Matadouro 5 - Kurt Vonnegut

MUITO BOM: livro é assim uma espécie de comédia antimilitarista, a mostrar a crueldade e o absurdo das guerras

Kurt Vonnegut - Matadouro 5, Porto Alegre, L&PM, 2005, 224 páginas

É difícil fazer um bom resumo da trama deste livro. O que, de certa forma é positivo, pois evita estragar alguma surpresa que outros leitores possam encontrar em sua leitura. O personagem principal, Billy Pilgrim, é um americano bem de vida e interiorano que viaja no tempo, para outros planetas, e revisita diversos momentos de sua própria vida. Uma hora (ou num parágrafo) ele está em sua casa, noutra pode estar em algum lugar do passado ou do futuro (o livro foi escrito em 1969). O próprio Kurt Vonnegut (1922-2007) abre a história dizendo: "Tudo isto aconteceu, mais ou menos." Entenderam? Mas o livro tem passagens bastante engraçadas e outras que poderíamos chamar de completo humor negro.

Além de viajar no tempo e no espaço, Billy Pilgrim é constantemente abduzido pelos tralfamadorianos, habitantes do planeta Tralfamador. Durante uma abdução, Billy pediu algo para ler, passar o tempo. Sabe-se que os tralfamadorianos possuem cinco milhões de livros terráqueos em microfilmes, mas tinham apenas um livro de verdade em inglês, que seria exposto num museu no planeta. O livro oferecido era o Vale das Bonecas, de Jacqueline Susann! Que, convenhamos, não é lá alta literatura. Para compensar, em outra passagem (capítulo 5, página 109), Rosewater, um amigo de Billy lhe diz que "tudo o que havia para saber a respeito da vida estava em Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievski" Pronto! Ponto para Vonnegut.

A única coisa um pouco desagradável aqui é que a toda hora Vonnegut usa a frase "Coisas da vida." para explicar certos fatos insólitos que ele apresenta ao leitor. Não contei o número de vezes, mas segurante deve passar de cinquenta. E todo mundo dança neste livro, até mesmo Jesus Cristo (juntamente com o pai José, recebendo, aos quinze anos, a encomenda de uma cruz, feita por um soldado romano). Perto do final há um robô com mau hálito, mas que ao vencer seu problema de halitose alcança enorme popularidade entre a população americana.

Quem também leu Sobrevivente (Nova Alexandria, 2003), de Chuck Palahniuk, pode encontrar algumas semelhanças desse livro com Matadouro 5. De certo modo os dois livros dialogam entre si quanto ao humor e as críticas às instituições do sistema capitalista. Mas a narrativa de Vonnegut me pareceu mais ácida e engraçada, ou revolucionária, do que a de Palahniuk. Numa escala de 0 a 5, penso que Matadouro 5 fica bem com uma nota 4,5 e Sobrevivente, com nota 4.