A primeira parte do Planeta dos Dragões

 

A PRIMEIRA PARTE DO PLANETA DOS DRAGÕES

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance de fantasia “O planeta dos dragões” volume 1, de Anne Mc Caffrey. Livros do Brasil, Lisboa-Portugal, sem data. Coleção Argonauta, 297. Título original: “Dragonflight”, copyright 1968 de Anne Mc Caffrey. Tradução: Eurico Fonseca. Capa: A. Pedro.

A Coleção Argonauta, que atravessou décadas e ultrapassou os 500 números, foi sem dúvida a maior coleção de ficção científica em língua portuguesa e tinha como subtítulo: “Os grandes romances de ficção científica”. Pelo menos durante muito tempo, pois este subtítulo não aparece neste volume 297.

A autora, nascida nos Estados Unidos e estabelecida na Irlanda – inclusive naturalizou-se irlandesa – escreveu uma série imensa de romances com dragões do fictício planeta Pern, e que, mesmo apresentados como ficção científica, estão no clima da fantasia, como nos livros de Tolkien, C.S. Lewis e J.K. Rowling.

Aqui nós temos a edição portuguesa de “The dragonriders of Pern” (Os cavaleiros de dragões de Pern), obra dividida em duas partes, “Dragonflight” (Vôo dos dragões) e “Dragonquest” (À procura dos dragões). Curiosamente a nota editorial diz que por razões técnicas (é claro, aconteceu muito na Argonauta por serem edições de bolso) a edição portuguesa estava dividida em três volumes. Mas como dividiram dois volumes em três? Ainda não sei, pois só li este primeiro.

Bem, a autora parece ter obsessão por dragões, e criou um mundo cheio de protocolos na simbiose entre humanos e dragões. Estes são seres inteligentes e que inclusive se afeiçoam aos seres humanos e os servem, mas também podem matar selvagemente os que não passam num teste de empatia para se tornarem cavaleiros de dragões.

Pern está constantemente na expectativa de uma ameaça obscura que vem do longínquo espaço e também existem disputas políticas em sua sociedade. A trama é pontilhada, de tempos em tempos, por versos de algum fictício poema épico daquele mundo. Exemplo:

 

“Do ninho e da Bacia,

bronze, castanho, azul e verde,

sobem os homens-dragões de Pern,

no ar, sobre as asas, vêem e deixam de ver-se.”

 

Lessa é a mulher que tem o poder de interagir com a dragoa Ramoth. Ela é uma “Mulher-de-Ninho”, ou seja uma mentora de dragão fêmea.O ninho onde ela vai parar tem disputas políticas em seu Conselho, inclusive discute-se se deve cobrar à força tributos em alimentos, que deveria supostamente receber.

Eu não consegui me interessar pelo enredo: a narração é lenta, maçante, a história é sangrenta e a infra-estrutura desta sociedade imaginária é enfadonha e pouco convincente.

Há até um certo machismo nesta sociedade, pois Lessa, ao se tornar Mulher-de-Ninho, descobre que não pode voar em dragão, pois a sua pupila Ramoth, como fêmea poedeira, não voava:

“No entanto, o único vôo de Lessa no pescoço de Mnementh enchera-a com um desejo insaciável de repetir a experiência. Ingenuamente ela pensara que a ensinariam, tal como acontecia com os jovens cavaleiros e os dragões novos. Mas ela, supostamente a mais importante habitante do ninho depois de Ramoth, mantinha-se amarrada à terra enquanto os jovens entravam e saíam do “entre” (nota: espécie de portal que surgia em vôos de dragões) por cima do ninho em vôo incessante. Ela sentia-se furiosa com tão intolerável restrição.”

Preciso acrescentar que Lessa conseguirá que sua dragoa Ramoth voe esplendorosamente, embora se supusesse que por ser fêmea não voava?

A trama em suma é complicada e elaborada com argúcia mas a meu ver a história é indigesta.

 

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2025.