se aproxima dos soldados e abraça o Mohá

SEBASTIÃO

Fechem as portas... Aqui dentro paredes têm ouvidos...

SOLDADO 6

Fala-nos a respeito do mestre Jesus Sebastião...

MOHÁ

(Ironicamente). Ora, Sebastião! Pelo visto serves fervorosamente ao senhor Jesus...

SEBASTIÃO

(Com o Mohá). Por que não fazes o estais com vontade de fazer, Mohá? O cristo a quem sirvo também foi traído por um que se dizia amigo... (O Mohá sai de cena apressado).

SOLDADO 7

Não temes as represálias que o cristo teve que amargar, Sebastião?

SEBASTIÃO

A minha missão é levar os ensinamentos que ele deixou aqui na terra...

SOLDADO 6

Queremos saber mais a respeito do mestre! Estamos do seu lado, Sebastião...

SEBASTIÃO

Eu sei... Sei também que a minha hora está próxima... Pois todo àquele que der continuidade aos ensinamentos do mestre Jesus sofrerá martírio perante os homens da terra... Mas no futuro, o mundo acatará o que eu estou falando... Vendo Jesus as multidões que o acompanhava, subiu ao monte e ao lado de seus discípulos passou a ensina-los dizendo: “Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus/ Bem aventurados os que choram porque serão consolados/ Bem aventurados os mansos porque herdarão a terra/ Bem aventurados os que têm fome, porque serão fartos/ Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia/ Bem aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus o todo poderoso/ Bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus/ Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus/ Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem mentindo disserem todo o mal a vós/ Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós”. Este é um dos ensinamentos que o mestre deixou...

SOLDADO 7

E como podemos se comunicar com o mestre?

SEBASTIÃO

Através da oração que ele ensinou aos seus discípulos: “Pai nosso que estais no céu/ Santificado seja o teu nome/ Venha a nós o teu reino e seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu/ O pão nosso de cada dia dai-nos hoje/ Perdoai todas as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos ofende/ E nos deixeis cair em tentação e livre-nos de todo o mal...” Que Jesus Cristo esteja com todos. (As luzes se apagam. A sonoplastia libera uma música movimentada e a iluminação vai clareando gradativamente o salão do imperador Diocleciano. Todos conversam bebem e dão gargalhadas).

CENA 13

Palácio do Imperador Diocleciano. Mohá ex-comandante da guarda pessoal do imperador. Denuncia Sebastião.

MOHÁ

Majestade... Majestade! Tenho notícias!

DIOCLECIANO

De novo aqui, Mohá? Guardas... Guardas... Ponha-o pra fora daqui... (Os soldados se aproximam e o pega).

MOHÁ

(Tentando convencer). Majestade... Com todo respeito escute-me... Por favor... Tenho notícias graves a respeito de sua guarda... São coisas que vossa majestade ainda não sabe... Escute-me é com certeza de seu interesse...

DIOCLECIANO

(Como quem não gostou e com ironia). Tens notícias? Do meu interesse? Pelo que me consta essa função não mais lhe pertence, Mohá! Onde está Sebastião? Sabias que podes ser punido por querer ultrapassar as ordens de um superior da guarda pretoriana?

MOHÁ

Peço-lhe que me perdoe, Majestade... Mas para a sua defesa, não poderia deixar de lhe informar uma notícia tão grave quanto esta...

DIOCLECIANO

(Sem entender). Grave? Mas do que estás falando? Vamos... Seja mais objetivo...

MOHÁ

O que diria, majestade? Se um homem de sua extrema confiança o apunhalasse pelas costas?

DIOCLECIANO

Isso jamais poderia acontecer... Pois ao colocar um homem ao meu dispor e dar-lhe um cargo de confiança é porque conheço muito bem com quem estou lhe dando...

MOHÁ

Perdoe-me novamente, majestade... Mas, abra bem os olhos com os seus servos...

DIOCLECIANO

O que estás querendo me dizer? Sabes alguma coisa que eu não estou sabendo ainda?

MOHÁ

Pergunte a Sebastião...

DIOCLECIANO

Perguntar a Sebastião? Não convém um soldado de sua marca, querer derrotar o maior exemplo que tenho no meu império... Sebastião recebeu a patente de comandante de minha guarda pessoal... Merecidamente...

MOHÁ

Se lhe consola ter um traidor nessa cargo tão grandioso, Majestade... Perdoe-me mais uma vez pela intromissão... (Faz menção que vai sair, mas, é impedido pelo Diocleciano).

DIOCLECIANO

Espere aí, Mohá... Pareces ter muita certeza no que estás falando... O que sabes a respeito de Sebastião?

MOHÁ

Ele contrariou o dever oficial da lei! Sebastião é cristão também, majestade...

DIOCLECIANO

(Sério). O que? (Rir). Que loucura é esta? Só podes estar louco! Mas isto é impossível...

MOHÁ

Não é não, majestade... Acabei de ver o Sebastião pregando pensamentos do cristo aos encarcerados... Eu posso estar com ciúmes dele ter tomado o meu cargo... Mas também vossa majestade me conhece e sabe que eu não sou um homem de mentira...

DIOCLECIANO

(Começando a se descontrolar). Mas isso é crime perante a lei romana... Isso é uma afronta às minhas ordens... Veja bem o que estás fazendo, Mohá...

MOHÁ

Estou com a consciência tranqüila, majestade... Se quiser pode chamá-lo à minha frente e perguntar... Se ele acredita tanto no tal Cristo mesmo... Ele não vai negar diante da minha presença...

DICLECIANO

(Nervoso). Então o que está esperando? Chame Sebastião aqui... Agora... (O soldado cumprimenta o imperador e sai sorridente. A cena escurece e clareia na rua, onde muitas pessoas passeiam pelas ruas. Uma luz intensa clareia na frente da casa de Irene e a mesma está com uma cesta de frutas nas mãos).

CENA 14

Frente à casa de Irene. A mãe e o Pai de Sebastião chegam à casa de Irene e diz que está com maus pressentimentos e pede para ir até o palácio. Algo está mandando ela ir até o palácio do imperador.

MÃE

(Com o pai de Sebastião). Vamos, homem... Precisamos chegar a tempo na casa de Irene... Não sei o que está acontecendo, mas, meu coração de mãe me diz que algo muito ruim está por vir...

PAI

É ilusão, mulher... Acho que tiveste um pesadelo ruim... Daqui a pouco vais ver que tá tudo bem...

MÃE

Pode ser, mas, eu preciso chegar a casa de meu filho... Talvez a Irene já tenha alguma notícia... Irene... Irene... Irene... (Chega próxima a Irene). Irene...

IRENE

Estou aqui... (Se aproxima nervosamente). Mas por que a aflição? Está sabendo alguma notícia de Sebastião que eu não estou sabendo ainda?

MÃE

(Tensa). O meu peito está apertado, Irene! Alguma coisa ruim estar para acontecer com o nosso Sebastião...

PAI

Loucura da cabeça desta minha esposa, Irene! Aposto que o Sebastião está lá... Muito bem...

MÃE

(Desesperada). Eu quero ver o meu filho... Eu quero ver o meu filho... Intuição de mãe não falha...

IRENE

A senhora tá me deixando preocupada... Não custa nada irmos atrás do Sebastião... Vamos? (Todos saem. A cena escurece e acende no palácio de Diocleciano).

CENA 15

Palácio de Diocleciano. Sebastião diante do grande imperador. Confirma toda desconfiança.

SEBASTIÃO

Mandou me chamar, majestade?

DIOCLECIANO

(Sério). Mandei sim, Sebastião... E me responda uma coisa com toda sua sinceridade... Tens coragem de um dia me trair?

SEBASTIÃO

(Sério). Claro, que não, majestade? Mas por que a pergunta?

DIOCLECIANO

Pois bem... Fui informado, que estavas pregando palavras de encontro aos meus princípios sobre o tal cristo... Responda-me, Sebastião... Por acaso... Isso se constitui numa verdade?

SEBASTIÃO

A fé nos ensinamentos do mestre Jesus, me deixa na obrigação de consolar e animar os candidatos ao martírio aqui na terra mas, que recebem a coroa de glória no céu...

DIOCLECIANO

(Com raiva). Como ousas falar asneiras diante do grande imperador de Roma... Ninguém... Ninguém a quem confio trai sua pátria assim como estás traindo... Logo eu, a quem devias adorar perante todo império... Me apunhalastes pelas costas, Sebastião... O homem que dei toda a confiança e que eu esperava uma brilhante carreira acaba de me trair... (Aos berros). Traidor... Imbecil! Traidor! Queres defender o tal cristo? Por que não defendes a mim? Pelo menos eu estou diante de ti! E faço o que for possível para sua abnegação ao tal cristo... Eu não posso acreditar que eu fui traído pelo homem de minha inteira confiança... (Dá uma gargalhada de loucura e fica sério). Eu sei que vais renunciar, Sebastião... Não posso imaginar que o melhor homem da minha guarda está do outro lado! Negas perante o povo o amor do cristo e faço de conta que tudo não passou de um grande pesadelo... Posso considerar que estamos conversados?

SEBASTIÃO

(Decidido). Eu sou cristão, majestade! E nunca vou deixar de amar aquele que veio trazer amor aos homens! E o que me anima a viver é ter a oportunidade de seguir a fé em Jesus Cristo e socorrer os presos e perseguidos por vós... Não vejo como crime, carregar amor no coração pelo próximo, majestade... Vejo como crime degredar e mandar matar inocentes, como se mata ratos e baratas, pisando-os e humilhando-os sem piedade alguma... Não te sentes um criminoso agindo dessa forma?

DIOCLECIANO

(Com raiva). Criminoso? É assim que tratas o grande imperador, Sebastião? (Irônico). Não vês que estais sendo rebelde demais, Sebastião? (Alterado). Não temes que eu tenho o poder de mandar-te para a cruz da mesma forma que Roma mandou o cristo a que tanto adoras?

SEBASTIÃO

Não temo represálias terrenas! Temo o castigo do pai que está nos céus e que é realmente o poderoso...

DIOCLECIANO

(Aos berros). Eu é que sou poderoso! O mundo conhece e teme Diocleciano! Eu dei a chance de renúncia, mas, não estou vendo resultado... Estais irrenunciável... E por causa desta tua rebeldia, vais ser sentenciado a morte sem direito a apelação! (Enlouquecido). Guardas... Guardas, imbecis... (Todos os guardas se aproximam a postos). Quero toda a minha guarda perante a minha presença agora... Guardas... Guardas... (Transição). Tirem este maldito da minha frente! Quero que levem-no até a floresta e matem-no a flechadas e deixe-o sangrar até a última gota de sangue... Vamos ver se o tal cristo vem lhe salvar, Sebastião... Desapareçam da minha frente! Nunca mais quero ter notícia que existiu um Sebastião na minha guarda pretoriana... Saiam do meu palácio, vermes nojentos... Fora... Saiam da minha frente... Desapareçam da minha vida... Fora... Fora... Fora... (Todos os guardas levam Sebastião. As luzes vão se apagando).

CENA 16

Flagelo de Sebastião. Os soldados o empurram. Levam até o pátio da guarda montam em cavalos e saem puxando até a floresta como o Diocleciano ordenou. A mãe de Sebastião entra em desespero gritando, pedindo para os guardas terem piedade. A cena clareia na floresta e lá, os soldados rasgam as roupas de Sebastião e o amarram em uma árvore.

MÃE

(Em prantos). Não façam isso... Deixem meu filho em paz... Ele não fez nada para merecer esse castigo...

MOHÁ

Tirem esta mulher do caminho...

MÃE

(Em desespero). Soltem o meu filho... Vocês não sabem o que estão fazendo! Ele é um filho de Deus...

PAI

(Se aproxima). Mulher...

SOLDADO 8

Estamos cumprindo ordens do imperador Diocleciano... Agora saia da frente!

MÃE

(Se desprende do pai de Sebastião e vai encontra-lo). Meu filho... (Alisando o rosto de Sebastião). Fazes como mestre Jesus fez... Perdoa-os! Eles não sabem o que estão fazendo...

IRENE

Esposo meu... É um momento difícil...

SEBASTIÃO

Está se concretizando o que já era esperado! Tudo acontece conforme Deus permite! Eu já os perdoei, mãe... Pai... Cuida da minha esposa como tua filha e conforta a minha mãe para amenizar o seu sofrimento... Deus está agora, do nosso lado...

MOHÁ

Agora chega! (Empurra a mãe e o pai. O povo agita. Os soldados rasgam as roupas de Sebastião do qual fica apenas com alguns trapos o envolvendo. O chicoteiam e o mesmo grita de dor. A mãe grita apavorada. Os guardas o amarram em uma árvore). Vamos façam como o imperador mandou fazer... Fleche-o até derramar a última gota de sangue... (Os guardas se preparam para atirar as flechas. A iluminação joga fachos de luz como espécie de relâmpagos, acompanhados de trovão. A cena escurece parecendo noite. A luz vai clareando gradativamente e Sebastião está com algumas flechas cravadas no peito). Dessa ele não escapa... Vamos embora! Deixe a família levar o corpo... (Os guardas se retiram. Uma música envolvente enriquece a cena todos ficam diante do corpo de Sebastião. O pai o desamarra e a mãe senta no chão abraçando o corpo do filho. Repentinamente Sebastião suspira forte).

IRENE

(Surpresa). Sebastião... Sebastião... Ele está vivo... Graças a Deus...

MÃE

(Chorando). Glória a Deus nas alturas... Muito te agradeço senhor Jesus... Obrigado, senhor...

PAI

Meu filho... Fale alguma coisa...

SEBASTIÃO

Estou bem, pai... (Todos se olham felizes).

IRENE

Precisamos tira-lo daqui, antes que alguém descubra que ele está vivo... Vamos leva-lo pra casa depressa... (Pegam Sebastião nos braços e o levam pra casa. A cena escurece e a sonoplastia libera uma narração).

NARRAÇÃO

Sebastião conseguiu escapar daquele tormento... Será que foi sorte? Ou será que o próprio Cristo não quis que ele tivesse mesmo fim. Será? O tempo passou e segundo alguns relatos, ele foi curado dos ferimentos graças a ervas e o amor que seus familiares depositavam naquele jovem seguidor dos ensinamentos da palavra de Deus... (A luz vai clareando gradativamente na casa de Irene).

CENA. 17

Casa de Irene. Irene trata as feridas de Sebastião com ervas medicinais e água morna.

IRENE

Tragam-me mais água morna... (Algumas pessoas vão pegar água).

SEBASTIÃO

(Com um pouco de dificuldade de falar). Estou bem... Não precisam se preocupar comigo! As flechas não me atingiram profundamente...

MAE

Não se mexa Sebastião... Seu corpo ainda tá muito quente... As feridas estão muito expostas...

SEBASTIÃO

Estou bem... Obrigado por vocês existirem... Eu falei que o nosso Deus estava conosco... (Entra o pai de Sebastião com algumas ervas na mão).

PAI

Trouxe mais ervas... Depois de alguns banhos, o nosso menino de Deus vai estar novinho em folha... (Se aproxima de Sebastião). Meu filho... Não imaginas o quanto ficamos apavorados na hora... Pensamos que estavas morto! Nós te amamos filho... (O pai o abraça e Irene abraça a mãe de Sebastião. As luzes vão se apagando. A cena clareia no palácio do imperador Diocleciano).

CENA. 18

Palácio de Diocleciano. Os guardas confirmam a morte de Sebastião.

DIOCLECIANO

Já? Fizeram o mandado?

MOHÁ

Tudo como vossa majestade ordenou... Deixamos-lo sangrando no tempo... Sebastião, nunca mais, majestade...

DIOCLECIANO

(Irônico). Muito bem, soldado! Eu deveria ter confiado mais no seu talento, Mohá! Eu errei! A partir de agora estais no teu posto novamente! Espero que não sejas um traidor, assim como foi Sebastião...

MOHÁ

O que é isso, majestade? Jamais eu deixarei de te amar pra adorar um cristo perdedor, que teve um final vergonhoso pregado numa cruz...

DIOCLECIANO

E o Sebastião servo dele também... Aliás, qualquer um que falar sobre o cristo, o final eu quero que seja a morte sem piedade... Qualquer um... (Ri loucamente). Tragam vinho pra comemorar... (Os guardas se abraçam entre si e uma pessoa serve vinho. As luzes vão se apagando em resistência. A próxima cena é na casa de Irene).

NARRAÇÃO

Algum tempo mais tarde, Sebastião se recupera totalmente dos ferimentos e os comentários que o cristo havia feito mais um milagre por ter curado aquele jovem, já se tornara uma epidemia em toda Roma. Sua mãe preocupada que a notícia chegasse aos ouvidos do imperador, mandou que Sebastião arrumasse alguns trapos e fosse embora do lugar... Fuja, Sebastião enquanto há tempo... Mas o coração do jovem ainda continuava apertado; em saber que os seus irmãos ainda estavam enclausurados na prisão... O seu amor ao próximo falou mais alto e mandou ele voltar ao império continuar o seu trabalho de cristão...

CENA. 19

Casa de Irene. A mãe de Sebastião manda ele fugir. Mas Sebastião resolve ir ao encontro de Diocleciano.

MÃE

(Corre desesperada). Sebastião... Sebastião...

SEBASTIÃO

Mãe... Por que essa aflição? Aconteceu alguma coisa?

PAI

Sebastião... Meu filho... Todo mundo está comentando que a sua sobrevivência foi milagre do mestre Jesus! Precisas fugir da cidade com urgência...

SEBASTIÃO

Fugir? Mas... Pra onde, pai?

MÃE

Filho... Escute a sua mãe! Pelo amor de Deus! Arrume alguns trapos e fuja enquanto há tempo...

IRENE

Os comentários já estão por toda a cidade de Roma, que sobreviveste ao ataques das flechas... Não vai demorar chegar aos ouvidos de Diocleciano... Pelo amor de Deus... Se junte às caravanas e saia da cidade antes que seja tarde demais...

SEBASTIÃO

Fugir? Me sentiria um covarde se fizesse tal coisa... O povo de cristo está lá encarcerado esperando a morte chegar! Eu não posso me acovardar!

PAI

Por acaso estás pensando em voltar lá? Enlouqueceu de vez, Sebastião? Sabes que dessa vez não vai escapar da morte? Vais fugir da cidade imediatamente pra bem longe daqui...

SEBASTIÃO

Não, meu pai... Agradeço ao nosso Deus, pela oportunidade de ter sobrevivido dos ataques daquelas flechas... Agora estou novamente fortalecido...

MÃE

Sebastião... Vais morrer, meu filho... Já fizeste a tua parte...

SEBASTIÃO

Não, não... Não devemos pensar só em nós... A minha missão aqui é servir ao senhor Jesus... E eu ainda não concluí a minha obra... Não vou perder mais tempo... (Com o pai). Me abençoe, meu pai...

PAI

Está abençoado, meu filho... Faça o que seu coração está pedindo...

MÃE

(Chorando). Não, meu filho... Não vá...

SEBASTIÃO

(Com a mãe). Mãe... Tudo acontece conforme Deus quer! Não deves chorar por mim de tristeza... Àqueles irmãos estão precisando de todo amor e carinho fraterno... Estão precisando do meu conforto! Eu não posso deixa-los numa hora que eles mais precisam de mim...

MÃE

Eu entendo, meu filho... Apesar de estar com o coração em pedaços! Estou sendo egoísta em tentar impedi-lo... Jesus vai estar contigo... Como seu pai falou... Ouça a vós do seu coração... (Sebastião beija a mãe. Abraça o pai e o beija. Abraça carinhosamente a sua mulher Irene).

SEBASTIÃO

Fiquem com Deus... (Sai de cena, pega o cavalo e sai. Todos acenam com a mão para Sebastião. A cena escurece).

CENA. 20

A próxima cena é no salão do imperador Diocleciano. A volta de Sebastião para desafiar o grande imperador Diocleciano.

DIOCLECIANO

(Em cena como quem não está acreditando). Falaram-me que estavas aqui... Não acreditei, claro... Impossível! Não posso acreditar no que meus olhos estão vendo... Meus soldados garantiram que estavas morto... Traidores... Traidores... (Transição). Por acaso... És uma miragem? Quem és tu?

SEBASTIÃO

Eu não sou uma miragem, imperador... Eu sou Sebastião... A quem mandaste humilhar perante o fórum e aos olhos dos curiosos de Roma...

DIOCLECIANO

(Com ar de louco). Mas não pode ser... Estás morto! A ordem é matar qualquer um que ousar desafiar-me! Pensamento cristão a sentença é a morte! Afinal de contas, quem é o imperador aqui? Eu dou ordens para serem cumpridas... Estás vivo... (Boquiaberto). Vivo... (Transição como em loucura). Vivo... Malditos guardas incompetentes... Mohá... (Transição grita cheio de ódio). Maldito... (Transição dá uma gargalhada). Mas eu vou te abrir uma exceção, Sebastião! Novamente... Ainda vou te dar uma chance! Falas em bom tom... Que vieste aqui arrependido e que vai servir-me, pois me acha poderoso e que vais me adorar para sempre! Assim, lhe devolverei o posto de comandante da minha guarda pessoal novamente... O que acha, Sebastião?

SEBASTIÃO

Não voltei para o tal propósito! O fato d’eu estar vivo não quer dizer absolutamente nada! Devia te fazer concluir que o poderoso é o Deus que adoro... Aquele que mandou seu filho e que vocês humilharam, cuspiram na cara e o pregaram na cruz até derramar a sua última gota de sangue...

DIOCLECIANO

(Com raiva). Quer dizer então, que insistes em me afrontar? Ainda continuas com rebeldia, traindo a sua pátria... És um inimigo de teu próprio Estado, Sebastião...

SEBASTIÃO

Não fazes bem perseguir os servos daquele que mandastes pra cruz do calvário... És injusto e sanguinário... Pois condenas a morte impiedosamente àqueles que o único crime que carregam nas costas é o amor Deus... E os seu deveres para com o Estado, jamais foram descumpridos! O que queres mais? Não temes as represálias dos céus? Aqueles sim... São inocentes, que deveriam receber lauréis por estar servindo o Deus todo poderoso criador de tudo e de todos...

DIOCLECIANO

(Aos berros). Chega! Como se atreve a tamanha ousadia? Me recuso a ouvir tanta asneira... (Botando as mãos nos ouvidos). Eu pensei que já tinha extinguido as pragas que o cristo deixou espalhado pela cidade de Roma... Como uma peste epidêmica... Calhorda... Traidor... Estou diante de um demônio em pele de cordeiro! Acabaste de assinar tua própria sentença de morte, Sebastião... E desta vez não vais escapar!

SEBASTIÃO

Não temo a morte! Aliás, todo aquele que come o pão da vida e bebe o vinho celebrando o sangue que o mestre derramou na cruz, sempre estará no reino dos céus... E como o próprio mestre falou... É mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico chegar aos reinos dos céus...

DIOCLECIANO

(Aos berros bate na cara de Sebastião). Cale esta tua boca... (Louco). Guardas... Guardas... Mohá... Guardas... Onde estão todos, vermes incompetentes... Guardas... (Uma fileira de guardas chega ao encontro do Diocleciano. Transição. Brando, mas em loucura). Guardas... Mohá... Por acaso sabeis quem é este homem, Mohá? (Todos ficam calados. Diocleciano passeia pela fileira). Sabe? Responda-me! Incompetente! Prometeram-me que Sebastião estava morto... Falháreis comigo... Falháreis comigo... Irresponsáveis... Ele... Pela segunda vez assinou a sua sentença de morte! Quero que o levem até o fórum e lá, na frente de todos cristãos ou não cristãos... Matem a pauladas e golpes de bolas de chumbo... Não quero ninguém venerando o seu corpo... Jogue-no dentro do esgoto da cidade... Agora saiam da minha... Não quero falhas... Fora... Fora da minha frente bando de dementes... Fora... Fora... Fora... (Sai de cena alucinado. Os guarda amarram as mãos de Sebastião e saem puxando ele. A cena escurece).

CENA. 21

A morte de Sebastião. A cena clareia na rua de Roma. Sebastião é açoitado, humilhado e morto pelos soldados romanos. Assim que a cena clareia. Sebastião entra pelas ruas de Roma, sendo empurrado pelos soldados.

MOHÁ

Quer ser também o filho do seu Deus? (Chicoteia o Sebastião e ele faz expressão de dor).

SOLDADO 9

Ninguém desafia Diocleaciano, o grande imperador de Roma... (Empurra-o para o outro soldado e eles fazem uma brincadeira, um, empurrado para o outro). Segura...

MOHÁ

És outro filho prometido de Davi? (Todos caem na gargalhada).

SEBASTIÃO

Não sou digno de tamanha honra! Apenas sou um servo do amor de cristo...

SOLDADO 10

Nem na hora de tua morte, se curva diante do poderoso imperador?

SEBASTIÃO

O poder dele é sobre os homens terrenos... O poder e o reino do mestre Jesus, não é nesse mundo...

MOHÁ

Traidor... (Cospe na cara de Sebastião).

SEBASTIÃO

(Lamento). Senhor Jesus Cristo...

SOLDADO 9

Ele que se diz o rei não conseguiu se livrar da cruz... Quanto mais... (Irônico). O seu servo... (Todos caem na gargalhada). Vamos... Tenha piedade dele, Jesus... (Outra gargalhada. Transição bate na cara de Sebastião). Quem diria... O chefe da guarda pretoriana... Agora não passa de um...

SEBASTIÃO

Façam o que quiserem... É chegado o momento, eu sei... Sei também que estarei servindo ao meus Deus, ao lado de Jesus Cristo...

MOHÁ

Vamos acabar de uma vez por todas com essa palhaçada... Vamos peguem os porretes... (Todos pegam pedaços de pau e o cercam dando entender que estão acertando no mártir. Logo em seguida todos se afastam e ao lado do corpo há muito sangue. A mãe de Sebastião, o pai e a sua mulher Irene se aproximam desesperadamente).

MÃE

(Cai em pranto em cima do corpo). Nããããoooo... Mataram meu filho como quem mata bicho... Covardes... Covardes...

PAI

Tenha calma... Agora ele faz parte do reino dos céus... Tinha que acontecer... Temos que se conformar... Irene... Ele se foi... Mas o mundo jamais vai esquecer do amor que Sebastião deixou para com seus irmãos aqui na terra... Eu como pai me sinto lisonjeado de ter recebido a incumbência de receber das mãos divina esse filho que agora está nas mãos do senhor Jesus Cristo... Vá em paz, meu filho...

IRENE

Não chore, mãe... A partir desta data o céu está em festa... Ele virou santo porque morreu lutando pelo amor e tentando levar a paz aos homens de boa vontade... O meu esposo... (Rir olhando para os pais de Sebastião). Pai... Mãe... Este é o vosso filho... Estamos diante de um santo do senhor... E que Jesus Cristo esteja com ele e permaneçam juntos de todos nós para sempre... (Todos se ajoelham diante do corpo de Sebastião. A mãe chora descontroladamente abraçada ao corpo. Música de fundo sobe. As luzes se apagam).

CENA. 22

A cena vai clareando acompanhada de sonoplastia. Em cena está Sebastião deitado sem vida no chão. Uma música envolvente inunda a cena. Uma voz divina faz a narração final.

NARRADOR

Morre Sebastião a pauladas no dia 20 de janeiro no ano 288 depois de cristo. Uma mulher conhecida por Luciana e seus familiares sepultaram o corpo do mártir em catacumba e os restos mortais de são Sebastião foram levados para uma basílica em Roma construída pelo imperador Constantino no ano 680 depois Cristo, onde permanece até os dias de hoje... (Música sobe. A cena clareia com relâmpagos e trovões).

CENA. 23

A ascensão do espírito de Sebastião. A luz vai clareando em resistência envolvida por uma música. Sebastião está prostrado no chão sem vida. Trovões e relâmpagos dão um show à parte à cena. Muitas luzes clareiam em várias cores todo o cenário. Anjos trajando roupas transparentes fazem coreografia como em um balé. Uma mão imensa desce lentamente e uma voz majestosa o chama.

VOZ

Sebastião... Sebastião... Ouça a minha voz... (Vai acordando lentamente). Vamos! Venha conhecer comigo a casa do pai... (Sebastião se acomoda sobre a mão e a mesma vai subindo até as nuvens).

SEBASTIÃO

Estou subindo à casa do pai, sobre as mão do majestoso mestre Jesus! Mas lembrem-se da mensagem de amor que o cristo falou! Ide ao mundo e pregai o evangelho a toda a criatura... Jamais abandonarei meus irmãos, que carregam no peito o amor ao próximo como o mestre que derramou seu sangue sagrado na cruz. Eu sou apenas um servo do amor do pai que está nos céus! Lembrem-se de mim nas horas de maior aflição e estarei servindo amor no coração de cada um... Amem uns aos outros como eu e o mestre Jesus os amou, para um dia muito próximo felizes de mãos dadas... Estarmos juntinhos ao lado pai... Deus vos abençoe e que a paz invada o coração de todos... (Música sobe e muitos fogos de artifícios explodem como em festa. As luzes se apagam e daí, chega o fim do espetáculo. “SÃO SEBASTIÃO, O MARTIR DA FÉ”).

TEXTO: SÃO SEBASTIÃO, O MÁRTIR DA FÉ

AUTOR: FLÁVIO CAVALCANTE

MÊS: OUTUBRO

ANO: 2003

Obs: Todo trabalho desenvolvido por este autor é totalmente fruto de imaginação; porém, qualquer semelhança é mera coincidência.

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 01/04/2009
Reeditado em 01/04/2009
Código do texto: T1517646
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