FALA DE BRUTUS APÓS O ASSASSINATO DE CÉSAR
Sede pacientes até o fim! Romanos, compatriotas e amigos! Escutai-me defender minha causa e guardai silêncio para que possais ouvir-me. Acreditai-me por minha honra e respeitai minha honra para que possais acreditar-me. Julgai-me com vossa sabedoria e avivai vossos sentidos para que possais ser melhores juízes. Se houver nesta assembléia algum amigo caro a César, digo-lhe que o afeto de Brutus por César não era menor do que o dele. Se então esse amigo perguntar porque Brutus se levantou contra César, esta é a minha resposta: “Não que amasse menos César, porém porque amava mais Roma.” Preferiríeis que César vivesse e morrêsseis todos escravos, a César morresse e vivêsseis todos livres? César gostava de mim e eu choro por ele; ele foi afortunado, eu me alegro; foi valente, eu o venero; mas, como foi ambicioso, eu o matei. Há lágrimas para sua amizade; júbilo para sua fortuna; honra para seu valor e morte para sua ambição. Quem é aqui tão vil que deseje ser escravo? Se alguém existe, que fale, porque eu o ofendi! Quem é aqui tão estúpido que não queira ser romano? Se existir, que fale, porque eu o ofendi! Quem é aqui tão baixo que não ame sua pátria? Se existir, que fale, porque eu o ofendi. Espero uma resposta.
...............................................................................................................................
Então, não ofendi ninguém. Nada mais fiz com César do que teríeis feito com Brutus! Os motivos da morte dele estão registrados no Capitólio. A glória, que lhe valeram os méritos que possuía, não foi diminuída, nem foram exageradas as ofensas que lhe valeram a morte. (...) Aqui chega o corpo dele, pranteado por Marco Antônio que, sem tomar parte em sua morte, dela auferirá benefícios, um lugar na República. Quem de vós não conseguirá outro tanto? Ainda uma palavra e partirei. Se matei meu melhor amigo pela felicidade de Roma, estou pronto a usar meu punhal contra mim, se minha pátria quiser reclamar minha morte.
...............................................................................................................................
Caros compatriotas, deixai-me ir embora sozinho e, em consideração a mim, permanecei aqui com Antônio. Honrai o cadáver de César e ouvi a apologia de suas glórias que, com nosso beneplácito, Antônio proferirá. Suplico-vos! Ninguém deve afastar-se, exceto eu, somente, até que Antônio haja acabado de falar.
(in “Júlio César”, W. Shakespeare - Obras Completas, vol I – Companhia José Aguilar Ed., 1969 – Rio de Janeiro – RJ)
Sede pacientes até o fim! Romanos, compatriotas e amigos! Escutai-me defender minha causa e guardai silêncio para que possais ouvir-me. Acreditai-me por minha honra e respeitai minha honra para que possais acreditar-me. Julgai-me com vossa sabedoria e avivai vossos sentidos para que possais ser melhores juízes. Se houver nesta assembléia algum amigo caro a César, digo-lhe que o afeto de Brutus por César não era menor do que o dele. Se então esse amigo perguntar porque Brutus se levantou contra César, esta é a minha resposta: “Não que amasse menos César, porém porque amava mais Roma.” Preferiríeis que César vivesse e morrêsseis todos escravos, a César morresse e vivêsseis todos livres? César gostava de mim e eu choro por ele; ele foi afortunado, eu me alegro; foi valente, eu o venero; mas, como foi ambicioso, eu o matei. Há lágrimas para sua amizade; júbilo para sua fortuna; honra para seu valor e morte para sua ambição. Quem é aqui tão vil que deseje ser escravo? Se alguém existe, que fale, porque eu o ofendi! Quem é aqui tão estúpido que não queira ser romano? Se existir, que fale, porque eu o ofendi! Quem é aqui tão baixo que não ame sua pátria? Se existir, que fale, porque eu o ofendi. Espero uma resposta.
...............................................................................................................................
Então, não ofendi ninguém. Nada mais fiz com César do que teríeis feito com Brutus! Os motivos da morte dele estão registrados no Capitólio. A glória, que lhe valeram os méritos que possuía, não foi diminuída, nem foram exageradas as ofensas que lhe valeram a morte. (...) Aqui chega o corpo dele, pranteado por Marco Antônio que, sem tomar parte em sua morte, dela auferirá benefícios, um lugar na República. Quem de vós não conseguirá outro tanto? Ainda uma palavra e partirei. Se matei meu melhor amigo pela felicidade de Roma, estou pronto a usar meu punhal contra mim, se minha pátria quiser reclamar minha morte.
...............................................................................................................................
Caros compatriotas, deixai-me ir embora sozinho e, em consideração a mim, permanecei aqui com Antônio. Honrai o cadáver de César e ouvi a apologia de suas glórias que, com nosso beneplácito, Antônio proferirá. Suplico-vos! Ninguém deve afastar-se, exceto eu, somente, até que Antônio haja acabado de falar.
(in “Júlio César”, W. Shakespeare - Obras Completas, vol I – Companhia José Aguilar Ed., 1969 – Rio de Janeiro – RJ)