O ócio criativo
O ócio criativo
A tese central de Domenico de Masi é a de que estamos caminhando em direção a uma sociedade fundada não mais no trabalho, mas no tempo vago. Uma sociedade em que as pessoas trabalharão cada vez menos e farão cada vez mais atividades intelectuais e criativas e menos atividades manuais e repetitivas.
Nessa sociedade pós-industrial, todos os trabalhos repetitivos e pesados seriam executados por máquinas, e as pessoas teriam muito tempo ocioso, que deverá ser utilizado de modo criativo.
Estabelece, também, uma comparação com a antiguidade grega, na qual os homens livres exerciam atividades intelectuais e lúdicas: dedicavam-se à política, à filosofia, ao estudo e aos esportes. O trabalho propriamente dito ficava por conta dos escravos. Hoje, não temos mais escravos nem máquinas tão perfeitas, mas, a cada dia, as máquinas são aperfeiçoadas e aumentadas em seu potencial de permitir que homens e mulheres tenham mais tempo para exercer o ócio criativo.
De Masi fala de uma sociedade ideal em que o jogo, o trabalho e o estudo se misturam. Usa palavras atuais como solidariedade, hospitalidade e qualidade de vida, e acena com a esperança de que a riqueza e o desenvolvimento possam acabar atingindo a todos até nas regiões mais pobres. Não fala do principal problema a resolver no planeta que é a distribuição igualitária da renda.
É preciso conseguir uma fórmula de distribuição de renda de modo que não haja países tão ricos nem países tão pobres. Em seguida, conseguir uma fórmula para distribuir a renda de modo que não haja pessoas tão pobres que não possam viver com dignidade.
Se o francês Jean Jacques Rousseau estava certo, quando disse que o homem é bom por natureza, podemos ter alguma esperança de que isso venha de fato ocorrer, mas se o filósofo britânico Thomas Hobbes, que afirmou que o egoísmo é natural ao homem, é quem estava certo, então podemos dizer que o ócio é desemprego, e daí predizer que haverá no mundo muito sofrimento, tirania e guerra.
As idéias de Domenico de Masi no livro “O ócio criativo” soam doces e sedutoras como as das cantigas de roda que eram ensinadas às crianças do jardim da infância.
Referência:
DE MASI, Domenico, O ócio criativo, Rio de Janeiro, Sextante, 2000