Sem Nome - Parte XIV

Finalmente consegui ter uma noite tranqüila.. Sonhei até com a tão esperada festa de Diana..hum.. E Diana? Será que ela pensava em mim? Será que esta sentindo a mesma falta que estou? Queria ligar.. mas não, deixarei para fazer isso quando voltar a Paris..

No outro dia cedo, levantei-me com um novo animo.. um animo que havia desaparecido nos dias anteriores em que fui assolado por estes fantasmas imundos que ficam transitando entre o mundo dos vivos e dos mortos..

Fiz um café da manhã reforçado, com direito a tudo.. a mesa estava linda, leito achocolatado, presunto, mussarela, queijo fresco, suco, café, pão de forma, biscoitos recheados, torradas.. A casa toda estava com um aroma inacreditavelmente bom.

Alimentei-me e fui tomar um banho, já queria dar fim nesta historia de uma vez por todas..

Coloquei uma calça social preta e uma camisa também preta de seda, um sapato de couro preto, muito macio.. havia comprado este sapato em minhas andanças pelo Japão, Tokio para ser mais exato, era de um conformo imensurável, uma gravata de seda vermelha. Estava realmente apresentável. Mas antes de sair, delineei meus olhos com lápis preto, estava com um visual lindo, eu era lindo, indiscutivelmente era lindo, ainda mais quando estava vestido com roupas vitorianas, ou no mais perfeito estilo gótico. Mas enfim, vamos nos focar nos afazeres.. o dia prometia muitas emoções.. seria o dia mais logo de toda minha longa vida.

Passei a mão no telefone e liguei para Arnold.

- Good morning dear Arnold, aqui quem fala é Haward, eu preciso de um favor..

Ele do outro lado respondeu:

- E o que seria meu caro?

- Preciso de um carro, um carro belo, o mais belo que puder conseguir.. e preciso para daqui duas horas, no máximo.. você tem como conseguir?

Um riso sarcástico..

- Com o tanto de dinheiro que você tem, posso conseguir até um transatlântico agora.. Em duas horas ou menos, já terei o mais velho dos carros que conseguir.. mas onde levarei ele?

- Em minha antiga residência, você se recorda?

- Claro, me recordo sim, levarei ai.. pessoalmente.

- Obrigado, até mais.. – Desliguei o telefone e sentei-me de frente para a janela.. Comecei a reparar na casa, 40 anos e nada tirou o brilho da beleza barroca.. de todos os detalhes e formas que a casa exibia.. até o balaustre era exuberante.. Tudo nela.. E havia indícios de que a casa passara por reformas recentemente.. Tudo estava com uma beleza ímpar..

Recebia a brisa dos ares de Manchester, uma brisa agradável..O céu estava limpo, o sol não estava com sua força total.. o dia estava maravilhoso. Olhei para os lados e reparei em uma sala.. Levantei-me e vi que se tratava de uma biblioteca.. toda montada com escrivaninha, computador, um amontoado de livros nas prateleiras.. livros de todos os estilos.. desde de Filosofia à medicina alternativa.

Vasculhei as prateleiras e encontrei um álbum de fotos.. bem antigo.. as fotos estavam amareladas pelo tempo.. algumas em preto e branco.

Sentei-me em uma poltrona posta no centro.. uma poltrona de couro reclinável.. de frente ao aparelho de som.. A sala era enfeitada com almofadas e sofás.. além dos moveis que já citei.

Na capa do álbum.. The Oliver Family.. Hum.. bem sugestivo.. um sorrisinho de desdém eu deixei escapar..

Abri o álbum.. e logo na primeira foto.. quem vejo.. Eu, todo vestido para fotos de família.. já se passaram tantos anos que mal me lembrava deste dia..

Abaixo da foto.. uma outra onde estava meus pais.. e minha irmã..

Ah! Meus pais.. eles sempre foram maravilhosos comigo e com minha irmã.. batalharam para puder conseguir um bom status e quando cresci, consegui multiplicar este status em milhares de vezes.. Minha família..

Fui tomado pelas saudades.. meu rosto foi ficando molhado e o álbum foi ficando pouco a pouco encharcado pela torrente de lágrimas que despejava meus olhos.

Limpei as lágrimas e continuei a olhar as fotos do álbum.. Seqüencialmente, mais uma foto minha, seguida por uma de minha irmã.. depois minha mãe e meu pai.. éramos uma família quase perfeita.. sim, quase, sempre houve algumas discussões.. pequenas brigas.. mas nada que abalasse a estrutura fixa e bem alicerçada que meus pais construíram..

Eles realmente souberam nos educar.. minha mãe era uma dama de extrema educação e modos, o mesmo pode ser dito de meu pai.. um senhor de gostos refinados e impares.. que conseguiram transmitir tudo de melhor para minha irmã e eu..

Ah! Vou falar deles mais calmamente agora.. só quis dar uma pequena idéia de minha família.. eu os amava.. me doeu ter que partir e nunca mais poder voltar.. Foi tão triste.. ver minha mãe chorando e meu pai tentando consolá-la.. minha irmã me ofendendo e me batendo.. enquanto chorava.. ela não queria que fosse.. nenhum deles queria..Mas não poderia suportar a idéia de vê-los morrer enquanto eu não envelhecia.. não suportava a idéia de que eles achassem que eu era um monstro.. e nem saberia como explicar tal acontecimento.. era realmente insuportável tudo.. Tive que ir.. tive que sumir por tanto tempo..

40 longos anos se passaram.. e cá estou novamente..Tendo que enfrentar o destino que deixei para trás.. tendo de mostrar minha face e explicar tudo o que houve.

Mas bem.. vou falar quem eram meus pais e minha irmã..

Comecemos pela minha mãe..

(continua...)