Mentes Inquietas

Mentes Inquietas

Autora: Ana Beatriz B. Souza

Editora: Gente / São Paulo

12ª Edição / 222 páginas

De autoria de Ana Beatriz Barbosa Silva, médica com pós-graduação em psiquiatria pela UFRJ e especialização em Medicina do Comportamento pela Universidade de Chicago, Estados Unidos.

Por ser uma obra densa e recheada de exemplos reais, colocarei aqui algumas coisas que me chamaram especial atenção numa visão geral deste livro.

Pessoas com sintomas típicos como desatenção, desorganização e atabaolhamento, muitas vezes são vistas como não tendo jeito e muitas vezes levam uma vida soterrada por críticas e culpa.

Mente Inquieta (cérebro com funcionamento DDA), não significa um cérebro defeituoso. Seu comportamento peculiar é responsável pelas suas melhores características, bem como suas maiores angústias. O livro aborda vários traços comportamentais de pessoas com mente inquieta. Citarei algumas:

- Desvia a atenção por qualquer estímulo;

- Dificuldade em prestar atenção na fala de outros;

- Desorganização cotidiana;

- Dificuldade com atividades obrigatórias de longa duração;

- Interromper as tarefas no meio;

- Tendência a estar sempre ocupado;

- Costume de fazer várias coisas ao mesmo tempo;

- Hipersensibilidade;

- Instabilidade de humor;

- Tendência ao desespero;

- Depressões freqüentes entre outros.

Para essas pessoas, é um desafio adequar-se ao ritmo não-elétrico dos outros. Um caso real que achei interessante foi de um Contador que sentia-se tolhido numa escada rolante.Para ele, escada rolante significava tortura, de forma que ele a subia normalmente. Uma vez que a escada se move, ele rapidamente chegava ao topo enquanto as pessoas aguardavam calmamente o movimento da escada.

São traços que como diz a autora, podem ‘cair mal’ para quem precisa trabalhar em funções burocráticas, rotineiras ou repetitivas ao passo que é positivo para quem exercita a criatividade como compositor ou artista.

Achei curiosa a abordagem da afetividade nessas pessoas: emoção em excesso e escassez de razão. São pessoas que amam intensamente no interior de suas mentes, mas não conseguem colocar em prática o que vivem em seus pensamentos. Muitas vezes, seus parceiros sequer imaginam que são objetos de tão nobres sentimentos. Felizmente toda essa emoção tende a transformar-se em poesias, obras literárias ou músicas. Semelhante a um vulcão inativo, a pessoa pode apresentar-se calma e tranqüila externamente, mas por dentro, mantém-se agitado e inquieto.

A autora cita o nome de alguns famosos que apresentavam esses traços. Citarei alguns:

Fernando Pessoa – Em sua obra há traços de inquietação, contradição, devaneios, dificuldade em seguir regras. (Como no poema “Liberdade”: Ai que prazer/ não cumprir um dever/ ter um livro pra ler/ e não o fazer...) Criou por isso vários ‘eus’, os heterônimos, indicando uma personalidade inquieta e de humor instável.

Leonardo da Vinci – Uma mente movida por inquietação. Além de pintor, foi arquiteto, botânico, urbanista, cenógrafo, cozinheiro, inventor, geógrafo, físico e até músico. Deixou uma infinidade de obras inacabadas por começar vários projetos ao mesmo tempo, característica desse tipo de funcionamento mental.

Ludwig Van Beethoven – Inquieto, polêmico e incompreendido. Era acometido de devaneios e distrações, segundo seus amigos. Produziu obras geniais sem escutá-las. Elas brotavam de sua mente inquieta, imune à sua surdez.

Pessoas com este problema tem vulnerabilidade para desenvolver outros transtornos como TOC, Fobias, Pânico, Depressão, transtornos alimentares e de humor, para citar alguns.

A autora dedica um capítulo ao maior desafio: a difícil tarefa de dormir bem e orienta como relaxar um cérebro a mil por hora. Em suma, Mentes Inquietas é um guia para quem apresenta esse funcionamento cerebral que mescla desafios vários com muita criatividade. A autora transmite uma visão otimista sobre o problema e uma variedade de recursos para tratamento. Tirei muito proveito desta leitura e por isso a recomendo.