O poeta de olhar sombrio
Resenha do livro "Vida e poesia", de Maiakóvski. Editora Martin Claret, São Paulo-SP, 2006. Coleção A obra-prima de cada autor, 248. Capa: Marcelhin Talbot. Tradução: Jean Melville, Emílio C. Greene e Daniel Fresnot. Introdução de Francis Combes, traduzida por Sebastião Paz.
Coletânea bem caprichada do poeta russo Vladimir Maiakóvski, um adepto do comunismo, que exaltou em suas letras. Poeta de inegável talento, embora hipnotizado pela ideologia de ódio e intolerância do marxismo, impressiona o seu semblante assinistrado, o seu olhar turvo bem mostrado nas fotografias.
Sua poesia ideológica está bem clara, por exemplo, no poema "À esquerda!":
"A comuna está em marcha
e manterá a vitória!
À esquerda, à esquerda, à esquerda! (...)
Camaradas, nós somos um rochedo de granito.
Os bandidos da entente se arremessam contra ele.
Mas nada abaterá a Rússia Soviética.
À esquerda, à esquerda, à esquerda!"
Apesar dessa postura revolucionária ele tinha sentimentos de amor, em meio a uma vida tumultuada. Encontramos versos que falam de amor, ainda que de maneira bizarra. Em 'Impossivel":
"Sozinho não posso
carregar um piano
menos ainda um cofre-forte.
Como poderia então
retomar de ti meu coração
carrega-lo de volta?"
O volume incluir cartas de amor de Maiakóvski a certa Lilia Brik, que escreveu um prólogo para essa correspondência. Não foi uma união regular, ela inclusive casou com outro homem. Porém Maiakóvski escrevia a ela com frequência. Vejam nesta carta de 25/9/2017:
"Beijo-vos no início da carta e não no fim, como de costume, por impaciência."
Em 14 de abril de 1930, com menos de 37 anos, Maiakóvski suicidou-se com um tiro no coração. As explicações contidas no volume dificilmente explicam o gesto tresloucado, a não ser pela própria essência do pensamento ateu, que nega valor à vida humana, considerada fruto do acaso.
É sempre triste e deplorável o suicídio e, infelizmente, diversos escritores famosos optaram por tal falsa solução.
Rio de Janeiro, 11 de julho de 2024.