Calife e os banheiros dos astronautas

 

CALIFE E OS BANHEIROS DAS ASTRONAVES

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Como os astronautas vão ao banheiro?”, por Jorge Luiz Calife. Editora Record, Rio de Janeiro-RJ, 2003. Capa e projeto gráfico: Porto + Martinez. Subtítulo: “E outras questões perdidas no espaço”.

 

“Este livro é dedicado aos jovens do novo milênio. A geração que hoje faz perguntas e que pode assistir ao desembarque do homem no planeta Marte, como a minha geração viu o homem descer na Lua.”

Escritor de ficção científica e jornalista de assuntos científicos, Calife, que conheci pessoalmente creio que lá pelas alturas de 1986, desenvolve em mais de 250 páginas alguns temas pouco lembrados ligados à Astronáutica. Os banheiros, por exemplo, constituem um problema muito sério, ainda mais nas primeiras viagens espaciais, com naves que sequer tinham banheiro! Ficamos sabendo que o primeiro astronauta norte-americano, Allan Shepard, urinou em seu escafandro, pois a nave por atraso técnico ficou quatro horas sem decolar, para um vôo que só durou 15 minutos.

Calife destrói a lenda de que astronautas ficam malucos nas viagens espaciais e principalmente viagens à Lua. Afinal, os loucos também são chamados “lunáticos”. É citado um filme de Walt Disney que eu assisti, “Moon pilot”, onde se torna necessário blindar a nave espacial com uma cobertura de berilo, para evitar a loucura causada pelas emanações lunares.

Muito doloroso o capítulo que fala na cadela Laika e outros animais sacrificados em vôos espaciais. O ser humano é muito insensível. Existem experiências que ofendem gravemente a ética.

Capítulo importante é o 3: “O homem pisou mesmo na Lua?”. Calife desmente com sólidos argumentos a ‘teoria da conspiração” que declara ter sido fraude o pouso humano na Lua. Infelizmente Calife, no início do capítulo, dá uma desnecessária alfinetada na religião:

“Se você perguntar a um homem do povo (?) porque não acredita nos vôos lunares, ele pode mesmo apresentar argumentos religiosos. O céu é o território exclusivo de anjos e deuses (sic). Deus não permitiria que o homem fosse à Lua porque isso seria um sacrilégio.”

Ora, Calife parece esquecer que o Papa Paulo VI saudou com entusiasmo a primeira viagem tripulada à Lua, em 1969. Além disso quase ninguém mais crê em “deuses”, mas em Deus, o que é de todo diferente; e o céu teológico não é o céu astronômico.

Em suma, um livro de muito interesse para quem aprecia o tema, e de fácil leitura por ser ciência popular, sem o uso de jargão difícil e matemática complicada.

 

Rio de Janeiro, 26 de março de 2025.