O HOMEM QUE MATOU GETÚLIO VARGAS - JÔ SOARES

Jô Soares é um homem talentoso, inteligente, culto, poliglota e, principalmente, muito engraçado, virtude essa, aliás, essencial à sua carreira de humorista. E ele também é capaz de escrever coisas interessantes, seu livro "O Xangô de Baker Street" é uma boa prova disso. Mas "O Homem que Matou Getúlio Vargas", em que pese o excelente trabalho de pesquisa, peca pelo excesso. Em primeiro lugar, o livro conta histórias que estão fora do imaginário coletivo do brasileiro (o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, que desencadeou a primeira guerra mundial, a execução da espiã Mata Hari, o assassinato do jornalista francês Jean Jaurès e vai por aí). Talvez ele não devesse ter ido tão longe no tempo, quem sabe não fosse melhor ter escrito "O Homem que Matou Tancredo Neves"? Em segundo lugar, seu herói, o anarquista bósnio Dimitri Borja Korozec, filho de pai sérvio e mãe brasileira, nada mais é do que uma cópia às avessas de Forest Gump, personagem do filme homônimo que deu o Oscar de melhor ator a Tom Hanks. A grande diferença é que, enquanto o personagem de Hanks consegue se dar bem mesmo quando se atrapalha, o nosso bravo anarquista Dimitri, apesar de se esforçar bastante, não consegue fazer com que as coisas deem certo, graças a uma peculiaridade da sua personalidade: ele é tremendamente desastrado.

De uma forma clara e precisa, o autor passeia pela história mundial, fazendo com que o leitor se veja às voltas com pessoas de quem já ouviu falar nos livros de história: Mata Hari, Al Capone, Roosevelt, Luiz Carlos Prestes e, é claro, Getúlio Vargas. A descrição de época é meticulosa, sendo o ponto alto do livro. Infelizmente, isso não é suficiente para que o leitor compre a ideia de um anti-herói bósnio que atravessa meio mundo para chegar ao Brasil e assassinar o presidente da república. Falta uma personalidade verossímil para Dimitri, que o tempo todo parece saído de um livro - eis aqui o maior defeito de "O homem que matou Getúlio Vargas.

Evidentemente, um escritor do quilate de Jô Soares consegue produzir bons momentos dentro de um enredo equivocado, mas no final das contas, o livro fica a dever. Tudo bem, o Jô tem crédito suficiente para encarar esse revés numa boa. Afinal, ele tem uma história de peso junto ao público brasileiro. Vamos torcer para que da próxima vez ele acerte a mão.