Charlie Chan: o guardião das chaves
Resenha do romance policial "O guardião das chaves", de Earl Derr Biggers. Casa Editora Vecchi Ltda., Rio de Janeiro, 3a. edição. Tradução: Elisa Lynch.
Como esse livro foi achado num sebo e com a capa despencada, não posso afirmar que não tenha data impressa, mas não a encontrei no que sobrou do exemplar - felizmente, o texto está inteiro.
Charlie Chan, inspetor de polícia sino-americano, que trabalha no Havaí, é protagonista de um seriado que já fez sucesso na tv brasileira. É um investigador da polícia de Honolulu, e que agora se encontra na Califórnia.
O romance em questão é literatura policial de mistério, ou detetivesca, de primeira água. Um detetive carismático e um caso que requer dedução profunda e interpretação atenta das pistas.
Uma cantora famosa, Helena Landini, reúne os homens a ela ligados. Luís Romano, maestro de ópera, italiano. Dudley Ward, o primeiro marido; John Ryder, o segundo; o Dr. Frederico Swan, o terceiro (Romano era o quarto) e Hugh Beaton, candidato a quinto. Além disso há o criado chinês, Ah Sing, mais chinês que Charlie Chan e de estranhas atitudes, de quem sabe muita coisa mas não se dispõe a dizer. O jovem Beaton está com sua irmã Leslie. Ainda tem a criada Cecília, um cachorro "Boston terrier" e o aviador Michael Ireland.
Quando a cantora é assassinada o detetive Chan, que estava presente, não tem outro jeito senão investigar, não esquecendo que, havendo quatro maridos e um candidato a quinto, era tudo suspeito de crime passional.
Chan não é um herói físico como James Bond ou Batman, é um detetive cerebral na linha de Sherlock Holmes, Hercule Poirot ou do Inspetor Maigret; então não é de espantar que a única briga no romance, contra um adversário no escuro, seja desastrada:
"Charlie agachou-se junto à parede. As sombras moveram-se em volta, porém a vida de um fósforo pouco dura, e ele estava salvo quando a chama expirou. Salvo, mas não de todo, porquanto o intruso desconhecido vinha agora subindo depressa. Charlis estava por cima, mas era só. Reuniu toda a sua força e atirou-se, tendo tido a maior surpresa de sua vida, pois era simplesmente sobre um gigante que se atirara, um gigante que se mantinha de pé, depois de receber Chan e todo o seu peso nos braços. Logo em seguida o gordo detetive ilhéu estava empenhado em luta, da qual deveria lembrar-se para o resto da vida."
Os métodos de Charlie Chan são heterodoxos e nem sempre ele segue a lei à risca. É fleumático e filósofo e o estilo de Biggers é elegante e agradável. A história vai fluindo com figurinhas humanas originais, cada qual com suas idiossincrasias. O delegado Holt não é dos mais bizarros: um homem da Lei, um legalista, porém sem a capacidade investigativa de Charlie Chan. Ele reconhece isso e deixa campo livre para o chinês. Entre as pistas e indícios que Chan vai ligando está sem dúvida a problemática herança da Landini, é claro.
Um romance policial que dá gosto ler e que merece ser relido.
Rio de Janeiro, 14 de outubro a 5 de novembro de 2024.