O alienista - Machado de Assis

Machado de Assis - O alienista, Porto Alegre, L&PM, 2018, 96 páginas

Grande parte dos especialistas em literatura brasileira classifica O Alienista (1882) como um conto um pouco mais longo do que os muitos que Machado de Assis (1839-1908) escreveu durante sua fértil carreira de contista, não apenas de romancista. O que também faz com que haja leitores que chamem a história do médico de Itaguaí, Rio de Janeiro, Simão Bacamarte, seu personagem-título, de uma pequena novela, dada sua extensão. Num caso ou noutro, importa que esse não é um simples conto, mas um dos textos mais interessantes de Machado, que pode ser colocado ao lado de outras grandes obras suas.

Tais obras seriam, entre outras, incluindo algumas antologias de seus contos, as seguintes: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). Esses cinco romances são comumente listados como aqueles de leitura fundamental para alguém que quisesse conhecer o que de melhor Machado escreveu. Juntamente com O Alienista, claro, narrativa que suscita questões como: Quem é louco, quem é são? De médico e de louco todos temos um pouco? (Aí pensamos exatamente em Bacamarte.) Ou ainda, como disse Caetano Veloso, De perto ninguém é normal. Mesmo?

Mesmo não sendo personagem de um romance, Simão Bacamarte tornou-se um tipo bastante conhecido na literatura brasileira, tanto quanto os demais criados por Machado como Brás Cubas, Bentinho, Capitu, Rubião etc. Ganhou estatura semelhante a eles e a mesma importância de personagens de outros autores, como Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, Macunaíma, de Mário de Andrade, Riobaldo, de João Guimarães Rosa, capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo, Gabriela, de Jorge Amado, Macabéa, de Clarice Lispector e tantos outros.

Como a história de O Alienista é bastante conhecida de todos que costumam ler bons livros de nossa literatura, então melhor escrever um pouco sobre essa edição da L&PM (Porto Alegre, 2019), que traz, além de uma pequena cronologia e biografia de Machado, um retrato da vida cotidiana da época em que ele viveu, trabalho do professor de literatura brasileira da UFRGS, Luis Augusto Fischer. Intitula-se “Panorama do Rio de Janeiro: alguns elementos para compreender o mundo de Machado de Assis”, texto bastante acessível e interessante, muito útil como complemento de leitura.

Depois disso o passo seguinte é ler ou fazer uma releitura de O Alienista, que foi o meu caso nesses dias, um novo mergulho num texto sempre prazeroso, uma história recheada de ironia, crítica, humor e criatividade. Além do mais já se passou um bocado de tempo desde a primeira leitura, muitos anos atrás, tempos de vestibular. Ao fim, fiquei com vontade de ler (ou reler) mais Machado de Assis, claro. Quem não ficaria?