MEMORIAL DE MARIA MOURA - RACHEL DE QUEIROZ

Aproveitei as férias da faculdade para colocar em dia a leitura por prazer (e não aquela aflição terrível de ter que ler para fazer algum trabalho), e escolhi o livro de Rachel de Queiroz porque lembrava vagamente ter assistido a minissérie na Globo, alguns anos atrás. Não que eu recordasse muita coisa, creio que só sabia que a Glória Pires havia feito a protagonista. Em todo caso, é uma bela história de superação, onde a personagem Maria Moura, órfã de pai e mãe, se vê acuada ao ter que repartir suas posses com seus primos mau-caráter, e prefere pôr fogo em tudo e fugir para bem longe a ter que aceitar um casamento por interesse. A partir daí, ela se torna líder de um bando que vai aumentando com o desenrolar dos acontecimentos. Roubos, pilhagens e assaltos transformam a ex-órfã em uma mulher rica e poderosa, que se faz respeitada e temida em toda a região. Apesar de tudo, ela sente um vazio no coração: seus sentimentos femininos teimam em aflorar e ela passa por uma luta interior tentando dominar a mulher que existe dentro de si. É um romance de aventuras passado em pleno sertão nordestino do século XIX, época em que os poderosos fazendeiros da região faziam suas próprias leis. Maria Moura nos remete diretamente a outra personagem da literatura brasileira, Diadorim, de "Grande sertão: veredas", obra de Guimarães Rosa. A diferença é que, ao contrário de Diadorim, Moura nunca precisou abrir mão de se apresentar como mulher, apesar da personalidade tipicamente masculina. Enfim, trata-se de uma grande personagem, um grande romance, escrito com competência por uma das melhores escritoras da moderna literatura regional brasileira.