Punição para a inocência ou não?

 

Resenha do romance policial "Punição para a inocência", de Agatha Christie. Editora Record, Rio de Janeiro-RJ, 1987. "Copyright ©️": Agatha Christie Limited, 1958. Título do original inglês: "Ordeal by innocence". Tradução: Bárbara Heliodora.

 

Este romance de Agatha Christie não pertence às suas séries com detetives carismáticos, como o célebre Hercule Poirot e a muito conhecida Miss Marple. Aqui temos personagens ocasionais e uma trama imaginosa.

Um certo Arthur Calgary visita uma família muito estranha numa mansão conhecida como Recanto do Sol. Ele está certo de que vai comunicar algo que alegrará todo mundo: Jack Argyle, condenado há dois anos por assassinar a mãe e morto na prisão, era na verdade inocente. Calgary dera-lhe carona na noite do crime e era o seu álibi; mas perdera a memória, viajara para o pólo e só muito depois se recordara.

Surpreendentemente, a família não gostou de saber. Isso porque se não fosse Jack (considerado um psicopata), quem fôra então? Está, portanto, a suspeita lançada entre os muitos membros da família e agregados.

Há uma coisa que eu não entendo neste e em outros romances. Calgary toca a campainha e a porta é aberta por Hester Argyle, irmã de Jack. Ora, é loucura abrir a porta para desconhecidos. Esse vício acontece também em filmes.

Em todo o caso, Agatha elabora uma curiosa coleção de figuras humanas. Para início de conversa, a matriarca Argyle e seu marido Leo não puderam ter filhos biológicos; todos foram adotados e eram irmãos de criação. Os conflitos íntimos, entre pessoas que se tornaram parentes por acaso, vão aflorando. O namorado de Hester começa a desconfiar dela. Tem a Mary, casada com Philip, que é paralítico, anda em cadeira dw rodas. Philip resolve bisbilhotar, embora ele e Mary já não morassem lá. Tem o Mickey, um revoltado, que talvez matasse a mãe adotiva por não suportar o controle que ela exercia na família. Em suma, tem muita pista falsa e pista real que a autora habilmente espalha, ainda que o desfecho seja um tanto ou quanto pífio.

 

Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2024.