O QUINZE, de Rachel de Queiroz

 

Eu já tinha lido muitos textos avulsos de Rachel de Queiroz (como as amtigas crônicas de "O Cruzeiro") mas só este ano pude ler um dos seus livros, este famoso romance de estréia, cujo título se refere à extraordinária seca que flagelou o nordeste brasileiro em 1915.

"O Quinze" - décima quarta edição - Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro-RJ, 1971. Capa e ilustrações: Poty. Prefácio: Adonias Filho. Diversos textos e notas por Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo, Gilberto Amado e Adolfo Casais Monteiro. Coleção Sagarana, 18.

Apesar dos rasgados elogios perpetrados - inclusive neste volume - por intelectuais consagrados, para mim o romance é paulificante, cansativo, com personagens muito artificiais. O caso entre Conceição e Vicente, que nem ocorre, é uma grande bobagem, servida por diálogos tolos.

Por certo "O Quinze" chama a atenção para os dramas dos nordestinos submetidos a uma natureza inclemente e ao descaso de governantes e políticos. Curiosamente, encontrei um personagem chamado Chico Bento, cujo nome, quem sabe, inspirou Maurício de Souza para criar o seu pequeno caipira dos quadrinhos.

Rachel focaliza, pela ótica de Chico Bento, o drama nordestino e especificamente cearense:

"Chico Bento parou. Alongou o olho pelo horizonte cinzento. O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho. (...)

- Ô sorte, meu Deus! Comer cinza até cair de fome!"

O maior mérito da obra é de fato chamar a atenção para as agruras, os sofrimentos da gente do campo, mas campo enfezado e ingrato, que mata o gado pela seca e pela fome, num calvario sem fim e que se repete até os dias de hoje.

 

Rio de Janeiro, 28 a 30 de outubro de 2017.