INTERAÇÃO PSIQUICA DA NEGATIVIDADE - Flavia Krahenhofer

Todos temos nossas negatividades, sentimentos ruins que escondemos de nós ou dos outros. Estas vêm de uma parte nossa que não cresceu, que ainda está imatura. O ser infantil quer tudo imediato, é egocêntrico, tem dificuldade de ver o grupal. Esta é nossa parte que exige tudo para si, que não superou o passado, que se fixa em culpas e obrigações.



Enquanto estas partes não forem trabalhadas, a pessoa fica presa em intencionalidade negativa com relação à vida e suas relações, só que não percebe seu próprio envolvimento, julgando-se à mercê de sorte ou azar, do carma ou das reações alheias.



Em terapia, vemos como os pacientes (e em geral qualquer ser humano) sentem-se culpados, carregando a culpa como fardo e punindo-se, retirando o próprio direito ao prazer.



A coisa é mais complexa do que explicam as teorias, segundo as quais, carregamos uma culpa devido à religião, ou á educação.



Duas pessoas adultas podem ter muita dificuldade de interagir em harmonia quando ambos seus lados infantis interagem, ou seja, a negatividade inconsciente de um interage com a negatividade inconsciente do outro. Estas partes se agridem e guardam mágoas não expressas.



A pessoa que não entende suas próprias negatividades carrega uma culpa dupla: uma porque sente coisas que não quer, como raiva, mágoas, prazer com o desprazer alheio, sentimento de vingança velado ou não, etc. Outra parte é a que esconde esta negatividade. Então, um processo é sentir e o outro é esconder. Em terapia é difícil que um cliente fale abertamente de suas emoções mais vis e negativas, admitir para si já é um problema.



As regras sociais dizem que temos que amar pais, filhos (da mesma maneira), perdoar, entender, enfim! Uma parte nossa em geral bem racional que tenta entender e perdoar nem sempre consegue. O processo não pode ser teórico e sim completamente sentido.



Nossa parte adulta e competente manda nossa parte infantil e imatura compreender e aceitar, ser boazinha etc. Mas na realidade, não queremos sequer enxergar este nosso lado vulnerável e carente. Quanto mais nosso lado “criança” for tiranizado, não aceito, exigido, e fingido, mas ele vai gritar e incomodar, trazendo à tona medos, neuras, fobias e inseguranças. Exatamente como uma criança ignorada faz. Ela costuma incomodar e se tornar rebelde ou problemática quando não ganha amor, aceitação e admiração.



Ocorre que todos temos um lado criança, inseguro que precisa ser amado e nutrido por nós mesmos. Quando não nos damos isto, então precisamos que alguém de fora nos dê provas de amor. Que nos tranqüilize que somos seres dignos de amor quando nós mesmos não fazemos isso. Claro que todos precisamos de amor. A questão é, a pessoa que tiraniza seu lado infantil, vai querer que o outro compense muito fortemente esta pressão e por mais amor externo que receba, nunca vai ficar satisfeita ou tranqüila. Sempre vem o medo de perder.



Só é feliz e satisfeita a pessoa que se nutre, que se aceita, que se admira e entende seus limites. Daí esta pessoa está preparada para reconhecer quando é amada e se satisfazer com este amor. Não há amor que satisfaça uma carência de infância, quando esta não é aceita e transcendida pelo seu próprio dono.



COMO FAZER ISSO?



O primeiro passo é para de fingir para si mesmo. Parar de fingir que não tem sentimentos ruins, que não se apraz com algo que dá errado com aquele alguém que secretamente inveja, com o fracasso alheio que mostra que ninguém é perfeito e assim você não está sozinho na incompetência.



Um lado nosso quer a união e a transcendência, mas o ego acredita que somos todos separados, que a vida pode ser finita e que ele pode acabar com a morte. Nesta separação, o ego acredita que tem que comparar-se e que tem valor se ganhar a competição. O ego sempre se compara. Do ego para a sociedade, tudo funciona na base da comparação. Esta é a crença na separatividade e na matéria em detrimento da vida energética. Se formos ver em termos da vida material baseada no ego, as estatísticas sociais são assustadoras: falta emprego, bons homens, boas mulheres, a velhice é o fim, o mundo é violento.



O ego vê a vida sob este prisma superficial e raciocina: “ se eu me entregar à vida, ao amor e ao outro verdadeiramente, irei me frustrar”. Porém, todos temos a contraparte, a necessidade de transcender, de união, temos o instinto de amar muito forte e é verdade que um lado nosso quer muito o amor. A ficha que não cai é o lado que resiste por medo de sofrer. Neste embate, a pessoa finge que quer, porque percebe basicamente o quanto sente vontade, mas não percebe que não está disposta a abrir mão de muitas coisas para a entrega verdadeira. Por entrega não me refiro somente a relações amorosas e sim a entrega à completude da vida, á entrega aos sentimentos profundos, ao abandono da infantilidade e assumir a vida adulta com todos os seus riscos.



Por isto, nosso limite e capacidade para sentir prazer é limitado, talvez muito mais limitado do que nossa capacidade de tolerar a dor. As emoções positivas podem ser muito assustadoras, pois uma estrutura psíquica muito defendida não tolera uma carga emocional muito intensa. Tem fundamento o fato de que vivemos todos meio anestesiados.



Voltando ao amor, queremos amar, mas ainda tem que ser muito do “meu jeito”. Por isso existe tanta cobrança. Filhos que não se sentem amados o suficiente e realmente podem não ser, porque não são aceitos em sua essência. Pais que não se amam e aceitam, como poderão ter amor incondicional pelos filhos? E a dificuldade de amar pula para mais uma culpa.

Melhor admitir que uma boa parte de você não quer amar coisa nenhuma, a não ser que seja do seu jeito. Se assim não for, o outro será responsabilizado e punido porque não deu bem o que você ou eu queríamos.

Parece muito irreal tudo isso? Então faça um experiência: aceite seus familiares (com quem você convive de preferência), exatamente como eles são. Não retire seu amor incondicional, não faça cobranças de que “você não faz isso ou aquilo, você age assim ou assado”.

Simplesmente pare! Se o outro quer agir do jeito dele, deixe. Pare de acusar, de querer, de tentar amar, de fingir. Retire a sua parte que interage negativamente com a criança do outro. Retire sua negatividade, troque por aceitação. O outro não terá eco para reagir negativamente. Assim que se muda o outro através do próprio exemplo. Sem um pingo de discussão ou acusação.



Tudo que lhe acontece, veja o eco em si. Se a vida ensina o tempo todo, veja o que ela está tentando te dizer. Que parte de sua vida não está boa? Se for a saúde, veja onde você está se tiranizando ou não se nutrindo, impaciente; se for nas relações, veja porque está na falta como um indício de que você ainda não está preparado para se doar de verdade. Admita que não quer ou quer, mas do seu jeito; se for na vida material, procure onde deixou seu poder pessoal de lado, talvez indignado porque tudo é tão difícil ou porque você tem que agir como adulto responsável por seu sustento... e por aí vai. PROCURE em VOCÊ . A resposta está sempre em você e não em um carma longínquo ou no outro. VOCE!



Carma, dizem as religiões, pode ser curado, se você acredita em carma, então entenda toda a filosofia que diz que ele pode ser transcendido quando aprendemos a lição.

Pare de culpar o outro e a vida. Junte-se a ela , jogue-se nela, não há mesmo como sair dela, então vamos viver sem anestesia... a escolha é sua. Boa sorte!


Sobre a autora:
Flávia K. é psicóloga cognitivo comportamental . 
Contatos: 21- 8187 5055 ou email:
flaviakrahe@hotmail.com
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 15/03/2008
Reeditado em 30/03/2010
Código do texto: T902148
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