SONHO MORTAL, resenha
SONHO MORTAL, resenha
Miguel Carqueija
Resenha do romance de ficção científica “Sonho mortal”, de E.C. Tubb. Editora Livros do Brasil, Lisboa-Portugal, sem data. Coleção Argonauta, 150. “Copyright” 1967 de E.C. Tubb. Tradução: Eurico Fonseca. Capa: Lima de Freitas. Título original inglês: “Death is a dream” (A morte é um sonho).
Tubb é um conhecido autor inglês de FC. Infelizmente, ele e outros autores do gênero perderam a antiga inocência e o idealismo da ficção científica e deram para escrever romances complicadíssimos com detalhes exorbitantes e de todo inverossímeis mesmo nos domínios da fantasia. Em muitas obras que eu li nos últimos anos decepcionaram-me o materialismo dos autores e o caráter sem brio dos personagens. Faltam a eles alguma doçura e humanidade. Geralmente o protagonista é um sujeito durão mas chato e cabotino, sem charme.
A história se passa num futuro meio distante, após a chamada “Derrocada” ou fim de uma civilização pela guerra. Tubb tem a ingenuidade — comum em autores ateus — de supor que a religião possa acabar por fatores circunstanciais. “Tanto quanto pude concluir — diz o personagem principal, Brad — tudo isto começou vinte anos depois da Derrocada. A religião estava a morrer havia anos e a guerra pôs-lhe fim por completo.”
Eu acho que um autor, mesmo sendo ateu, devia deixar a religião em paz pois, por mais que ele fique agourando na ficção, ela continuará a existir na vida real.
Nessa história, porém, muita gente crê na reencarnação, pois as pessoas passam a ter supostas memórias de outras vidas. O próprio Brad, vendo-se num local perigoso, simula ser o bandido Dick Turpin.
O mundo imaginado é uma distopia onde tudo tem de ser pago, onde a caridade é praticamente desconhecida, e onde a inadimplência pode custar a vida. É um tempo estranho, onde pessoas são “ressuscitadas” de animação suspensa, ou criogenia, onde são postas para evitar a morte.
“Suspensão de vida”, continuara o médico. “Uma coisa simples, uma vez que conseguimos eliminar os inconvenientes. Apenas uma questão de abaixar o metabolismo a quase zero e mantê-lo assim.” Bateu a mão contra a parede, “Este lugar foi construído como uma casa-forte. Você ficará aqui em segurança até que nós o despertemos e quando o fizermos saberemos como curar o que não estiver em condições.Tudo quanto terá a fazer será dormir, e quando acordar já não terá problemas.”
Infelizmente uma guerra atômica ocorreu e o lugar ficou perdido. A radioatividade interditou boa parte de Londres e quando o “útero artificial” foi descoberto só conseguiram reviver três dos 37 criogenados: o próprio Brad, mais Carl e Helen. Que agora terão de tentar sobreviver numa sociedade impiedosa, quase inviável.
Afinal o romance é enjoativo, sem personagens interessantes e com situações que não convencem. A meu ver o problema maior é o argumento geral ser por demais forçado, o que leva o leitor ao desinteresse; de resto, Tubb não era um autor de vanguarda no panorama da ficção científica mundial.
Rio de Janeiro, 1º de janeiro de 2025.
Nota: infelizmente a capa do livro é escurissima e o que saiu na foto foi isso.