“O MEU MUNDO ÉBRIO”, DE ELGANO RIBEIRO🇦🇴 | RESENHA LITERÁRIA
1. FICHA TÉCNICA
Título: O meu mundo ébrio
Autor: Elgano Ribeiro
Género: Lírico/Poesia
Edição: Editora Ases da Literatura
Ano: 2023
Formato: Impresso
2. ANÁLISE E RESENHA
A poesia é um mundo dentro dos mundos, um universo mágico que fascina e deixa a desejar, um universo forjado pelas mãos daqueles que buscam perceber a alma do mundo e através da escrita, enviam mensagens codificadas às outras vidas, ao universo que rodeia, permitindo que afinem e desafinem suas preocupações, seus medos, seus amores, seus sonhos, suas expectativas, suas crenças, seus gritos de socorro, seu clamor e esperança, sua confiança na superação, vidas escritas no papel.
Para o melhor desfrute desta arte, está em jogo a percepção sensorial de quem lê um texto, de quem observa uma pintura, de quem ouve uma música, observa uma paisagem, um sorriso ou um gesto que move, por exemplo, aproveitando-se de tais detalhes para uma criação genuína [de imagens-palavras-sons], paulatinamente acompanhando a intuição e, às vezes, não raras são as situações que um texto poético esbarra na compreensão do leitor. O grande Elgano Ribeiro, escritor angolano, através da obra poética “O meu mundo ébrio”, transborda um eu lírico que congrega uma complexidade de temas com diversos corpos poéticos, uma miscelânea da vida, do amor, da terra, da política, da religião, da decepção, do clamor, do quotidiano, da sociedade, enfim, imagens vivas do viver, mesmo quando a utopia dança algures.
Um bom escritor é, antes de tudo, um bom apreciador e leitor da vida, o viver é como um livro aberto esperando para o capítulo seguinte, engano-me? Não. Sempre cri que a verdadeira inspiração surge do interior, no entanto, somos lapidados pelo exterior, daí mesmo, surge a questão da escolha. Através dos heterónimos criados pelo autor, como Martin Gandhi e Ntoka Kiene, que congregam diferentes formas de viver a poesia e destilar o seu âmago, podemos destacar os seguintes corpos poéticos:
a) Amor romântico – Onde o eu lírico expõe o seu território emocional, não apenas o lado belo, mas também, o caos capaz de chegar;
b) Amor à terra e à natureza– O eu lírico honra, homenageia a sua origem, a cultura, apelo à valorização e o resgate dos traços da africanidade, por outro lado, vénias e gratitude ao universo criador;
c) Grito aos hematomas sociais – O eu lírico é um ser preocupado com os dilemas sociais tão bem conhecidos, desde a política à religião, a poesia tem o poder de fazer refletir o que é a sociedade, na tentativa de transformar as mentalidades, para se ter uma estadia diferente.
Neste aventurar das palavras, como os versos são lapidados e como fazem suas vénias, de como as estrofes soam e aguçam os sentidos, as rimas cruzam-se, emparelham-se, interiorizam-se e assumem diferentes esquemas e variedades. “O meu mundo ébrio” transcreve, através de versos, diferentes perspectivas do mundo e do viver, frutos dos factos apreciados na sociedade e das utopias que nunca nos abandonaram, o meu, o teu, do autor, quem sabe, e a presente obra, surge como resultado de dias e noites de desafios mentais. Gostava de citar Paulo Leminski:
“O que dizer de uma frase assim: a poesia existe para satisfazer a necessidade de poesia dos poetas? Escândalo, loucura e anátema! […] Poeta não é só quem faz poesia. É também quem tem sensibilidade para entender e curtir poesia. Mesmo que nunca tenha arriscado um verso. Quem não tem senso de humor, nunca vai entender a piada. E concluo: – Tem que ter tanta poesia no receptor quanto no emissor. […] Saúde a vocês que fazem, saúde a vocês que curtem, polos magnéticos por onde passa a faísca da poesia.”
Ler Elgano Ribeiro é viajar sem sair do lugar, um convite à reflexão, um brinde à vida. “O meu mundo ébrio” é uma obra que vale a pena ler. Aos que estiverem no solo angolano, os exemplares estão disponíveis no valor de 10.000Kz, fácil e rápido adquirir.