CARTAS A UM JOVEM POETA

                                       Rainer Maria Rilke

 

 “Ninguém o pode aconselhar ou ajudar ─ ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: ‘Sou mesmo forçado a escrever?’ Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.” (págs. 22,23)

 

“As obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto à crítica. Só o amor as pode compreender e manter e mostrar-se justo com elas.” (pág. 32)

 

“... Aí o tempo não serve de medida: um ano nada vale, dez anos não são nada. Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranqüila as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão. O verão há de vir. Mas virá só para os pacientes, que aguardam num grande silêncio intrépido, como se diante deles estivesse a eternidade.” (págs. 32,33)

 

“É bom estar só, porque a solidão é difícil.” (pág. 55)

 

“Assim para quem ama, o amor por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento cada vez mais intenso e profundo.” (pág. 56)

 

“Aí continuo a falar-lhe da vida e da morte, a dizer-lhe que ambas são grandes e esplêndidas.” (pág. 73)

 

“A arte também é apenas uma maneira de viver.” (pág. 75)

 

Rainer Maria Rilke, 1875-1926


Cartas a um jovem poeta – Trad. De Paulo Rónai, 14 ed. – Rio de Janeiro – Editora Globo, 1986.