Sem Nome - Parte IV
Trêmulo, deitei em minha cama.. Ah! Cama, meu corpo já não tinha nenhuma força.. me encolhi em posição fetal.. posição que ficamos quando nos sentimos ameaçados, com medo..
Sentia-me inútil.. pouco a pouco.. minha mente pedia licença para que meu corpo descansasse.. e foi ai que fui adormecendo.. como uma criança que tem medo de escuro, encolhido.. e desejando que amanhecesse logo.
Amanheceu.. ah! A luz que entrava pela janela era tão intensa que ofuscou minha vista quando me pus de pé.. Assim que me dei conta, olhei assustado para todo o quarto.. Será que havia sonhado? Sim, foi tudo um sonho.. insisti em dizer em voz alta.. Talvez para aumentar o nível de confiança em minhas próprias palavras e auto-afirmar que tudo havia sido uma brincadeira de minha psique.
Que horas são? – falei alto.. Me senti um idiota por estar fazendo isso.. mas me dirigi até meus pertences e olhei meu relógio.. ah! Aquele relógio era um relógio magnífico.. sem nada de importante.. acho que a única coisa que usava que não ostentava um certo porte aristocrático.. mas mesmo assim o amava.. havia sido um presente de meu pai.. pouco antes de falecer..
Meio dia? Mon Dieu- gritei..
Aprontei-me, era hora de seguir adiante... tenho algumas coisas a fazer – pensei comigo.
Desci e me direcionei para a recepção.. Quem sabe não teria o imensurável prazer de ver aquela atendente maravilhosa novamente..
Bom dia – ela me abordou com um sorriso maravilhoso..
Boa tarde já meu amor.. respondi com um sorrisinho irônico e com uma expressão de brincadeira.. para que não tivesse outra interpretação.
É mesmo.. sorrindo, perdi a noção do tempo.. Boa tarde monsieur.
Olhei para aquele rosto inigualável.. belo, maravilhoso. Não havia nada que não seja plausível de elogios, desde sua educação.. até seu olhar.
Paguei minha estadia e educadamente me despedi com um beijo em seu rosto, que foi retribuído do mesmo modo.
Antes de mais nada – perguntei – Qual o seu nome mademoiselle?
Ela respondeu – Miyko monsieur.
Nos veremos em breve má chèrie.. Eu estava totalmente encantado por ela.. mas precisava resolver algumas coisas em minha antiga cidade.. por tempos permaneci longe.. Havia muito o que fazer.
Ela novamente sorriu e acenando com a cabeça que sim.. me parecia que ela se encantara comigo tão intensamente quanto eu. Caminhei em direção da porta e próximo ao hall de entrada, me virei e acenei e mandando um beijo..
Saindo do hotel, deparei-me com um amontoado de pessoas, todas aturdidas com suas preocupações e nervosismos cotidianos.. se esbarrando, correndo, totalmente diferente do que vira a noite.. Pessoas caminhando, assustadas comigo, mas caminhando, despretensiosamente, apenas desfrutando da beleza da noite.
Continuei caminhando até que me lembrei que não havia me alimentado e a estas alturas, estava tão faminto quanto um leão em plena caçada.
Percorri um bom trecho daquele centro até encontrar uma cantina, nem tanto a fome me fez entrar La.. mas sim a beleza do local.. seu adornos eram majestosos, incríveis, mal parecia que era uma cantina..
Entrei.. e deparei com um antigo toca discos, um dos inúmeros adornos do local, que também era repleto de quadros interessantes, mas de nenhum pintor famoso, me parecia que eram de pintores locais.
Haviam várias mesas dentro de seu salão.. e algumas banquetas próximas ao local de atendimento.. havia um público razoável..
Logo me despertou a atenção em um casal.. no ato pude perceber os dotes da mulher e do homem que lhe acompanhara.. Mas ela me exerceu uma incrível atração..
Nossos olhares se cruzaram.. ela fitou dentro de minha alma e o mesmo eu fiz.
Mas, como se não tivesse acontecido nada, voltou a olhar para seu acompanhante, conversando e sorrindo como antes.
Não consegui entender o que tinha acontecido.
Bom, a hora que me dei conta, a garçonete já estava repetindo pela terceira vez o que eu queria.
- Panquecas e um cappuccino com chantilly má chèrie.
Volta e meia, voltava meu olhar à aquele casal. Queria muito conhecê-los.. e faria isso.. Claro, daria um jeito nisso.
A garçonete trouxe meu pedido e como de costume.. além de pagar a conta, ainda dei uma quantia de gorjeta para a garota.
Peguei minhas panquecas e cappuccino e mudei de mesa, sentei-me a frente daquele casal, ficando evidente a beleza da mulher. Novamente nossos olhares se cruzaram...
(continua)