A amiga genial - Elena Ferrante

Eleito pelo New York Times, entre cem obras publicadas a partir dos anos 2000, o melhor livro do século XXI até o momento

Elena Ferrante – A amiga genial, SP, Biblioteca Azul, 2015, 336 páginas

Tempos atrás vi um conhecido filme italiano de 1954, dirigido por Vittorio de Sica, O Ouro de Nápoles, e a certa altura alguém diz que na verdade o precioso metal de lá é sua gente, os napolitanos. Generosos ou amáveis também podem ser maldosos ou detestáveis à sua maneira, como De Sica nos mostra em seis episódios do filme.

Muita coisa disso, o jeito napolitano de ser – gente falando alto, brigas entre vizinhos, ruas sujas e malcheirosas, roupas dependuradas à vista de todos, certa violência envolvendo jovens, mafiosos etc. – estão presentes no livro de Elena Ferrante, passado a maior parte do tempo justamente nos anos 1950 e inícios dos sessenta.

Não que o livro seja um estudo antropológico ou sociológico de um bairro popular da famosa cidade meridional daquele tempo. Mas quem já esteve em Nápoles – e eu estive antes de ler o livro e de ver o filme de De Sica – vai ver que muita coisa retratada em O Ouro de Nápoles ou no livro de Elena Ferrante, certos costumes, jeito de viver, modo de pensar etc., estão ainda presentes na vida cotidiana dos seus habitantes.

Em linhas gerais, A Amiga Genial é basicamente sobre a infância e adolescência de Elena Greco, sua grande amiga Lila Cerullo e alguns membros de outras famílias do bairro. Vale pois a pena lê-lo por outros motivos, os literários? O livro prende nossa atenção, as histórias contadas pela personagem Elena interessam? E para ser mais direto ainda: ele vale o preço que pagamos e o tempo de leitura que lhe dedicamos?

A resposta é sim, ainda que nada de extraordinário ocorra em suas mais de suas trezentas páginas e nenhum de seus personagens - neste primeiro volume da tetralogia - seja notável, inesquecível. Mas tudo é muito bem escrito, narrado, que por vezes me senti como se estivesse lendo alguma obra de Alberto Moravia, um dos melhores autores italianos que já li. E isso não é pouco, convenhamos.

De todo modo, voltando ao New York Times, eu poderia citar, da mesma lista, entre sete e dez livros que são tão bons quanto o de Ferrante. Ou até mais interessantes, caso dos seguintes:

As correções, de Jonathan Franzen, Companhia das Letras;

Não me abandone jamais, de Kazuo Ishiguro, Companhia das Letras;

Gilead, de Marilynne Robinson, Nova Fronteira;

A fantástica vida breve de Oscar Wao, de Junot Díaz, Record;

A estrada, de Cormac McCarthy, Alfaguara;

Lincoln no limbo, de George Saunders, Companhia das Letras;

Reparação, de Ian McEwan, Companhia das Letras.