Jenipapo Western - Tito Leite

BOM: E não sobrou quase ninguém para contar o resto dessa história de violência e vingança

Tito Leite - Jenipapo Western, SP, Todavia, 2024, 158 páginas

Jenipapo Western, esse título é curioso. Mistura uma fruta das Américas Central e do Sul, um tanto comum no nordeste brasileiro, com um gênero de filme bastante difundido no cinema desde sua invenção, mas nem tanto hoje.

A capa se assemelha ao cartaz de um faroeste americano dos anos 1950-1960, por aí, passado em Monument Valley, no sudoeste norte-americano e nem um pouco à paisagem do nordeste brasileiro, da caatinga, do sertão.

Porém, com toda a sua vermelhidão a cobri-la, consegue fazer o leitor se lembrar também de algum spaghetti western do diretor Sergio Leone, daqueles bons tempos do vasto e rico cinema italiano.

Naquele tempo, num filme desse gênero, tinha tanto tiroteio e mortes e sangue que a tela do cinema parecia se encher de molho de tomate. E o que não falta em Jenipapo Western são mortes violentas, provocadas por outras mortes que ficam a exigir vingança agora.

E tudo se transforma numa violenta espiral que tinge a terra seca do nordeste de vermelho sanguinolento. É família contra família: Palmares, os ricos e aliados do delegado local, e Trindade, os pobres, que vivem quase que ao deus-dará, cultivando algodão.

São vantagens dessa leitura: a história é curta, os capítulos são curtos, as frases são curtas. E, para combinar, também as vidas são curtas. Quase não sobra ninguém para continuar a história dessas duas famílias que se odeiam, uma explorada e outra exploradora.

Esse ódio todo também lembra um pouco, pelo título, aquele violento e ótimo western de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados... Então o tempo todo é, como diz um personagem, “olho por olho e dente por dente.”

Ódio e violência é assim, uma espécie de ponte entre Tarantino e o livro de Tito Leite e os spaghetti western. Que aqui vira não caju ou cajuína, mas jenipapo.

Penso que o livro atinge seu pico quando o “sonhador” Ivanildo, irmão gêmeo de Sandro, busca vingar não apenas a morte deste, depois também de Gil, outro irmão assassinado pela família que manda na cidadezinha de Jenipapo. (Na sequência a história já não me agradou tanto assim.)

Jenipapo vive da cultura algodoeira, não da criação de gado ou busca por ouro, como ocorreu no Velho Oeste. Não tem saloon com pianola, mas tem o Bar das Calcinhas, “o puteiro de Dora”, como é conhecido o estabelecimento na cidade. E em vez de uísque, toma-se muita cerveja.

É em quase tudo parecida com outra cidadezinha da região, Dilúvio das Almas, que é o título do livro anterior de Tito Leite, muito bom, ótimo mesmo. Mais interessante e com menos personagens do que este Jenipapo Western.