SOCIEDADE DO CANSAÇO

Sociedade do cansaço é uma obra escrita pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, na qual ele analisa e explora as dinâmicas da sociedade contemporânea e seus impactos na saúde mental e no bem-estar dos indivíduos, destacando questões relacionadas à produtividade, desempenho e exaustão na era digital.

O filósofo argumenta que, ao contrário da sociedade disciplinar descrita por pensadores como Michel Foucault, na qual o poder era exercido por meio da coerção e da restrição, a sociedade contemporânea é caracterizada por uma "ditadura da transparência" e do desempenho autoimposto:

A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais “sujeitos da obediência”, mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos. [...] A sociedade disciplinar é uma sociedade da negatividade. É determinada pela negatividade da proibição. [...] A sociedade de desempenho vai se desvinculando cada vez mais da negatividade. [...] O poder ilimitado é o verbo modal positivo da sociedade de desempenho. O plural coletivo da afirmação Yes, we can expressa precisamente o caráter de positividade da sociedade de desempenho. No lugar de proibição, mandamento ou lei, entram projeto, iniciativa e motivação. A sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados. (HAN, 2015, p.14)

Segundo ele, essa mudança de paradigma de um tipo de sociedade para outro, aponta para a continuidade do desejo inconsciente de maximizar a produção pelo inconsciente social e, assim, ocorre a substituição do modelo da disciplina pelo modelo do desempenho, que se caracteriza pelo esquema positivo de poder.

Isso ocorre porque a partir de um certo nível de produtividade, a negatividade que vem da disciplina acaba por impedir um maior crescimento e nesse sentido a positividade que vem do poder é mais eficiente. Sendo assim, há uma troca para o registro do poder, já que o sujeito de desempenho se torna mais rápido e mais produtivo que o sujeito da obediência da sociedade disciplinar. Entretanto, “o poder [...] não cancela o dever” (p.15) e o sujeito de desempenho permanece disciplinado.

Assim sendo, Alain Ehrenberg (sociólogo e psicólogo social francês), citado por Byung-Chul Han (2010, p. 15-16), diz que doenças como a depressão aparecem na transição da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho, pois o modelo de controle comportamental baseado no autoritarismo e obediência da sociedade disciplinar foi substituído por um modelo que incentiva cada indivíduo à iniciativa pessoal, comprometendo-se a se tornar ele mesmo. Para ele, então, “o depressivo não está cheio, no limite, mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo”.

Nesse sentido, o que nos torna depressivos é o fato de ter de obedecer somente a nós mesmos e, por isso, segundo ele, “a depressão é a expressão patológica do fracasso do homem pós-moderno em ser ele mesmo”. Mas além disso, a depressão tem outros aspectos como a carência de vínculos, que contribui para a crescente fragmentação social e a violência sistêmica que é característica da sociedade de desempenho.

Com isso, o fator-chave para a causa da depressão seria a pressão de desempenho que o indivíduo impõe a si mesmo “como um novo mandato da sociedade pós-moderna de trabalho” (p.16), pois “as proibições da sociedade disciplinar dão lugar à responsabilidade própria e à iniciativa”. (p.16)

Para Han, essa transformação da sociedade ao passar de um modelo disciplinar baseado na repressão e na obrigação para um modelo de desempenho, no qual o indivíduo é constantemente incentivado a produzir e consumir, leva a uma sensação de que a pessoa é responsável por seu próprio sucesso ou fracasso, gerando assim um sentimento de culpa e inadequação.

Assim sendo, o autor discute como a sociedade contemporânea, marcada pela constante busca por eficiência, sucesso e felicidade, acaba por gerar um estado de cansaço crônico e de esgotamento no indivíduo. Além disso, há também uma abordagem sobre a influência das redes sociais, da tecnologia e do capitalismo na formação desse contexto de exaustão.

Outras questões discutidas pelo filósofo são:

► O excesso de positividade e a cultura do "sim" – Segundo ele, na sociedade do desempenho, o excesso de informações e estímulos leva o indivíduo a sentir-se sobrecarregado e incapaz de lidar com tantas demandas. Desse modo, a cultura do "sim", na qual tudo parece possível e acessível, impede que o indivíduo reconheça seus limites, levando ao esgotamento físico e mental.

► A depressão e a Síndrome de Burnout como doenças da sociedade do desempenho – O autor destaca que a depressão e o Burnout são doenças características da sociedade do desempenho, resultado da pressão constante para produzir e consumir. O indivíduo se sente exausto, desmotivado e incapaz de encontrar sentido naquilo que faz.

► A importância do ócio e da contemplação: Han defende a importância do ócio e da contemplação como formas de resistência à sociedade do desempenho. Ele argumenta que é preciso aprender a desacelerar, a desconectar-se do mundo digital e a dedicar tempo para atividades que proporcionem prazer e bem-estar.

Publicado em 2010, o livro tem sido amplamente discutido e debatido por abordar temas relevantes para a compreensão do mundo atual, incluindo a cultura do trabalho, a saúde mental, a alienação e a busca incessante por realização pessoal em um ambiente marcado pela hiperconectividade e pela pressão constante.

Como podemos perceber, a obra nos convida a refletir sobre nossos valores e prioridades, questionando o modelo de vida que estamos seguindo. Ao trazer à tona questões como o excesso de trabalho, a cultura do consumo e a busca incessante por resultados, ela nos alerta para os riscos do esgotamento e da perda de sentido da vida.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Trad. Enio Paulo Giachini. 1ed. Petrópolis: Vozes, 2015. (em meio eletrônico)

Alessa B
Enviado por Alessa B em 01/02/2025
Código do texto: T8254922
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