Lyons, John. A Linguagem e a Mente. In_ Linguagem e Lingüística
Lyons, John. A Linguagem e a Mente. In_ Linguagem e Lingüística. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1987. 219-241 p.
O texto em questão está dividido em seis partes e inicia abordando a relevância da gramática universal sinalizando para a natureza do pensamento como uma fala interior que tem sido objeto de estudo de vários filósofos através dos séculos. O autor salienta para o ceticismo dos lingüistas do século XX quanto à justificativa filosófica do que diz respeito à percepção da lingüística diacrônica.
A gramática universal foi revificada nos últimos 20 anos através do chamado gerativismo chomskiano. A originalidade de Chomsky é que na sua teoria da linguagem e da lingüística envolvem argumentos detalhados da natureza da linguagem para a natureza da mente e não o oposto. Assim, um leque de contribuições surgiu num estudo plural com perspectivas tanto filosóficas quanto psicológicas, já que inúmeras possibilidades surgem a partir de um campo de investigação que têm disciplinas como: a psicolingüística, a neurolingüística, as ciências cognitivas, a sociolingüística.
A segunda parte do texto faz referência ao mentalismo chomskyano e seus aspectos gerais pontuando para o seu artificialismo, versão esta que restringe o objeto da psicologia ao comportamento humano e se propõe a explorar todos os comportamentos, inclusive a fala. A terceira parte faz referência à relação entre mente e cérebro em especial à ligação da linguagem com o hemisfério esquerdo e as funções de lateralização. E ressalta que o comportamento lingüístico envolve a integração de vários processos do ponto de vista neurofisiológico e de acordo com a hipótese chomskyana, a faculdade da linguagem é uma capacidade exclusivamente humana, geneticamente transmitida e funciona com a colaboração das demais faculdades mentais.
Na quarta parte do texto, o autor se refere à aquisição da linguagem se reportando à questão terminológica e registra que os psicólogos e lingüistas preferem “aquisição” em detrimento de “aprendizado da linguagem” por ser um termo neutro, porém, pode induzir a erros de interpretação visto que se a linguagem é adquirida, não existia, se é inata, não é adquirida: ela cresce e matura naturalmente. O autor enfatiza que a maioria das distinções fonológicas (choro, arrulho, balbucio, fala) terão sido dominadas quando a criança atinge cinco anos, porém, distinções mais complexas como a estrutura prosódica pode não ser adquirida logo.
Na quinta parte do texto, Lyons sinaliza para pesquisas em Psicolingüística inspiradas pelo gerativismo chomskyano e sobre o chamado problema da realidade psicológica, ou seja, mesmo que tenhamos uma gramática gerativa de nossa língua nativa em nossas cabeças, a estrutura elaborada pelo lingüista não refletirá o processamento da língua, já que não se considera processos como: limitações de atenção e memória, motivação e interesse, preconceito ideológico, conhecimento factual, estratégias de percepção, interpretação de enunciados ambíguos.
Finalmente, é lançado o debate em torno da ciência cognitiva e a inteligência artificial que se constitui como disciplina em constante e acelerada expansão. Aponta para os benefícios da automação em operações que exigem horas de trabalho especializado, com: tradução de documentos, recuperação de informações de bibliotecas, diagnóstico de doenças baseadas em questionamento sistemático. O autor permite transparecer na sua análise uma perspectiva de contextualização e interacionismo como referencial e fundamento embasador do seu raciocínio, pois ele pontua aspectos instigantes quanto ao avanço da lingüística e psicolingüística traçando paralelos pertinentes entre a gramática tradicional e a versão elaborada por Noam Chomsky.
Esta obra é de extrema importância para a prática pedagógica visto que apresenta ao leitor uma perspectiva ampla dos múltiplos processos envolvidos no aprendizado da língua. É necessário que sejam levados em conta não apenas as etapas previstas para que o processamento lingüístico ocorra, mas também considerar elementos que permeiam a “aquisição” da língua, ou seja, aspectos psicológicos, neurológicos, mezológicos, emocionais, culturais, que constantemente são observados na criança em fase de aprendizado e que muitas vezes por uma visão pedagógica enviesada e tradicional associa o processamento lingüístico a mero treinamento e a uma associação simples e monogâmica entre grafemas e fonemas.
É um estudo indicado para educadores, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, filósofos, sociólogos, antropólogos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos, enfim, a todos aqueles que buscam entender, investigar como ocorre o processamento lingüístico no sujeito bem como vislumbrar a complexidade dos nossos processos mentais envolvidos no pensamento, na produção e compreensão de enunciados lingüísticos, além de fomentar uma atitude exploratória e multidisciplinar nas bases metodológicas dos modelos em ciência natural e social.
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Seilla Regina Fernandes de Carvalho – Pedagoga (UNEB-BA), Psicopedagoga Clínica e Institucional com habilitação em Docência do Ensino Superior (FAP-PR), Mediadora em cursos de aperfeiçoamento dos profissionais de educação, Orientadora em Projetos de Educação Sexual de Crianças e Adolescentes.