La Taille, Yves de. O lugar de Interação Social na Concepção de Jean Piaget.
La Tailler, Yves de. O lugar de Interação Social na Concepção de Jean Piaget. In._ Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
Professor livre-docente e chefe do laboratório de Estudos do Desenvolvimento e da Aprendizagem, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – USP. Autor de diversos livros sobre a Teoria Piagetiana.
Este texto encontra-se dividido em três partes em que, inicialmente o autor faz uma introdução sobre o lugar das interações sociais na obra de Jean Piaget, evidenciando que o mesmo não desprezou a importância dos fatores sociais no desenvolvimento da inteligência do indivíduo; “o homem é impossível de ser pensado fora sociedade em que vive”. Ressalta que há dois aspectos no estudo do epistemólogo, ou seja: o entendimento que se deve ter por “ser social” e os fatores sociais que explicam o desenvolvimento intelectual. Na segunda parte La Taille diz que na abordagem piagetiana o homem não é social da mesma maneira quando infante e quando adulto, já que se encontra em diferentes níveis de desenvolvimento. A socialização passa pela qualidade nas trocas intelectuais, ou melhor, quando essas trocas são equilibradas o adulto se encontra em grau elevado, otimizado de socialização. O autor demonstra esse raciocínio na aplicabilidade de uma equação em que para as trocas intelectuais Piaget pressupõe um perfeito equilíbrio e uma interação de pensamentos. Tal equilíbrio das relações sociais só é possível entre indivíduos que tenham atingido o estágio operatório de pensamento. Traça uma panorâmica sobre as etapas do desenvolvimento cognitivo relacionando o desenvolvimento das operações lógicas aos estágios de desenvolvimento social.
Na terceira parte é analisado pelo autor o processo de socialização que tem seu nível mais elevado representado pelo conceito de personalidade numa evolução que pressupõem gradativa qualidade das trocas intelectuais. Ressalta ainda dois tipos de relação social: a coação e a cooperação. Após ilustrar algumas situações pertinentes La Taille observa que a coação corresponde a um nível baixo de socialização. Enquanto que as relações de cooperação são as que permitem esse desenvolvimento efetivamente. Portanto, o autor evidencia que temos em Piaget uma teoria que resgata a dimensão ética e política dentro do desenvolvimento da inteligência do homem. Pois, freqüentemente as teorias da cognição se limitam a pensar a inteligência sob aspectos do desenvolvimento biológico, esquecendo das relações constituídas entre sujeito, objeto e o meio de interação. Outrossim, o autor permite transparecer na sua análise uma perspectiva interacionista como referencial e fundamento básico do seu raciocínio, pois à medida que ele pontua elementos considerados ou não na obra de Piaget, faz associações condizentes e amplia a discussão sobre desenvolvimento intelectual e socialização do indivíduo.
Esta obra é de suma importância para a prática pedagógica visto que apresenta ao leitor uma perspectiva das múltiplas facetas na formação do ser social. É necessário que se leve em conta não só os aspectos biológicos, mas também os mezológicos e o resultante interacionismo entre o sujeito e o ambiente social na construção de sua percepção de mundo e no desenvolvimento intelectual. A prática pedagógica deve imprimir uma postura política, ética, que no mesmo tempo que relativiza, amplia os significados e acolhe as diferenças. Devendo se concentrar não apenas no aspecto cognitivo, mas principalmente estar alicerçada no trinômio: afetivo, social, ético. Para fundamentar o seu trabalho La Taille se utiliza da metodologia de análise, interpretação e reestruturação de hipóteses da teoria piagetiana e de outros teóricos sócio-interacionistas, bem como estudos de casos relevantes à construção das variáveis levantadas.
Este estudo é indicado para educadores, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, filósofos, sociólogos, antropólogos, enfim, a todos os que buscam entender como ocorre o desenvolvimento do sujeito a partir dos avanços intelectuais, afetivos, emocionais e sociais e qual o lugar da consciência ética/cosmoética nessa dinâmica. E, por conseguinte oferece um suporte para se ampliar o entendimento quanto às possibilidades do indivíduo dar um salto qualitativo no seu processo de humanização, que estão intimamente vinculadas ao desenvolvimento equilibrado da dimensão intrapessoal e das trocas interpessoais.
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Seilla Regina Fernandes de Carvalho – Pedagoga (UNEB-BA), Psicopedagoga Clínica e Institucional com habilitação em Docência do Ensino Superior (FAP-PR), Mediadora em cursos de aperfeiçoamento dos profissionais de educação, Orientadora em Projetos de Educação Sexual de Crianças e Adolescentes.