O último judeu - Noah Gordon

ÓTIMO: uma história de terror na Inquisição que vai muito além da simples literatura de entretenimento

Noah Gordon - O ultimo judeu, RJ, Rocco, 2000, 384 páginas

O escritor norte-americano Noah Gordon (1926-2021) é conhecido mundo afora principalmente por O Físico (que talvez ficasse melhor com o título de O Médico), best seller absoluto desde seu lançamento em 1986.

Mas o primeiro livro dele que li foi justamente este, O Último Judeu. Da mesma forma que ocorreu com O Físico depois, desde as páginas iniciais fiquei certo de que a história de Yonah Toledano prometia muito. Não me enganei.

Espanha, 1492: a Inquisição persegue, tortura e mata em nome de Deus. Depois de ter o irmão mais velho e o pai mortos, o jovem judeu Yonah Toledano sabe que não pode permanecer em Castela e cair nas mãos de Bonestruca, o frei com cara de anjo e coração cheio de fel e ódio. Também seria morto, certamente.

Então acompanhamos com intenso interesse o desenrolar de sua luta, seus poucos momentos de paz e os muitos perigos que enfrenta nessa odisseia para permanecer vivo e fiel a sua crença, apesar das muitas tentações que surgem em seu caminho.

Ele vai trabalhar na terra como peão, num calabouço como servente, será pastor de ovelhas nas montanhas da Andaluzia, marujo, aprendiz de armeiro, polidor de armaduras, tradutor de texto hebraico proibido, médico e cirurgião. Adquire, assim, a experiência e a capacidade de tentar permanecer vivo até o final da história. Conseguirá?

Leitura empolgante, escrita em linguagem clara, com pano de fundo histórico muito bem apresentado. Conhecemos, entre outras coisas, um pouco melhor Isabel, a Católica, a rainha que financiou a empreitada de Colombo rumo à América.

Isabel não era nada piedosa quando se tratava da religião dos outros, claro. Então temos muita ação e uma boa dose de suspense o tempo todo - afinal, o subtítulo brasileiro do livro é Uma História de Terror na Inquisição, não é mesmo?

São capítulos curtos, dificilmente ultrapassando dez páginas, leitura que flui velozmente, sempre com uma informação histórica ou sociológica interessante aqui e ali. E para isso o autor pesquisou e consultou especialistas no período; nem tudo é fruto de sua imaginação.

São quatro páginas de agradecimentos às pessoas que o ajudaram, notadamente especialistas em Inquisição, Igreja Católica e Judaísmo. Noah Gordon (ele mesmo descendente de judeus) jamais deixa a história de Yonah Toledano perder o interesse e vai ganhando a admiração do leitor a cada capítulo lido.

São perdoáveis algumas coincidências que ocorrem durante o desenrolar da história. Explico: Yonah está sempre encontrando alguém que conheceu no passado, que o ajudou ou prejudicou a ele ou sua família etc. Sim, ele encontra novamente o terrível frei Bonestruca, mais devasso ainda agora, e também seu comparsa, o terrível conde Vasca.

Mas isso, coincidências, é um recurso que até o grande Charles Dickens usava abundantemente em seus livros, notadamente em Grandes Esperanças.

Enfim, O Último Judeu é uma história que vai além da simples literatura de entretenimento, pois é bastante informativa a respeito da questão judaica e católica na Europa do século XV, principalmente. E que deixa você com vontade de ler outros livros de Noah Gordon, não apenas O Físico, se ainda não o leu.