Os marcianos de Jimmy Guieu

 

OS MARCIANOS DE JIMMY GUIEU

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance de ficção científica “Nós, os marcianos!”, de Jimmy Guieu. Tecnoprint Gráfica S.A., Rio de Janeiro-RJ, sem data. Série Ouro 563, ou série Futurâmica 13. Tradução: Luiz Giusti. Título original francês: “Nous les martiens”. Editions Fleuve Noir e Documents & Reportages Internationaux, Paris.

 

A Série Futurâmica, que marcou época entre nós, era muito simpática em sua apresentação gráfica mas suas novelas costumavam ser literariamente fracas e simplistas. Contudo, divertiam.

Jimmy Guieu era um autor francês muito conhecido e este livro conta uma saga que “explica” a vida no planeta Terra como originária de migrantes de Vênus e de Marte, que já teriam civilizações avançadas há muitos milênios. Resumindo, as raças (etnias soa melhor) branca e vermelha vieram de Marte, enquanto as raças amarela e negra vieram de Vênus.

Guieu se inspira em parte no conhecido livro “Mundos em colisão”, de Immanuel Velikovski, teoria catastrófica que já deu muito o que falar.

Guieu revela farta imaginação ao contar uma história que se passa no longínquo passado, quando um cometa ameaça a estabilidade do Sistema Solar interior. A situação mé resumida na página 12:

“Os calculadores (computadores, sem dúvida) forneceram, neste instante, os resultados solicitados, baseados nos dados que nos foram fornecidos – disse o homem do vídeo, dirigindo-se aos dois cientistas. – Vossos cálculos preliminares estavam exatos, professor Klamok. O cometa Yahon dirige-se para Nergal, o nosso planeta (observação inútil; quanto a Nergal, é Marte), a 180.000 quilômetros por hora. Sua trajetória nos permite afirmar que passará a 219.000 quilômetros do planeta Ishtar (Vênus). Geona (a Terra) também sofrerá fortes cataclismos, mas não da mesma violência e da mesma completude dos de Nergal e de Ishtar. Sua velocidade cresce à medida que se aproxima do Sol (...)”

Assim se forma a expedição marciana à Terra, em busca da sobrevivência, e com destaque para o Dr. Hang Maiko, astrofísico, e a Dra. Whilna, engenheira astronáutica: ele branco, ela vermelha. Mas também os venusianos lançam uma expedição à Terra. Esta traz pretos e amarelos, só que os amarelos, chefiados pelo cruel Koi-Noo, predominam sobre os negros (liderados por Ulgho, mas visivelmente em situação de inferioridade). Koi-Noo pretende também dominar os marcianos. Daí o conflito que começa com o rapto de Whilna – que é logo cobiçada pelos dois líderes.

Portanto é tudo muito esquemático e cheio de clichês.

Dá para sentir um racismo subjacente, a própria Whilna, embora cientista, sente repugnância dos negros e dos amarelos.

Há que datar o romance, que é da primeira metade da década de 1950, e influenciado por preconceitos que subsistiam na Europa.

 

Rio de Janeiro, 9 de março de 2025.