O gato sou eu - Fernando Sabino
Histórias leves e engraçadas narradas com maestria por um de nossos melhores autores de textos curtos
Fernando Sabino - O gato sou eu, RJ, Record, 1983, 199 páginas
São 42 crônicas de Fernando Sabino (1923-2004) a maioria delas escritas nos anos 1950 e 1960, passadas sobretudo no Rio de Janeiro, uma ou outra em Londres e várias delas em Nova York, onde ficou dois anos como funcionário do escritório comercial do Brasil e do consulado brasileiro na cidade.
Autor de romances, histórias curtas, contos e crônicas, neste volume Sabino escreve sobre personagens anônimos (um policial, um taxista, um mecânico espertalhão, um casal de idosos etc.), pequenos acontecimentos, alguns sustos (como um incêndio no navio que o traria de volta do Brasil partindo de Nova York) e até mesmo trapalhadas em que se meteu por conta própria, coisas assim.
Narra tudo isso sempre com certa graça e humor, daí que grande parte dessas crônicas cativa o leitor, umas mais outras menos, estas porque se não envelheceram, perderam um pouco seu colorido. Mas nenhuma delas vai aborrecê-lo, isso é certo. Não sei se tudo o que ele conta aconteceu de fato consigo mesmo ou com outros personagens, mas isso não importa. Excepcionalmente, ele contracena com Fidel Castro e o ator Broderick Crawford e quase entrevistou Hemingway.
Gostei especialmente de uma história, O Que Faz Um Escritor, em que Sabino conta sobre uma entrevista que deu para uma estagiária de um jornal do Rio. A moça não conhece direito os escritores e muito pouco literatura, diz que o autor de Cem Anos de Solidão é um marquês, quando se trata de Márquez, Gabriel Garcia. Na ocasião, Sabino e Rubem Braga haviam editado o best seller do colombiano no Brasil, por recomendação de Pablo Neruda. Ela então pergunta, “Quem é esse?” E por aí vai. É uma história hilária, vale a pena conhecer.
Outra muito boa, que beira o nonsense é De Obsessão em Obceção, assim mesmo, uma história passada numa livraria em que Sabino acaba entrando depois de ter comprado um livro em outra livraria e está a carregá-lo debaixo do braço, despertando nos vendedores certa suspeita, de que ele seja um ladrão de livros. O final é muito, muito engraçado mesmo. Destaquei apenas essas duas, que me pareceram as melhores, mas com as restantes quarenta também é possível divertir-se bastante com sua leitura.