A serpente de bronze
Resenha do romance policial e de ficção científica "A serpente de bronze", de Ronnie Wells , pseudônimo de Jerônimo Monteiro. Da série "As aventuras de Dick Peter - Mistério - Ficção Científica" volume 9. Edições "O Livreiro" Ltda, São Paulo-SP, sem data.
Comparando-se com os três primeiros volumes desta coleção ("O clube da morte", "A febre verde" e "O enigma do automóvel de prata") este apresentar um clima e ambiente de fato contrastantes. Do ambiente de história detetivesca de New York pulamos para um autêntico romance de aventuras em locais inóspitos e logo derivando para a ficção científica mesmo, abordando o tema da Atlântida e de maneira mais satisfatória que a obra de Denise Reis "Incidente no Caribe" e talvez melhor que "A cidade submarina" de Conan Doyle, novela que, mercê da fama do autor, ressente-se da trama fraca e meio piegas.
Este romance começa de maneira abrupta, como simplesmente a continuação de um enredo anterior, "O tesouro de tio Onek". Vemos Dick Peter e sua amiga Mabel (personagem de "O clube da morte") na cidade do Cabo, África do Sul, prestes a adquirir passagens para retornarem a Nova York - quando simplesmente Dick se arrepende do que está fazendo e resolve permanecer no país para continuar perseguindo a quadrilha do livro anterior e localizar o tal tesouro.
Dessa maneira ocorrem umas cenas que parecem mais o complemento do livro anterior, com troca de tiros com bandidos etc. num cenário africano mal-ajambrado, todo mundo a pé, o personagem Zaroff volta a se reunir com Dick e Mabel... e só então penetramos na ficção científica.
Uma ficção científica que se detem na falácia da possível volta dos atlantes, frequentemente imaginados como seres superiores mas que se perdem pela arrogância (mas também consta ter sido pela prática da magia negra). Uma falha considerável a meu ver é a figura da Mulher da Urna, a herdeira do poder atlante revivida por acaso pelos protagonistas e cujo nome não é sequer declarado. Por que? Por que o trio não lhe indaga o nome? Por outro lado é curiosa a maneira como o herói administra a situação que em princípio parece transcende-lo. Fazendo-se amigo da mulher, mesmo sabendo que ela pretende reativar os bolsões subterrâneos com as hordas congeladas de atlantes... prontos a impor sua vontade ao mundo... Dick deixa o barco correr, só por perceber que não aguentariam a temperatura da superfície, mais fria que no tempo da Atlântida. É um pouco a ideia de "A guerra dos mundos", de H.G. Wells.
Jerônimo Monteiro tem um estilo agradável e na série de Dick Peter consegue um interessante casamento entre o mistério policial, a ficção científica e o romance de aventuras.
Rio de Janeiro, 2 a 5 de agosto de 2006.
Em tempo: quando redigi esta resenha há 18 anos atrás, esqueci de informar que a coleção das aventuras do detetive Dick Peter data do final da década de 1940. Jerônimo Monteiro faleceu em 1970 e foi um dos maiores escritores brasileiros de ficção popular. Seus personagens costumavam ser brasileiros, mas nessa coleção policial ele criou um detetive norte-americano, Dick Peter, e utilizou o pseudônimo de Ronnie Wells naturalmente para vender. Pode ser lamentável mas eu compreendo. Hoje em dia esses livros são raríssimos.