Mulheres Kennedy

 

MULHERES KENNEDY

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “As mulheres do clã Kennedy”, de Pearl S. Buck. Editorial Nova Época, São Paulo-SP, sem data. Título original: “The Kennedy woman”. Tradução: Syomara Cajado e Charles Marie Antoine Bouéry. Capa: Edmundo Rodrigues.

 

Pearl S. Buck, autora norte-americana, viveu também algum tempo na China e tem histórias passadas lá. Aqui ela surpreende nesse livro-reportagem sobre mulheres importantes da família Kennedy, que chegou a ser a mais influente nos Estados Unidos até ser atingida por tragédias sucessivas, bem conhecidas: os assassinatos de John (1963), no exercício da presidência, de Robert (1968) e a fatalidade ocorrida com Edward Kennedy, ao cair com o automóvel no rio e sua secretária morrer afogada.

A maior ênfase do livro é mesmo para Jacqueline, como se poderia esperar. Ela estava ao lado de John Kennedy no dia do fatídico atentado e poderia também ter morrido. Anos depois ela casou com o magnata grego Aristóteles Onassis, bem mais velho que ela:

“Entretanto, a mulher de um marido mais velho é a sua alegria, e sua amada, uma mistura de filha, amante e mulher. Seu desejo é vê-la feliz e grata, todavia satisfeita com ele. Sim, Jacqueline Onassis tinha sabido escolher o que precisava. Ela estava segura, e a segurança nesta época e neste mundo é o bastante – ou quase – não é? Pelo menos, é muito rara.”

Pearl procura de fato, ao longo do livro, interpretar os sentimentos e personalidades das mulheres focalizadas – e até dos homens – o que me parece um pouco de pretensão.

Entretanto ela também fala coisas sensatas:

“Uma mulher nunca se sente mais sozinha do que durante uma guerra.”

E aí a escritora aborda Rose Kennedy. Seus filhos mais velhos, Joseph e John, alistaram-se na Marinha, durante a II Guerra Mundial:

“Sendo ou não realidade, Rose teve que enfrentar a possibilidade da morte em sua família, por exemplo, a de seu filho mais velho, reprodução possante e viçosa de seu pai, e portanto, um moço de ideias próprias, que havia decidido livremente ir para a guerra.

Logo em seguida foi John que também alistou-se voluntariamente na Marinha. Agora ela rezava todos os dias para os dois.”

Joseph morreu na guerra, quando seu avião explodiu e seus restos nunca foram encontrados. Quanto a John, esteve desaparecido durante um mês. Sobreviveu, entrou na política, tornou-se presidente... e morreu assassinado.

As mulheres Kennedy não entravam na política, ficavam sofrendo na retaguarda.

O livro é detalhista. Aborda Kathleen, filha de Rose, que se apaixonou pelo inglês William Cavendish, Marquês de Hartington; mas sendo Kathleen católica e William anglicano, não chegaram em acordo sobre a educação dos futuros filhos e casaram só no civil, o que era irregular. Kathleen ficou privada de comunhão, e sua família é tradicionalmente católica. Logo porém estava viúva. Cavendish foi morto em combate. Então Kathleen se reconciliou com a Igreja Católica e escreveu a uma amiga: “Deus tomou a seu encargo a decisão do problema”.

Há diversas fotografias espalhadas no volume.

Não posso julgar as intenções de Pearl S. Buck ao esmiuçar tanta coisa da intimidade de uma família, mas a impressão que eu tive desta obra é que ela me pareceu constrangedora.

 

Rio de Janeiro, 31 de março de 2025.