O Mercador de Veneza - W. Shakspeare
O Mercador de Veneza – William Shakspeare
Tradução, prefácio e notas: Beatriz Viégas-Faria
Editora: L&PM Pocket – 2007
Título original em inglês: The Merchant of Venice.
Concluída a leitura do livro, salta-me a impressão de que a despeito dos avanços tecnológicos e o privilegiado acesso às informações que o nosso século proporciona, ficamos a dever tamanha criatividade e imaginação esbanjada pelo dramaturgo inglês William Shakespeare.
Mesmo que a minha admiração pelo autor superestime suas obras, há de se admitir que Shakespeare em suas peças criou personagens ricos em traços que retratam o comportamento humano como quem o entendia profunda e intimamente. Sua magistral inventividade é capaz de levar o leitor a praticamente enxergar as cenas se desenrolarem à medida que a leitura avança.
O Mercador de Veneza conta uma estória que se passa entre Veneza e a fictícia Belmonte: um comerciante de prestígio arruinado por um contrato de risco feito com um judeu para ajudar um amigo.
A estrutura da obra tempera um drama trágico com boas doses de romantismo e comédia. É um drama baseado em questões muito presentes nos relacionamentos humanos como orgulho, arrogância, discriminação, o julgamento precipitado em contrapartida com o valor da amizade verdadeira e amor genuíno.
Em “O Mercador de Veneza”, porém, uma virtude recebe especial relevância: a misericórdia ou compaixão. Fazendo uso das palavras de Pórcia: ‘ a misericórdia é uma virtude que não se pode fazer passar à força por uma peneira, mas pinga como a chuva mansa que cai dos céus na terra. É duplamente abençoada: abençoa quem tem compaixão para dar e quem a recebe. ’ A ausência de misericórdia é muitas vezes explicada pela busca de justiça 'ao pé da letra’ quando se trata de punir devedores. Não raras vezes acontece o que Shakspeare descreve na peça sem piedade: ‘terás mais justiça do que querias. ’ Esta é uma verdade Shakspeare soube bem dissecar: “Com a medida com que medis, medirão a vós em troca.”
Dono de frases marcantes e bem colocadas Shakspeare conduz seus personagens virtuosos ou ardilosos aos seus finais nem sempre tão felizes como nas obras de ficção em geral. Afinal, a habilidade Shakspeariana retrata muito bem a vida real onde raramente ‘vivemos felizes para sempre.’
Para quem gosta de ler esta é uma envolvente leitura. Para os menos amantes, o filme “O Mercador de Veneza”, dirigido pelo indiano Michael Radford, retrata com muita proximidade o texto de Shakspeare no qual é baseado.