Fragmentos do Silêncio
"Poesia com Poder de Tempestade"
Perfil e obra
Natural de Corbélia, no Paraná, define-se como um “Poeta sem lira”. Sua Escrivaninha:
www.recantodasletras.com.br/autores/poiesismorias
Possui publicados no RL:
95 poesias
28 sonetos
2 contos
18 frases
31 pensamentos
3 e-books: "A Cosmo-profecia do Movimento ao Infinito", "Sete contos + que curtos" e "Canção de amor embalada à luz da lua".
Isto até fevereiro de 2008.
"Poesia com Poder de Tempestade"
Perfil e obra
Natural de Corbélia, no Paraná, define-se como um “Poeta sem lira”. Sua Escrivaninha:
www.recantodasletras.com.br/autores/poiesismorias
Possui publicados no RL:
95 poesias
28 sonetos
2 contos
18 frases
31 pensamentos
3 e-books: "A Cosmo-profecia do Movimento ao Infinito", "Sete contos + que curtos" e "Canção de amor embalada à luz da lua".
Isto até fevereiro de 2008.
Sua obra completa:
1 – O Cárcere da Liberdade (publicado)
2 – Girante Popular (publicado)
3 – Esquizolira e Desalinho (inédito)
4 – A Cosmo-profecia do Movimento ao Infinito (inédito)
O prefácio
Escrito pela Srª Valdeci Batista M. Oliveira, doutoranda em Literatura Portuguesa pela USP e professora do Curso de Letras Modernas da Unioeste/Campus de Cascavel.
Transcrevemos abaixo algumas palavras que sobrepairam qualquer análise ou estudo literário, supremamente aplicadas à abordagem da presente obra pela mestra: dádiva, desamparo, epifania, esplêndido, lírica, meditação, metafísico, transcendental, transfiguração, travessia, vanidade.
Valemo-nos entretanto de outras, como contemplação, sabedoria, liberdade, polifonia, ascese, utopia e missão, que tentaremos aproveitar com idêntica dignidade.
Por outro lado, ela se excede ao repetir, num prólogo de duas páginas apenas, termos como: incompletude (três vezes), lírica (cinco), metafísico (três), objetivo (três) e ultrapassar (duas).
Ficamos felizes com a percuciência, a paixão, a simplicidade vocabular, a submissa ternura com que comenta o trabalho desse fiel intérprete dos filósofos Hegel, Kierkegaard, Schopenhauer e, principalmente, Heráclito de Éfeso... Sim, ela passa longe de arcaísmos, modismos ou teorias palpitantes ainda de tão recentes.
Sem pompas ornamentais ou veleidades acadêmicas, ela nos abre o livro com um preâmbulo delicado e circunspecto; verde e austero; meigo e real; intenso e disciplinado; discente e docente...
Alguns comentários nossos, ao acaso
1) estrofe XLIX (p. 28):
“deus pede amor (até que o peito rasgue
e o orgulho inume-se”
Em criação exclusiva do autor, verificamos o verbo transitivo direto inumar (= sepultar, enterrar) em uso pronominal: ‘inume-se’. Fascinante perceber quando o artista se amplia, desmonta, desbrava, redescobre a língua, inovando, arriscando...
2) estrofe XII (p. 18):
“mas escuta:
a palavra mais demorada é o silêncio,
esse perdura e não racha com o sol”
Ele vê o silêncio como uma palavra gigantesca, completa e permanente --- abrigo e destino. Passa-nos a noção solene de que Antes era silêncio, e Depois o será também. Semelha, em forma e conteúdo, a um versículo. Ou a um rubai khayyamiano. (1)
Outro exemplo, na XL (p. 26):
“o tempo é o coração do silêncio”.
Figuras de linguagem
1) II (p. 16):
“o silêncio, quieto, inunda,
nada compreende
fora de si, fora de si nada existe”
2) III (p. 16):
“quando fala
o silêncio silencia”
Antítese ("oposição entre duas palavras ou pensamentos").
3) LXII (p. 31):
“à ignorância não faltam razões
e à inteligência não faltam ignorâncias”
Inversão: 'não faltam razões à ignorância / e não faltam ignorâncias à inteligência'.
Antítese ("aproximação de dois pensamentos contrários --- palavras ou frases").
3) XLI (p. 26):
“não haverá quando nem como
até que o fogo
que queima o mundo
engula, e então a terra será estrela
e o homem luz”
Pleonasmo ("emprego redundante de palavras para reforçar uma idéia já anunciada"), presente em 'o fogo que queima'.
Inversão: 'até que o fogo que queima engula o mundo'.
Em mais esta elocução, o poeta se exprime visionariamente, predizendo o fim do mundo. Note-se a elipse do último verso:
“e o homem (será) luz”,
delicadezando a expressão.
4) LIII (p. 29):
(...)
“o silêncio não cessa porque não tem limite
e o contrário de silêncio
não é senão silêncio”
Paradoxo (ressalta a contradição entre dois termos).
5) LXVI (p. 32):
“aparência é traço, limite no ilimitado,
de sol sombra
que aparece e desaparece, porque as coisas,
elas não têm aparência, senão essência”
Inversão: 'sombra do sol que aparece e desaparece'.
Anacoluto: 'porque as coisas, elas não têm aparência, têm essência'.
Elipse: 'elas não têm senão essência'.
6) LXIX (p. 33):
“tudo vibra,
e toda vibração é também processo,
e todo processo é movimento,
e o movimento, dor”
Polissíndeto: e/e/e.
Gradação (em clímax = crescente).
Elipse: 'e o movimento (é) dor'.
7) LXX (p. 33):
“dói porque está no coração,
e o coração é processo, e o processo amor,
e o amor vontade, e a vontade
dói, porque tudo anseia”
Polissíndeto: e/e/e/e.
Elipses: 'e o processo (é) amor / e o amor (é) vontade'.
Inversão: 'porque anseia tudo'.
8) LXXXV (p. 36):
“quando o coração compreende
a alma eleva
e sobre todas as coisas, embaixo,
está acima”
Inversão: 'o coração eleva a alma'.
9) LXXXIX (p. 37):
“porque quando o corpo é capaz de perdoar,
a alma compreende com o coração,
e o coração está em deus, e deus é bom,
e bom
é estar com deus”.
Personificação: 'o corpo é capaz de perdoar'.
Polissíndeto: e/e/e/e.
Inversão: 'e é bom estar com deus'.
10) LXLI (p. 38):
(...)
“e o coração flui, e quando ama
compreende
e a inteligência flui”
Personificação: 'o coração flui e compreende'.
Polissíndeto: e/e/e.
11) LXLII (p. 38):
“inteligência é densa
como um fundo de oceano,
lá onde a luz só entra
quando sai-se respirar”
Comparação: 'densa como um...'
12) LXLVII (p. 39):
“que tem todas as coisas no coração acesas”
Inversão: 'coisas acesas no coração'.
13) CI (p. 40):
“a chuva chovendo na terra para ser barro,
o barro petrificando co fogo,
e o fogo de barro fez cinza, e a cinza dispersa
co vento”
Gradação ("quando os elementos se organizam numa ordem crescente ou decrescente"): em anticlímax = decrescente.
14) CII (p. 41):
“sóbrio quando não lúcido
atravessa o tempo, e para trás anda
quando avança
e para frente quando volta
para trás”
Paradoxo ("justapõe dois termos que se contradizem").
Elipse: 'e para frente (anda) quando volta'.
Pleonasmo: para trás, em 'quando volta para trás'.
Assonância (repetição de vogais, com evidente intenção estética). No caso, sobressai o emprego reiterado da vogal 'a'.
15) CIII (p. 41):
“fagulhas de deus,
loucura para os olhos e os ouvidos
quando escutam o iminente emanar
da imanência, pelos olhos e os ouvidos”
16) CV (p. 41):
“científico e irracional,
o mesmo ser presente e ausente,
consciente e inconsequente”
Antítese ("contiguidade de palavras antônimas").
17) CVII (p. 42):
“logos é muitos
para um e de um são muitas as palavras
e de muitos a palavra é uma”
Colocando-a na ordem direta:
'logos é muitos para um, e as palavras de um são muitas, e a palavra de muitos é uma'.
(Pontuamo-la, para maior clareza didática).
Que não pairem dúvidas sobre a correta concordância verbal de 'logos é muitos para um'
e das restantes orações; compare-se com a p. 467 de Cadore, Curso...:
"Se houver sujeito na oração, o verbo ser pode concordar com o sujeito ou com o predicativo:
Joãozinho era suas únicas preocupações."
Por outro ângulo, sabemos que 'logos' é um substantivo comum, existente apenas no singular: nada impede, entretanto, que o usuário lhe crie um plural --- os logos. O texto permanece irrepreensível gramaticalmente, dado o direito desse usuário de reconstruir a linguagem, adequando-a à sua idiossincrasia.
Ora, por que tanta atenção à estrofe CVII? --- Porque se trata de um exemplo destacado de correção gramatical e ousadia estilística. Voltando pois à sua forma original, redescobrimos nela os poderes mágicos do estilo. E cremos que basta...
18) CXV (p. 44):
(...)
“e o relógio é que caminha
para a morte”
Personificação, pois relógio não caminha.
19) CXX (p. 45):
“mas eis que nasce do fogo o perfeito
incompleto,
que queima para o centro
e irradia para fora,
e que todos os dias é mais perfeito,
e que todos os dias é mais completo”
Anáfora (repetição de uma estrutura sintática, visando, claro, a efeito estilístico): presente nos dois últimos versos.
20) CXXII (p. 45):
“e de todas as leis nasce uma nova
e o princípio converge,
e da nova lei um novo sistema
e um novo verso que torna
do princípio para o princípio”
Polissíndeto: e/e/e/e.
Gradação em anticlímax: : de 'todas as leis' ao 'princípio', perfazendo um ciclo completo do pensamento.
21) LXXXII (p. 36):
“pois que és indivíduo
enquanto todo e todo és
como indivíduo”
Inversão: 'e és todo como indivíduo'.
Paradoxo: contrapondo 'todo' a 'todo'.
Semelhança com versículos bíblicos
1) XLII, 26:
“mas ai daqueles que se enraizaram na terra
porque as raízes apodrecerão
e o corpo será lançado à sorte dos mendigos”
2) LXII, 31:
“à ignorância não faltam razões
e à inteligência não faltam ignorâncias”
3) LXXXII, 36:
“pois que és indivíduo
enquanto todo e todo és
como indivíduo”
4) CXIII, 43:
"define o silêncio
com o silêncio, porque ruidosos
são todos os termos
e toda palavra sobre o silêncio
provoca ruído"
5) CXVIII, 44:
"(o tempo) do caos
tende para o caos e ignora a luz,
mas a luz, no caos, ignora o caos,
e fá-lo luz"
6) CXXXVI, 49:
"muito do injusto para o homem
é justo para deus, e procuram fora
do mundo uma justiça,
mas o justo está por todo os lados,
e não há deus de ser mais justo
do que o que está perante os olhos"
7) CXXXV, 49:
"irradia para todos os lados
o poder de deus,
e a uns sucedem almas maiores
e a outros, menores,
mas a todos sucede o coração,
do mesmo tamanho"
Intertextualidade
1) LXI, 31:
"mas o homem
sendo fera quis ser gente
e sendo gente
fez-se fera"
E, na estrofe CXXXIX, 50, temos "versos íntimos". Ora, 'Versos Íntimos' é o título do soneto augustiano; e o segundo quarteto desse soneto, transcrito a seguir, permite sua comparação com a estrofe LXI do "Fragmentos":
'Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.'
2) CVI, 42:
"pensar
é respirar a logos
e a logos não se pensa
mas se escuta ao coração"
Parecença com versos de Alberto Caeiro. Falta verificar.
3) CXXVII, 47:
"vontade é o amor de criação
'fogo que arde sem se ver'...
André destacou devidamente o verso camoniano, tornando explícita a intertextualidade.
Neologismos
Aconteciência (XXV, LXVIII e CXLIX)
Adjungir (CXVI)
Contingesciência (LXLVIII e CXLIX)
Nadidade (LXX)
Tempestuar (LXXVII).
Os desvios da norma culta
(detectados nas estrofes elencadas):
1) XLVII (p. 28):
“e o homem morto
porque oculta-se da vida,
tem medo de purificar”
"porque oculta-se da vida" acha-se incorreto, pois 'se' é pronome reflexivo e o verbo ocultar, aí, é pronominal; e 'porque' (conjunção coordenativa explicativa e, no caso, atuando como partícula atrativa) atrai esse 'se', ficando: porque se oculta da vida.
E logo após: o verbo purificar, como transitivo direto, na verdade é pronominal: purificar-se. Basta a pergunta: medo de purificar quem? A si mesmo: medo de purificar-se --- voz reflexiva portanto, confirmada pelo uso do pronome oblíquo (se), em vez e lugar do pronome reto (Ele).
Apropriamo-nos de exemplos de Cadore (p. 192) (2), como reforço:
1) 'Machuquei-'me' com o martelo.' (Eu)
'me' = a mim mesmo (pronome reflexivo)
2) 'Admirava-'se' no espelho.' (Ela)
'se' = a si mesma (idem)
2) XLVIII (p. 28):
“traz o coração na mão
e oferece em sacrifício para a lua;
eis o homem santo"
“e oferece em sacrifício para a lua”: construção incorreta, vez que "(o homem) traz o coração na mão e o oferece em sacrifício"; pois o homem oferece o quê? --- O coração. Esse pronome pessoal do caso oblíquo ('o') entra aí para evitar a ladainha "traz o coração na mão e oferece o coração em sacrifício"...
3) XLIX (p. 28):
“deus pede amor (até que o peito rasgue
e o orgulho inume-se),
e o homem santo ama a vida
antes da morte e depois
virá ser vida”.
(falta comentar)
4) LIV (p. 29):
“deus é pai e mãe,
porque se fosse apenas pai,
não teria gestado,
e se fosse apenas mãe
não havia fecundado,
porque deus é fecundo, tudo nasce,
tudo dá”.
“e se fosse apenas mãe / não havia fecundado” --- idem, pois a forma verbal ‘fosse’, no pretérito imperfeito do modo subjuntivo, exige a forma verbal ‘havia’ no futuro do pretérito do modo indicativo: haveria. Pelo menos tem sido assim há séculos.
Asseverando o enunciado acima, socorremo-nos da oração à página 181 da Gramática..., de Pasquale e Ulisses ( 3 ):
‘Se fizesse calor nestes dias, a safra estaria perdida.’
e de numerosos exercícios da p. 245 de Cadore, como:
1) Se não fossem os erros, a gente não se enganaria nunca.
2) Se todos quisessem, faríamos do Brasil uma grande nação.
5) LXXIII (p. 35):
“o homem tolo busca a felicidade,
mas o sábio priva de ser infeliz”
Engenhosos versos; “privar”, no entanto, se encontra aí erroneamente empregado como transitivo direto: o sábio priva quem de ser infeliz? Não João ou Maria, senão a ele mesmo. Por isso, é “privar-se”, verbo pronominal (voz reflexiva). O sábio não impede ninguém de nada, mas “se impede” da infelicidade: o sábio se priva de ser infeliz.
Defeitos
1 - As estrofes XVII, LXXXIV e CXVII, de tão parecidas, poderiam fundir-se numa só: ficaria menos cansativa e mais sintética a sua bonita mensagem.
2 - As estrofes LXXXV e CXXV contêm, cada uma, dois versos semelhantes, numa repetição desagradável:
a) 'quando o coração compreende
a alma eleva'
b) 'e vem a ser mente, e de mente, o coração
enleva o corpo'.
O poema em dados objetivos
Estrofes numeradas e nem sempre com sentido completo, migrando ou não, tal sentido, para a estância posterior. Ousamos falar, portanto, em anacoluto, porquanto há ruptura de lógica, embora tal rompimento não se dê em um verso ou uma frase, conforme a definição tradicional dessa figura de linguagem.
Em suma, acontece uma interrupção brusca (não no campo sintático, mas sim no conceitual, semântico), ocorrência resolvida às vezes na próxima estrofe, que retoma o nexo da anterior.
Destacados estes pormenores, o poema cresce em glória.
Versos livres (sem contagem de sílabas).
Versos brancos ou soltos (sem rima).
Estrofes compostas e heterométricas (contendo versos de medidas diferentes, de modo aleatório). ( 4 )
Embora numeradas (I a CXLIX), elas se condensam numa imensa massa amorfa, sugerindo uma nebulosa em eterno movimento.
Desde o título, o autor insiste em vocábulos como caos, coisas, fogo, leis, luz, movimento, nada, processo, silêncio, todo, tudo --- apontando para uma dimensão estelar, em clima de leitmotiv. Bastaria talvez como exemplo a estrofe XVII (p. 21), onde encontramos: começa, termina, torna a ser; princípio, retorno; morre, nasce, adormece...
E, explícito, CXXVIII (p. 47): "devir para devir".
Presentes em bom número também, no texto, os termos ‘consciência’ e ‘logos’, que nos remetem à concepção que o homem possui do Universo.
Contabilizamos quantas vezes ele usou as palavras abaixo, e já daqui alertamos: um excesso desnecessário: deus - 29; fogo - 25; lei - 19; silêncio - 50; todo - 46; tudo - 30.
O Glossário
a) Do prefácio:
Arthur Schopenhauer (1788 - 1860): filósofo alemão. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação, embora o seu livro Parerga e Paraliponema seja o mais conhecido. Foi quem introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou conhecido por seu pessimismo e entendia o Budismo como uma confirmação dessa visão. Também combateu a filosofia hegeliana e influenciou fortemente na juventude o pensamento de Friedrich Nietzsche.
Depauperar - Empobrecer; tirar as forças de; debilitar.
Epígrafe - Inscrição em monumento, medalha etc. Sentença aposta no frontispício da obra, capítulo etc.
Esquizolira - Neologismo, formado a partir de 'esquizofrenia (psicose caracterizada pela incapacidade de coordenar as idéias, perda de contato com o mundo etc.) e 'lira' (inspiração poética).
Excerto - Trecho (de obra literária).
Girante popular -
Georg W. F. Hegel (1770 — 1831): filósofo alemão. Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que ele representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.
Hegel estudou no seminário de Tubinga com o poeta Friedrich Hölderlin e o filósofo Schelling. Os três estiveram atentos ao desenvolvimento da Revolução Francesa e colaboraram em uma crítica das filosofias idealistas de Immanuel Kant.
Lecionou na Universidade de Jena, de 1801 a 1806. Após a vitória de Napoleão, abandonou Jena e se tornou reitor da escola de latim em Nuremberg.
Em 1816 ocupou uma cátedra na Universidade de Heidelberg. Tornou-se professor de filosofia na Universidade de Berlim, em 1818, até sua morte.
Uma das suas maiores obras é a Fenomenologia do Espírito. Em vida, ainda viu publicada a Enciclopédia das Ciências Filosóficas, a Ciência da Lógica e os Elementos da Filosofia do Direito.
Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470 a.C.): filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de "pai da dialética". Problematiza a questão do devir (mudança). Desprezava a plebe, os poetas, os filósofos e a religião. Recusava-se também a participar da política (essencial aos gregos). Escreveu o livro Sobre a Natureza, com um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares. Sobre a vida de Heráclito, Diógenes Laércio nos relata:
"Filho de Blóson, ou, segundo outra tradição, de Heronte, era natural de Éfeso. Homem de sentimentos elevados, todavia orgulhoso e cheio de desprezo pelos outros. E, por fim, tornado misantropo e retirando-se, vivia nas montanhas, alimentando-se de ervas e plantas.”
Heráclito parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático. Para ele, "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento.
O devir, a mudança que acontece em todas as coisas, é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam, coisas úmidas secam, coisas secas umedecem, etc.
Segundo ele, o fogo é o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e de novo é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela Eternidade.
Incompletude - Aquilo que não é ou não se acha completo.
Søren Kierkegaard (1813 — 1855): teólogo e filósofo dinamarquês do século XIX, conhecido como o "pai do existencialismo" . Sua obra é de difícil interpretação, pois ele a escreveu sob vários pseudônimos.
Em 1840, conclui o curso de Teologia, apresentando "Sobre o Conceito de Ironia", sua tese de doutorado. Só que, em vez de pastor e pai de família, Kierkegaard escolheu a solidão. Para ele, essa era a única maneira de vivenciar sua fé.
Kierkegaard elabora seu pensamento a partir do exame concreto do homem religioso historicamente situado. Assim, a filosofia assume, a um só tempo, o caráter socrático do autoconhecimento e o esclarecimento reflexivo da posição do indivíduo diante da verdade cristã.
Principais obras: Diário de um Sedutor, É preciso duvidar de tudo, Estética do Matrimônio, Migalhas filosóficas, O conceito de angústia, O Desespero Humano, Os lírios do campo e as aves do céu e Temor e Tremor.
Nolens volens - formas verbais latinas, significam "querendo ou não querendo".
Oblato - Leigo que oferece seus serviços a uma ordem religiosa.
Tout court - expressão francesa. No Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora) se acha definida como: "sem mais; só isto; sem haver nada a acrescentar; simplesmente; somente..."
b) Do poema:
Devir (CXXVIII) Verbo int. Vir a ser; tornar-se; devenir. Em Filosofia, a transformação incessante e permanente pela qual as coisas se constroem e se dissolvem noutras coisas; devir, vir-a-ser.
Egresso (Do latim 'egressu') (XVII, 21) (Cf. CXLIII, 51) - Adj. Que saiu, que se afastou, que deixou de pertencer. Ex.: ex-frade, ex-detento.
Há ainda, no Aurélio, 'egressão' (lat. 'egressione'): ato de sair, de afastar-se.
Inexistia o verbo 'egressar', criado e usado pelo poeta na estrofe XVII:
(o ser) começa onde termina
e onde termina torna a ser princípio
porque o princípio egressa para si.
Aproveitamos para transcrever também a estrofe seguinte, que estampa a solenidade de um destino ou missão se cumprindo, ou a inocência de uma andorinha nascendo:
'porque ao morrer ele nasce
e quando nasce ele adormece entre as flores
para morrer'.
E mais outra, a CXLI:
(...)
por isso libertei meu coração para a mente
e pude voar, como um pássaro sem asas,
para longe de mim.
Insóbrio (C) Adj. A que falta sobriedade. O sentido do subst. fem. 'insobriedade' é "qualidade de insóbrio; falta de sobriedade".
Logos (Grego) S.m. Em Filosofia, o princípio da razão. Também admiráveis são as definições de Heráclito de Éfeso e Platão para esse venerando vocábulo. 'Logos' se acha presente nas estrofes LV, LXIII, CVII e CXXXIII.
Inexiste, porém, o feminino 'a logos', empregado por André na estrofe CVI. Aliás, mal empregado, sem nenhuma motivação estética, estilística ou semântica.
Sicário (LXLIV, 38) - Homem contratado para matar.
Dédalos (De Dédalo, arquiteto grego que construiu o labirinto de Creta.) (CXLII) S.m. Cruzamento confuso de caminhos; labirinto; emaranhamento; confusão.
c) Do resenhista:
Esparsidão, esparsidez – querendo explicar o ‘espalhamento’ das estrofes e versos pelo ‘espaço’, diríamos assim.
Leitmotiv (pronúncia: laitmotíf) – palavra alemã, significando recorrência a um tema, de diferentes formas, com insistente regularidade.
As impressões finais
Começaremos com expressões fáceis:
"ode fraternal’,
"cântico da esperança’,
"sonhos viajantes’,
"alegre elegia’ e
"poema universal’,
para depois descartá-las, por imprestáveis, visto a magnitude do desafio crítico. Nossas palavras, míseros trapos verbais, sequer procurarão vestir seu livro.
Alguns versos antes incompreensíveis saem da névoa, revelando-se, ao término de várias leituras, como pássaros místicos que adivinhamos acima das nossas nuvens, garciamarquezmente. Acenamos então, recompensados, para o raro sentido que trazem e nos ofertam, enriquecendo-nos...
A 'esparsidão' poética nos leva a uma reflexão sensata: se os versos ali se acham reunidos, simplesmente, sem maiores pretensões, não se lhes pode cobrar exação, rigor seqüencial, concisão ou precisão. Reuniram-se talvez independente do autor, em decisão unânime, racional, intencionalmente lírica ou épica. (Pois todo verso vivo prova que está vivo: torna-se múltiplo, mexe-se, anda, agita-se, sai do papel, peregrina, decide sua trajetória; hospeda-se, habita em nós...)
Sim, porque a obra do André Boniatti, até aonde a conhecemos, mira sempre a epicidade: não o ser --- os seres; não o indivíduo --- a Espécie; não as partículas --- o Espaço.
A compreensão maior, superior, assim, só se torna nítida pela visão da Galáxia, porque cada estrofe, autônoma, se move a anos-luz das outras, ainda que contíguas, subsequentes, ulteriores, paralelas.
Um deus dialogando com Deus? Sim, no entanto sem rompantes, cobranças ou críticas: um deus desblindado. Só louvando descobertas. Num tom informal, a conversação flui dialeticamente, como a Vida e o Universo. Ressalte-se a postura contrita, respeitosa, modesta do poeta, que não se atribui ares de interlocutor, intermediário ou intercessor dos homens. Vemo-lo como um co-deus (bom começo).
O vate sempre grafa “deus”, e nunca “Deus”, demonstrando uma intimidade que nos enternece, resgata e redime. Quanta humildade nesse “deus”!
Palavras sob as palavras? Sim, resultando na misteriosa música que nos transpassa e transporta, melhora e faz rezar --- sem sairmos do livro.
Catarse? Livro-ponte? Livro-luz? Bilhetes para o Altíssimo (escritos nas estrelas)?
Mais um trabalho filosófico, metafísico, existencial, perscrutador da nossa condição no mundo...
André contempla o Absoluto e nos prepara para ele. Ficamos com a professora Valdeci:
“Sua poesia anuncia a perplexidade frente ao mistério da existência e a inutilidade de todos os afazeres e vaidades humanos diante do silêncio inexorável que é a única resposta a vir do espaço sideral.
Cabe a nós a dádiva de nos aproximarmos de suas pegadas.”
*** *** ***
Consultas:
a) Livros:
1 - “Rubaiyat”, de Omar Khayyam. Tradução de Otávio Tarquínio de Souza. 177 p., 14ª ed. J. Olympio, RJ, 1969.
Nota do tradutor: “Rubaiyat” é o plural a palavra persa “rubai” e quer dizer quartetos.”
2 - ‘Curso Prático de Português’, de Luís A. Cadore. 520 p., 7ª ed. Ática, SP, 1998. www.atica.com.br
3 - ‘Gramática da Língua Portuguesa’, de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante. 568 p., 2ª ed. Scipione, SP, 2006. www.scipione.com.br
4 - ‘Nova Gramática Aplicada da Língua Portuguesa’, de Manoel P. Ribeiro. 544 p., 16ª ed. Metáfora Editora, RJ, 2006. (p. 368)
5 - 'Gramática e Literatura Brasileira', de Douglas Tufano. 368 p. Moderna, SP, 1995.
www.moderna.com.br
6 - 'Cem Anos de Solidão', de Gabriel García Márquez. Trad. Eliane Zagury. 383 p. Ed. O Globo, RJ, 2003. (p. 218)
7 - Fragmentos do Silêncio. André Boniatti. 54 p. Edição do autor. Paraná, 2006. Sem preço definido. Pedidos a: zeforis@hotmail.com
8 - 'Novas Palavras -- Português', de Emília Amaral e outros. 24 p., 2ª ed. FTD, SP, 2003. www.ftd.com.br
9 - ‘Dicionário Escolar da Língua Portuguesa’, de Aurélio B.H. Ferreira. 992 p., 2ª ed. Positivo, Paraná, 2006. www.editorapositivo.com.br
10 - ‘Minidicionário da Língua Portuguesa’, de Sérgio Ximenes. 980 p., 2ª ed. Ediouro, RJ, 2000. www.ediouro.com.br
11 - 'Novo Dicionário da Língua Portuguesa', de Aurélio B.H. Ferreira. 1828 p., 2ª ed. Nova Fronteira, RJ, 1986.
b) Sites (vistos superficialmente, admitimos):
www.answers.yahoo.com
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Dicionário da Língua Portuguesa - www.priberam.pt
Dicionário de Termos Literários
www.wikipedia.org
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Pesquisas, análise, escritura e digitação iniciadas em 10.01.2008.
Ocupei-me desta resenha por 91:00h, até 12/10/2013.