Stefan Zweig conta 13 histórias reais
Resenha do livro "O momento supremo", de Stefan Zweig. Editora Guanabara, Rio de Janeiro -RJ, sem data. Título original em alemão: "Steren studen das menscheit". Subtítulo: "Treze miniaturas históricas". Sem indicação de tradutor.
Num alentado volume de mais de 250 páginas o célebre autor austríaco, que passou seus últimos anos no Brasil, focaliza fatos esquecidos pela História e que ele considera decisivos para treze diferentes celebridades. Zweig mostra o empenho e a paixão de um verdadeiro historiador e sua obra é valiosa e saborosa.
Neste volume que descobri num sebo de rua (o da Praça Saens Pena) está lançada a dedicatória em letra cursiva, sem dúvida pela pessoa que adquiriu a obra em livraria:
"Ao meu querido maridinho todo o amor de Elvira.
Rio, 4-5-947."
Pena que ela não colocou o nome do presenteado, mas certamente havia amor neste casal.
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Inicialmente Zweig focaliza Napoleão Bonaparte e explica como ele perdeu a batalha de Waterloo. E mesmo tendo lido e assistido muita coisa sobre Napoleão, disso eu nunca ouvira falar. Trata-se da atitude do Marechal Grouchy, do exército napoleônico. O imperador vencera o exército prussiano, que bateu em retirada, e agora preparava-se para enfrentar a tropa inglesa de Wellington. Grouchy é encarregado de perseguir os prussianos, impedindo-os de se unir aos ingleses.
"Grouchy, de uma inteligência medíocre, valente, justo, de toda confiança: um caudilho de valor comprovado, mas nada mais do que um caudilho."
"As ordens de Napoleão são precisas: enquanto ele avança contra os ingleses, Grouchy deve perseguir o exército prussiano encabeçando uma terça parte das forças."
Era a ordem fatal de Napoleão.
Grouchy saíra ao encalço dos prussianos e não os encontrara. Então escutam a distância o troar da artilharia. Sem dúvida começara o duelo entre Napoleão e Wellington. Os oficiais que acompanhavam Grouchy insistem que era preciso voltar atrás e ajudar Napoleão; porém Grouchy, incapaz de tomar uma iniciativa, argumenta que sua ordem era apenas de perseguir os prussianos. E que não viera contra-ordem de Napoleão.
E assim Napoleão perdeu a batalha e o império, pois Grouchy não encontrou os prussianos mas estes conseguiram se juntar aos ingleses. E numa hora decisiva Napoleão não recebeu os reforços necessários, porque Grouchy prosseguia cegamente os prussianos.
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Depois o escritor trata dos momentos decisivos de Goethe, Dostoiévski, J.A. Sutter, o Capitão Scott (explorador da Antártica), da conquista da Constantinopla pelos turcos de Haendel, Cícero, Balboa, Rouget (autor da "Marselhesa"), Cyrus Field, Lenine e Woodrow Wilson, Presidente dos Estados Unidos.
E é surpreendente a riqueza de detalhes que Zweig empresta a esses episódios das dobras esquecidas da História. O estilo é envolvente. Podemos não simpatizar com todas as personalidades focalizadas, porém não se pode negar que Zweig dá vida à História com um talento invulgar. Por exemplo, a história da "Marselhesa" e como Rouget, o seu compositor, era despretensioso e sua composição, que se tornou o hino oficial da França, acabou tendo mais fama (muito mais) que o autor.
Ou então a trágica história de Scott da Antártica - o ousado pioneiro que, com seus companheiros, chegou ao Polo Sul, mas antecedido pelo norueguês Amundsen. E, além de perder a competição, ele e seus parceiros também perderam a vida.
É realmente lamentável que Stefan Zweig, verdadeiro gigante das letras, tenha junto com a esposa tirado a própria vida na cidade de Petrópolis, feridos pela depressão causada pela ascensão do nazismo na Europa. Zweig era judeu e foi acolhido no Brasil, onde era figura estimada.
Se pudesse ter esperado três anos, veria a derrota do nazismo.
Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024.