Martim Heidegger (1889-1976) é tronco comum de tendências filosóficas ligadas à fenomenologia e ao pós-estruturalismo. Antecipou modelos de desconstrução na medida em que formulou meios para crítica à metafísica. Heidegger indica-nos que a história da metafísica na tradição ocidental promoveu tendência niilista que culminou no reinado de tecnologia que anuncia o triunfo das ciências positivas. Deixamos de acreditar em tudo, em nome de uma crença que nunca entendemos. Crenças, não se explicam.
Heidegger esforçou-se para domesticar esse niilismo inevitável por meio de formas alternativas de pensamento, que nos libertariam de cálculos bem comportados da tecnologia, permitindo-se que o Ser se revele completamente para quem o questione. Para Heidegger, a vida humana é a interpretação espontânea da realidade de si mesma e de todas as coisas.
Heidegger questionou as possibilidades de comunicação. Seu pensamento ilustra o momento contemporâneo, marcado pela convergência discursiva entre povos distintos, que tem culturas distintas, e que falam línguas distintas, com fés e crenças distintas, ainda que esforço muito grande se tenha para a unificação de valores.
A babelização da existência já era prevista por Heidegger, em expressivo texto no quão imaginou diálogo entre um japonês e um pensador ocidental (o próprio Heidegger). Tem-se como premissa a imagem do filósofo alemão, que afirmou ser a linguagem a casa do ser. A língua de uma conversa pode destruir continuamente a possibilidade de se dizer o que se discute, de se entender o que se escuta, de se explicar o que se pensa, de se pensar o que se explica:
Há álbum tempo, com muita timidez, chamei a linguagem de casa do ser. Se, pela linguagem, o homem mora na reivindicação do ser, então nós europeus, pelo visto, moramos numa casa totalmente diferente da oriental (...) Assim a conversa de uma casa para outra torna-se quase impossível[1].
Essa impossibilidade comunicativa denuncia marco fundacional do pensamento racional e iluminista que concebe possibilidade de compreensão universal, baseada na interposição das linguagens.
Embora de forma bem mais comportada, Heidegger deu continuidade a linha questionadora do pensamento germânico que remonta a Nietzsche, o ponto de inflexão para a entrada na pós-modernidade, isto é, se essa expressão ainda carrega algum sentido.
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[1] Heidegger, Martin. A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Ed. Universitária São Francisco, 2003, p. 74.