O albergue do anjo da guarda
Resenha do romance infantil "A Casa do Anjo da Guarda", pela Condessa de Segur. Editora do Brasil S.A., segunda edição, sem data. Adaptação de Virginia Lefevre. Ilustrações de Maria Heloisa Penteado.
Minha mãe costumava falar em um livro que ela gostaria de ler, ou reler: "A casa do anjo da guarda", pela célebre autora das "Memórias de um burro". Concluí que era a mesma obra, que pode ter sido publicada no Brasil em edições com títulos diferentes. Assim, pude comprar num sebo e dar para mamãe.
Chamada Sophie Feodorovna Rostopchine, era russa mas sua família, por motivos políticos, estabeleceu-se na França em 1817; Sophie tornou-se condessa casando-se em 1819 com o Conde Eugene Segur. Embora tenha começado tarde a escrever, a Condessa de Segur deixou obra volumosa, sendo que "L'auberge de l'ange gardien" (como se vê, é mais correta a tradução "O albergue do anjo da guarda", embora também se possa traduzir como "A pousada do anjo da guarda") teve seu lançamento em 1863. Já em 1856 ela lançara "Nouveaux contes de fées" (Novos contos de fadas).
A novela é bastante ingênua embora fale em problemas sociais difíceis. Um soldado, Moutier, encontra na estrada, cheios de fome, frio e cansaço, dois irmãos ainda crianças, Jacques e Paulo, que se achavam perdidos, sem lar nem nada. A mãe morrera após longa enfermidade; o pai fora levado por soldados, e os meninos não sabiam bem porque. Compadecido, Moutier, que andava acompanhado pelo cachorro Capitão, acaba deixando os meninos numa pensão da Sra. Blidot, viúva (26 anos) e sua irmã Elfy (17 anos). Entram em cena um general russo, um pároco, um menino órfão que trabalhava como escravo em outra hospedaria, e o pai dos irmãos, que reaparece anos depois, já que não sabia onde quase crianças se encontravam.
O final tende a ser muito cor-de-rosa, com dois casamentos, prosperidade econômica, as crianças felizes.
Detalhe curioso é a generosidade do General Dourakine. Em tese ele era prisioneiro de guerra de Moutier, que o havia capturado ferido, numa guerra entre a França e a Rússia (a guerra napoleônica? não há muito esclarecimento histórico); mas na prática movia-se livremente. Um hoteleiro ruim - que escravizava o menino Pedro - sequestra o general com olho em seu dinheiro, mas é preso por Moutier.
O general, agradecido, passa a se dedicar a Moutier, às mulheres da Casa do Anjo da Guarda (como o local era conhecido) e aos irmãos Jacques e Paulo. Mas o que espanta é que os recursos do general parecem não ter fim, pois, além de financiar os dois casamentos, ainda compra um imóvel e pratica outras generosidades espantosas, com a maior facilidade. Que general rico!
Na verdade sem esse general, que inclusive banca o cupido entre Elfy e Moutier, entre Derigny (o pai dos garotos) e Blidot.
O livro termina com a promessa de outro livro contando as aventuras do general e do casal Derigny que, com os dois meninos, acompanhou Dourakine em sua viagem à Rússia.
Leitura divertida e boa para crianças de certa idade, digamos, oito anos para cima.
Rio de Janeiro, 4 a 7 de junho de 2024.