O SOM DO RUGIDO DA ONÇA

Muitas vezes não estamos "prontos" para um livro, isso já ocorreu comigo algumas vezes. Com o atual ganhador do Prêmio Jabuti "O Som do Rugido da Onça", da autora Micheliny Verunschy, Companhia das Letras, ocorreu justamente isso. Percebe-se, desde a primeira página, a qualidade literária, já comprovada por críticos, presente no livro, porém algo não "bate" em você, não te "amarra", não te seduz, não te encanta.

O enredo do romance é genial, parte de um acontecimento tragicamente verdadeiro, o rapto (que se pode chamar de assassinato) de duas crianças indígenas por dois cientistas naturalistas alemães, no século XIX. A partir desse acontecimento, a autora, que também é historiadora, recria essa história, com muito lirismo e fantasia.

O grande problema é a forma que isso se dá, o trabalho com a linguagem, que talvez para alguns possa ser o ponto forte, contudo para mim posso afirmar que me distanciou da história, sobretudo na terceira e última parte do livro. Em suma, quando acreditei que o enredo iria me envolver, ele me distanciou de vez.

Estou bastante acostumado com autores que fazem da linguagem sua protagonista, amo ler Mia Couto (embora saiba que preciso de pausas em Mia), mas no premiado livro em questão foi difícil continuar. Também destaco o esvaziamento que senti em relação à personagem Josefa, que seria um paralelo contextual com o nosso tempo, a personagem que redescobre, ou ressignifica para usar essa palavra que está mais na moda, sua origem indígena. Percebo um abandono dessa personagem, que para mim funcionaria como um porto seguro na leitura.

O vai-e-vém do narrador também é algo que desnorteia o leitor, prejudicando a compreensão dos fatos que se desenrolam. Enfim, cheguei a última página com uma sensação de dever cumprido, o que para mim é péssimo, pois a leitura sempre é algo inacabado, inconcluso, que você deseja continuar e se deixar levar.

Para os leitores interessados em um enredo com facetas históricas e na temática em questão, desejo paciência e uma leitura sem pressa, com uma grande disposição para experienciar uma obra que esbarra em um intelectualismo cansativo, mas que pode proporcionar algumas surpresas.