Vidas Secas
Vidas Secas
Autor: Graciliano Ramos
Romance
Editora: Record
Ano: 2002
Vidas Secas é um romance regionalista, fiel à origem nordestina do autor. Lê-lo é, antes de tudo, ser apresentado à linguagem típica dos Estados brasileiros de Alagoas e Pernambuco. Rico em expressões bem peculiares traça um retrato dessa cultura.
Como o título sugere, o romance explora a seca que castiga o povo nordestino. O autor não abranda o tema pelo uso de expressões poéticas. Como ele mesmo disse numa entrevista: “... a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.” Ele, de fato diz.
Li ‘Vidas Secas’ como quem sente o drama de Fabiano, Sinhá Vitória, seus filhos e a cadela Baleia. Um humilde vaqueiro que luta pela sobrevivência da família num lugar onde falta tudo. Alimento e água, inclusive.
Cada capítulo comove duma forma particular. Emocionei-me ao ler BALEIA, onde o romancista descreve a fidelidade canina em acompanhar a família nas suas intermináveis mudanças de fuga da seca. O fim de Baleia é tocante.
Mas o capítulo que me tomou à reflexão foi CONTAS. O casal sonha em ter uma simples cama de couro, porque dormem numa de varas que só faria adormecer uma criatura fatigada pelo trabalho excessivo deles. No dia de acertar contas com o patrão, Fabiano “olhou as cédulas arrumadas na palma, os níqueis, as pratas, suspirou... Não tinha o direito de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, desocuparia a terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos pequenos e os cacarecos. Para onde? ...Se pudesse mudar-se, gritava bem alto que o roubavam...Conformava-se, não pretendia mais nada.”
Pus-me a visualizar esse trecho e por fim questionei: quantas vezes nos submetemos aos tratamentos injustos por não ter para onde ir? Quantas vezes engolimos seco o que nos intriga, por submissão necessária?
Do meu ponto de vista, vidas secas nem sempre se devem à ausência das chuvas. Tudo aquilo que nos consome interiormente sugando nossa alegria de viver faz-nos criaturas áridas feito o solo que Fabiano peleja para cultivar no belíssimo romance Vidas Secas.