Fundamento (orixá grego)
Na tragédia curta de Ésquilo confirmo a suspeita sobre meu mito primordial. Prometeu Acorrentado diz mais sobre minha essência do que talvez qualquer outro texto já tenha dito. Quem dera pudesse escrever ao velho Freud, sem o qual não teria hoje instrumentos para essa compreensão, e dizer-lhe: olha a sacada desse moleque brasileiro. Acho que ele se orgulharia de mim.
Mas para quê ficar aqui celebrando meu ego, se a constatação mais importante é a de que o mito de Prometeu é um mito fundamental da condição humana? E que apenas afeta alguns indivíduos de uma maneira mais sistemática? Na companhia de quantos Prometeus eu estarei?
Só o nosso querido Luiz Guerra poderá dizer do acerto ou não do tradutor dessa edição da Martin Claret (J.B. Melo e Souza). Eis alguns trechos:
“Poder – Ele roubou o fogo, teu atributo, precioso fator das criações do gênio, para transmiti-lo aos mortais! Terá, pois, de expiar este crime perante os deuses, para que aprenda a respeitar a potestade de Júpiter, e a renunciar a seu amor pela Humanidade.”
“ Prometeu - Logo que se instalou no trono de seu pai, distribuindo por todos os deuses honras e recompensas, ele (júpiter) tratou de fortificar seu império. Quanto aos mortais, não só lhes recusou qualquer de seus dons, mas pensou em aniquilá-los, criando em seu lugar uma raça nova. Ninguém se opôs a tal projeto, exceto eu”.
“Prometeu – Graças a mim, os homens não mais desejam a morte.”
“Coro – Que remédio lhes deste contra o desespero?”
“Prometeu – Dei-lhes uma esperança infinita no futuro.”
“Prometeu – Pensas porventura que me acovarde, e que me submeta a esses novos deuses? Longe disto estou, Mercúrio!”
“Mercúrio – Eis o invencível orgulho que tantas desgraças já te causou!(...) Como seria insuportável se dominasses um dia!”
“Prometeu – Ai de mim!”
“Mercúrio – Dize, porém: de que te serve essa obstinação?”